Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

CASA ANTIGA


Casa do senhor Antônio Zacarias da Silva (Nhô Zaca), que se localizava no Bairro do Portão, mais precisamente onde hoje é o estacionamento do Supermercado Extra. Atrás da casa está o morro do Jardim Coimbra, e a mata que se vê começou a ser derrubada com maior intensidade na época da Segunda Guerra Mundial, pois a lenha era usada para abastecer as caldeiras das indústrias em São Paulo. Outra informação interessante é que na casa do Nhô Zaca funcionava um entreposto comercial. Os tropeiros com destino a Sorocaba e ao Sul do país praticavam ali a compra e a troca de mercadorias, e também descansavam para seguir até seus destinos. O senhor Antônio Zacarias da Silva nasceu em Ibiuna, em 1873, e chegou com a família em Cotia no ano de 1920.
Foto do arquivo pessoal de Eliana Silva, neta do senhor Zacarias.


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

"CAMINHOS E DESCAMINHOS DA EDUCAÇÃO EM COTIA"

Nós poderíamos escrever muitos textos que apresentassem os descaminhos da educação em Cotia, mas ao assumirmos a Secretaria de Educação, optamos em colocar o projeto que elaboramos em prática. É comum, no poder público, criticar o que o outro não fez, o que às vezes se torna um muro de lamentações. Com o diagnóstico que fizemos anteriormente, nós sabíamos o que não havia sido feito, mas também sabíamos o que deveríamos fazer. Talvez a primeira dificuldade que encontramos no início tenha sido nos depararmos com a falta de credibilidade dos profissionais da educação em relação aos compromissos que tínhamos assumido, o que tinha razão de ser. Por isso nossas decisões foram rápidas no sentido de mostrar que tudo poderia ser diferente e que todos estavam convidados a construir uma escola que atendesse a todos os anseios. Enfrentamos uma greve, mas aos poucos, com o plano de política de atuação, as coisas foram melhorando.

Nossa política de atuação se baseou nos temas a seguir:


DESCENTRALIZAÇÃO:

Nos âmbitos administrativo e financeiro com a redefinição de organogramas, ênfase na correta atribuição do supervisor e a destinação de verbas para as escolas, de maneira que proporcionem solução imediata para pequenos problemas.


VALORIZAÇÃO E RECONHECIMENTO:

Todos os profissionais envolvidos na educação (apoio administrativo, professores, coordenadores, vice-diretores, diretores, supervisores) devem ter acesso à atualização e capacitação profissional. Apoio à livre associação em entidade própria para a defesa de seus direitos e interesses. Estudos apontavam a necessidade da construção de um Plano de Carreira, com a participação do magistério.


PARTICIPAÇÃO DA COMUNIDADE:

Esta participação deve efetivar-se através do Conselho Municipal de Educação, Conselho da Merenda, do FUNDEF, dos Conselhos de Escola, das APM’s, do Conselho Tutelar, bem como no apoio às ações desencadeadas pelas escolas.

Destacou-se a importância de integrar os pais nas atividades, nos problemas, nas tentativas de solução, e principalmente, na valorização da sua participação, para que considerassem o bom funcionamento da escola um elemento facilitador na construção do futuro de seus filhos.

Avaliação para manutenção, rompimento ou ampliação de parcerias com ONG’s e entidades jurídicas, de reconhecida seriedade.


RELACIONAMENTO COM A CÂMARA MUNICIPAL E PREFEITURA:

Os poderes constituídos são imprescindíveis dentro de uma sociedade democrática, na proposição de leis e na ampliação de verbas que elevam a qualidade da ação educativa. O bom relacionamento com os poderes Executivo e Legislativo facilita a implantação dos estudos de concessão de bolsas de estudos para os professores que cursarem o Ensino Superior, chegando até a 50% da mensalidade. O mesmo se dá com a proposta de ajuda de custo a frequência dos profissionais nos cursos de atualização.


Essa política de atuação sendo colocada em prática paulatinamente, tinha como objetivo criar um espírito de segurança para os profissionais da educação. Uma ação importante para isso foi o trabalho da Secretaria de Finanças em garantir o pagamento dos salários em dia e o pagamento do 13º salário, que antes não era pago. Uma outra medida fundamental foi colocar fim às perseguições políticas, criando critérios de atribuição de classes e aulas.

sábado, 29 de janeiro de 2011

ANTIGA ESCOLA ZACARIAS ANTONIO DA SILVA (1959-1979)

(Atual E. E. Pedro Casemiro Leite)

Recebi esta foto da amiga Eliana Silva, que ilustra o dia da inauguração da Escola Zacarias Antonio da Silva, que funcionou com este nome até 1979. A partir desta data passou a chamar-se Escola Pedro Casemiro Leite.
Nas conversas que tive sobre a história de Cotia com D. Irene Lemos Leite Silva, mãe da Elinana, ela me contou que teve de estudar em uma escola próxima ao Campo de Marte, em São Paulo, pois aqui não tinha como terminar os estudos. Vemos assim a importância desta inauguração para a cidade.
Quero convidar os moradores antigos e novos do Bairro do Portão a identificarem as pessoas que participaram da solenidade deste dia.




Bilhete da Eliana:
Marcos,
Esta foto descobri recentemente. Parte deste povo que estava na inauguração do antigo Zacarias é de familiares e da comunidade do Portão. Até o Pedro Casemiro está nesta foto. Raríssima.




terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A VIOLÊNCIA NA ESCOLA É CULPA DE QUEM?


Apesar de toda modernidade tecnológica e mudanças de valores a cada segundo, há certas coisas que acontecem no cotidiano que, apesar de todo este avanço, ainda assustam muito. E às vezes perplexos, paramos para pensar em que mundo estamos vivendo! Outro dia acompanhei pela imprensa uma briga de gangues dentro de uma escola pública, que teve um final muito triste. Alunos, funcionários e professores foram agredidos e a escola parcialmente destruída. Seriam rebeldes sem causa? Este e outros atos de vandalismo que a cada dia vêm aparecendo com frequência são inaceitáveis dentro de um espaço sagrado como a escola. Assim penso! Além de ser inaceitável qualquer tipo de violência dentro de uma escola, esta  prática não é aceitável em lugar nenhum do mundo. Pasme! Violência não é apenas um enredo de escola pública. A violência em escola particular não é tão diferente da escola pública. Talvez um pouco mais velada. O que fazer? De quem é a culpa? A quem culpar?
Analisar a violência nas escolas apenas do ponto de vista da culpa é um grande erro. Ao analisar assim, a soma de tudo sempre sobra para o mais fraco. Mas quem é o mais fraco nesta história? Ninguém! Todos os envolvidos no processo de educar são responsáveis pelas relações na escola, sejam elas boas ou ruins. Vamos à experiência: porque tem escolas,  uma perto da outra, com resultados pedagógicos diferentes? Há escolas com os mesmos recursos pedagógicos e condições de trabalho idênticos:  uma escola funciona “meia boca” e a outra dá resultados positivos. Porque? Desta forma parece que achamos um culpado? A escola. Não é bem assim! Devemos analisar esta questão com profundidade e levar em consideração todos envolvidos com o ambiente escolar.
Às vezes falta um projeto educacional consistente. E às vezes falta compromisso do grupo com este projeto. Não existe mais espaço para projetos de gaveta. O pior de tudo é quando falta um projeto educacional de governo. E como falta! Discute-se sobre quase tudo na escola menos sobre o aluno. Simples, né? Não é tão simples como parece! Vamos à experiência: nas vezes que participei de discussões sobre violência no espaço escolar, no final as conclusões são quase  sempre as mesmas: o aluno é o grande culpado. E as ações no sentido de resolver são lamentáveis. Para a violência que vem de fora da escola é mais fácil levantar muros monstruosos e grades que deixam aquela aparência de cadeia, do que entender sociológica e pedagógicamente o problema. A solução da violência interna é criar disciplinas e regras que normalmente não funcionam. E aí fica aquela coisa nebulosa: vamos fazer de conta que resolvemos com as normas e a disciplina, e o resto da turma faz de conta que está tudo bem. Não é bem assim! Vamos aprofundar um pouco mais está questão? E o papel dos pais neste processo de ensino e aprendizagem?
A escola é uma instituição isolada da sociedade? Não! Agora melhorou! A análise deve ser feita com todos os que formam este contexto do espaço  escolar. Educadores, pais, funcionários, voluntários, e todos aqueles  que estão envolvidos com  a escola. O que precisa acontecer de fato é que cada um assuma o seu papel. O professor tem que ser professor! O pai tem que ser pai! E o poder público também tem que cumprir seu papel. Não podemos ficar transferindo a batata quente um para o outro. Assim sendo, talvez possamos começar a entender porque tanta violência na sociedade  tem resvalado dentro da escola.
Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

UM ATO POLÍTICO DE CORAGEM



“Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados.”
(Vinícius de Moraes)


É muito bom voltar ao passado e trazer lembranças positivas daquilo que fizemos durante a vida. Esse verso de Vinícius é o mote que nos remete a uma proposta de educação que se tornou, com o tempo, um paradigma para a cidade de Cotia.

Com a eleição de 2000, o prefeito eleito tomou uma atitude que poucos homens públicos teriam coragem de tomar: lançou uma eleição para o cargo de Secretário de Educação. Na época, lembro-me que três correntes de pensamento discutiam sobre essa eleição. O primeiro grupo, com certo ceticismo, acreditava que essa eleição não existiria, e que teria sido apenas uma jogada de marketing no período de campanha. Um outro grupo acreditava na eleição e não participou porque achava que seria um jogo de cartas marcadas. A terceira linha de pensamento acreditava nas eleições, que elas ocorreriam, e partiu para a organização de um projeto educacional para a cidade. É aqui que eu começo a contar um pouquinho da história deste grupo, que durante oito meses se reuniu na casa da Professora Satie, ou melhor, na cozinha da Satie, onde discutiu e montou um plano de atuação para estruturar o projeto.

Durante esse período, convidei alguns educadores das redes públicas estadual e municipal da cidade, com suas formações específicas, para viajar nesse sonho. A recepção de alguns desses educadores foi positiva e produtiva. Começamos a levantar dados sobre a rede municipal de ensino e a decidir as diretrizes que embasariam o nosso trabalho. E dividimos assim: princípios, política de atuação, supervisão pedagógica, projeto pedagógico, educação infantil, ensino fundamental, educação de jovens e adultos e educação especial.

O passo seguinte foi visitar as escolas e discutir o que pretendíamos, mas principalmente, ouvir o que os educadores tinham para dizer e como gostariam que a educação em Cotia se encaminhasse. Após tabular os resultados, observamos que a maior preocupação apontada referia-se à centralização que existia na Secretaria de Educação, que levava a ações políticas educacionais injustas e conflituosas. A partir disto, o que norteou as discussões foi a palavra “descentralização”.

O objetivo deste artigo é contar um pouco da história desse momento singular na educação de Cotia, e reproduzir o que elaboramos, começando com as considerações de como estava a rede municipal de ensino naquele momento.* É bom lembrar que os dados são oficiais.



CONSIDERAÇÕES SOBRE A REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE COTIA


Nestes últimos quatro anos (1997-2000), presenciamos em Cotia a rápida e forte expansão do Ensino Fundamental na Rede Municipal, fato este consequente do Programa de Municipalização do Ensino. Na verdade, este processo atendeu às tendências apontadas pela L.D.B. Esperava-se que simultaneamente ao crescimento numérico, medidas básicas fossem implementadas para garantir o sucesso do processo. No entanto, algumas situações não alteradas frente a esta nova realidade de agigantamento da rede, determinaram a estagnação do avanço qualitativo na Educação do Município. Com o passar do tempo vários mecanismos foram desvirtuados, ou simplesmente deixaram de existir, comprometendo:
  • definição da política educacional
  • definição de propostas pedagógicas
  • planejamento
  • definição de metas
  • definição de prioridades
  • comunicação
  • acompanhamento das ações propostas
  • compra e distribuição de material em geral
  • compra e distribuição de merenda escolar
  • manutenção física dos prédios existentes
  • construção de novas escolas
  • ampliação de escolas
  • recrutamento e movimentação dos recursos humanos.

Sabemos que o desrespeito ao tempo necessário para a reflexão e assimilação de uma nova realidade potencializou o processo desagregador.

Ao analisarmos os quadros com números de alunos e classes em 30/09/2000 e 20/02/2001 (consolidados), notamos que houve expansão de 8,4% da Educação Infantil, 30,7% do Ciclo I do Ensino Fundamental, 22,4% do Ciclo II do Ensino Fundamental e diminuição de 22,8% do Ensino Supletivo. Constatamos que a expansão do Ensino Fundamental, em detrimento da Educação Infantil resultou em extinção de classes deste setor, acarretando em prejuízo no atendimento às crianças de 0 a 6 anos. Será necessária a realização de estudos que projetem utilização racional dos recursos humanos e físicos existentes para que estas dificuldades sejam superadas.




A REALIDADE DA EDUCAÇÃO EM COTIA ATRAVÉS DE DADOS ESTATÍSTICOS


Educação Infantil


NÍVEIS
BERÇÁRIO
MATERNAL I
MATERNAL II
JARDIM I
JARDIM II
PRÉ
TOTAL
CLASSES/ALUNOS
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL















CONSOLIDADO
30/09/2000
114
3.162
110
3.085
224
6.247
CONSOLIDADO
20/02/2001
10
143
226
28
322
637
94
1.846
111
3.166
243
6.340













+ 8,4%
TOTAL DE CLASSES (EXCETO PRÉ)
132

TOTAL DE ALUNOS (EXCETO PRÉ)
3.174









Ensino Fundamental Ciclo I



NÍVEL
ENSINO FUNDAMENTAL CICLO I
TOTAL
SÉRIES

CLASSES/ALUNOS
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CONSOLIDADO
30/09/2000
99
3.204
94
2.954
82
2.718
57
1.789
332
10.665
CONSOLIDADO
20/02/2001
138
3.670
104
3.208
103
3.131
89
2.903
434
12.912









+ 30,7%






Ensino Fundamental Ciclo II



NÍVEL
ENSINO FUNDAMENTAL CICLO II
TOTAL
SÉRIES

CLASSES/ALUNOS
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CONSOLIDADO
30/09/2000
23
827
18
612
10
391
07
296
58
2.126
CONSOLIDADO
20/02/2001
22
742
22
778
18
601
09
287
71
2.408









+ 22,4%






Ensino Supletivo (Educação de Jovens e Adultos)



NÍVEIS
SUPLÊNCIA I
TELECURSO
TOTAL

TERMO I
TERMO II


CLASSES/ALUNOS
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CONSOLIDADO
30/09/2000
23
561
31
742
16
410
70
1.713
CONSOLIDADO
20/02/2001
22
560
23
719
09
385
54
1.664







− 22,8%

Os dados de aprovação, retenção e evasão vêm nos mostrar coerência com o princípio da promoção automática, confundida com a progressão continuada. Isto nos revela a necessidade de se realizar um diagnóstico que será parâmetro para as novas formas de avaliação do rendimento.






Ensino Fundamental


Taxa de aprovação
97,71%
Taxa de evasão
1,13%
Taxa de retenção
1,16%






Educação de Jovens e Adultos


Taxa de aprovação
59%
Taxa de evasão
26%
Taxa de retenção
15%



* Artigo constante de jornal publicado em 2001, contendo o Projeto Educacional para a Rede Municipal de Cotia. Administração do Prefeito Joaquim Horácio Pedroso Neto – 2001/2004 e 2005/2008.



Professor Marcos Roberto Bueno Martinez