Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

OS PROTETORES DA FREGUESIA DE COTIA


INTRODUÇÃO

Conheço muita gente que olha para a História como coisa antiga e velha e que não merece ser estudada e nem lembrada. É comum ouvirmos frases que não deveriam ser escritas e nem pronunciadas: “― Essas coisas antigas não servem para nada.”; “― O que tem a ver estas coisas de museu com o presente?”; “― Quem gosta de coisa velha é museu.” As pérolas ditas são muitas e desqualificam qualquer análise séria sobre a História. Por outro lado, conheço muita gente que sabe o valor da pesquisa sobre as sociedades e o quanto é importante investigá-las. Os textos escritos pelo Padre Daniel Balzan sobre Cotia são valiosos no sentido de estabelecer que papel a Freguesia de Cotia teve no contexto do Brasil colonial.

No estudo Os Protetores Da Freguesia de Cotia, Padre Daniel, através de documentos da igreja, vai nos revelando aqueles que mandavam em Cotia neste período. Mostra Cotia a partir da inauguração da igreja Nossa Senhora do Mont Serrat, deixando aberta uma porta de onde percebemos que antes da inauguração existia um outro núcleo de moradores. Ora, este passado é valioso para entendemos o presente da cidade e até sonharmos com o futuro. Este texto responde a perguntas como quem fundou Cotia, quando nasceu a cidade, e deixa muito claro que a vida não é segmentada. Leia com carinho!

Prof. Marcos Roberto Bueno Martinez.

   

OS PROTETORES DA FREGUESIA DE COTIA

Na ata da inauguração da Matriz de Nossa Senhora de Monte Serrat, o Pe. Matheus de Laya Leão escreve o seguinte:

“Matheus de Laya Leão capelão curado pelo Imo.Sr.Dom.Francisco de São Jerônimo, tomei posse dessa Capela de Nossa Senhora de Monte Serrat, mudada para este lugar de parte deserta para a conveniência dos moradores e fregueses da dita Capela que sempre foram, e nesta me fez entrega um dos protetores mais devoto e zeloso Estevão Lopes de Camargo, toda a fábrica nova da dita Igreja, exceto a antiga, que a levou o protetor antigo Antônio  Vieira Tavares para a Vila de Itú, por ordem do Rev. Visitador Manoel da Costa Cordeiro (como constava in scriptos), e só ficou a imagem com sua casa despida; e como tal me entregou o protetor tudo novo da sua custa, e de algumas esmolas dos devotos que assim o pediram com ânimo de sustentarem capelão com seu ordenado para bem de suas almas por estarem em parte remota, e de toda a dita fábrica faço aqui assento neste presente local, para que conste assim destas coisas que tenho recebido, como das mais que à dita Igreja competem, que aqui farão assento delas; do que o Ilmo. Sr. Bispo  ordenará i que for servido. Cotia, na mesma capela ut supra. Aos 9 de Setembro. Ano de 1713 – Matheus de Laya Leão”.  (Livro de Tombo 1728-1844, p.1. Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva. SP).


Anos mais tarde, Pe. Salvador Garcia Pontes, antes de deixar a Paróquia em 1745, deixa o seguinte depoimento registrado na última página do Livro de Batizados (1723-1749):


“O Pe. Salvador Garcia Pontes vigário desta freguesia de Nossa Sra. Do Monte Serrat de Cotia, testifico em como no ano de 1718, me procuraram os principais cabeças desta freguesia, estando sem Pároco ajustaram comigo de me pagarem de côngrua sustentassem meia pataca  por cada pessoa de confissão, e muitos e muitos anos cobrei a dita meia pataca de cada pessoa; e passados outros anos, uns por amigos, outros por compadres, e por não escandalizar cobrei somente o que me davam e outros por engano não pagavam dizendo não tinham com que. E como nunca cobrei com ânimo de prejudicar o beneficio, e somente era voluntário em mim o ato de caridade facultativa não podem os fregueses chamar-se a posse alguma; do que para descargo da minha consciência passei a presente atestação, que juro in verbo Parochi. Cotia de Fevereiro 28 de 1745”.


Quem eram os “protetores” e os  “principais cabeças” da Freguesia de Cotia dos quais falam os dois vigários? O que se esperava deles? O que os Livros de Tombo revelam a seu respeito?

De acordo com os documentos citados, os “protetores” eram pessoas, geralmente, de posse que dotavam uma capela ou uma igreja. Eram uma espécie de “padrinhos” que beneficiavam uma freguesia através de dotes materiais. Figuravam-se entre os “principais cabeças” da freguesia.

Na época do Brasil-colônia, existia uma Lei chamada “Lei do Padroado”. O Estado Português tinha por obrigação zelar pela “proteção” da Igreja como também pelo “bem espiritual” dos súditos da colônia. Cabia à Coroa Portuguesa cuidar da construção e conservação das igrejas e sustentação dos padres. O Rei de Portugal era, por assim dizer, o principal chefe religioso do Império. Reservava para si o direito de decidir pela criação de paróquias, dioceses e casas religiosas. Apresentavam nomes para ocuparem o governo das dioceses e paróquias! (cf. HOORNAERT, Eduardo et alii. História da Igreja no Brasil. Tomo 2, Vozes, Petrópolis, RJ.1977, p.36ss).

As paróquias que recebiam esta “proteção” eram chamadas “paróquias coladas”, pois recebiam “côngruas” da Fazenda Real. Tornavam-se, portanto, “capelas reais”. As  que  não eram “coladas” recebiam benefícios, principalmente, dos “protetores” locais como no caso da Freguesia de Cotia.

Certamente, pelos anos 1800, a Freguesia de Cotia era “paróquia colada”, ou seja, recebia “côngrua” do padroado. Pe. Manoel Dias Bueno, vigário na época, recebia da fazenda real da capitania de São Paulo, uma pensão para sua sustentação. (cf. Colações de Párocos: Pe. Manoel Dias Bueno. Estante 3, Gaveta 27, No 46. Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva).

Tudo leva a crer, porém, que na época da inauguração da Matriz, a Paróquia de Cotia ainda não era “capela real”. Alias, os depoimentos dos dois vigários afirmam, claramente, que foram procurados pelos “principais cabeças” e protetores da freguesia que garantiam o sustento necessário a ambos os padres!

Um dos protetores da capela recém construída era o Coronel Estevão Lopes de Camargo. Este “entregou toda a fábrica nova da dita Igreja”. Providenciou não apenas os paramentos e tudo o que era necessário para o culto na nova capela, como também cedeu uma parte de suas terras para a construção da mesma.

Estevão Lopes de Camargo possuía grandes riquezas: casas, armas de fogo com anéis de prata, escravos, fado, cavalos e duas fazendas em Cotia: “... a saber um  sítio em Cotia, junto à Igreja, livre dos meus herdeiros meus irmãos, com suas terras que confinam com o Capitão Manoel Gomes.// Outro sítio tenho na borda do Rio Cotia junto à estrada de Roque Soares//. Possuo mais umas moradas de casas... nesta cidade de São Paulo” e “Declaro que aquelas terras em que está situada a Igreja de Cotia são minhas”. As terras deste sítio foram avaliadas em 10 mil reis (cf. Inventários não-publicados. ORDEM No. 697. Arquivo do Estado de São Paulo).

Outros homens fortes da época eram Roque Soares de Medella, Belchior de Borba Paes e Felix Machado. Eram senhores que possuíam o maior número de escravos na época em que Pe. Salvador Garcia Pontes servia como vigário nos anos 1718-1745.

Embora, oficialmente, o padre dependesse financeiramente destas “côngruas”, concretamente, se sustentava com dificuldades por meio das assim chamadas “desobrigas”, ou seja, pequenas contribuições pecuniárias que os fregueses davam por ocasião da confissão anual e comunhão pascal. O batismo, os casamentos e os enterros também eram considerados “de desobriga”. Estas taxas variavam segundo o parecer dos visitadores que de tempo em tempo visitavam as freguesias. Daí a grande ênfase que os visitadores davam a esta questão. Aliás, esta preocupação é constante no Livro de Tombo de Cotia: 1718-1844!

Visitando a freguesia de Cotia em 1728, Dom Frei Antônio de Guadalupe observou que os próprios  protetores não ajudavam como deveriam! Procurou corrigir este abuso através deste decreto:

“Ainda que louvamos os moradores desta freguesia terem feito sua igreja de novo, contudo não podemos deixar de sentir ela tão despida de ornamentos e coisas necessárias para  o culto divino, o que procede que nem o protetor acudir em coisa alguma nem se pagarem as covas que é o patrimônio da mesma igreja, para o que mandamos que o Rev. Vigário cobre todas as pessoas que se enterrarem na igreja, exceto as mais pobres, aquela quantidade que está disposta pelo Rev. Visitador passado, o Rev. João de Pontes...” (Livro de Tombo de Cotia: 1728-1844, p.5. Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva).

Belchior de Borba Paes, por exemplo, deixa a seguinte declaração no seu testamento: “Declaro, primeiramente, que devo cem patacas ao dizimeiro... Declaro mais que devo quarenta e nove mil reis à Igreja de Nossa Senhora de Monte Serrat, desta freguesa de Cotia, dos serviços...” ( In: Manuscritos Pré-classificados – Cotia e Santana do Parnaíba – 1738. Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva).

Visitando, pessoalmente, a capela de Nossa Senhora da Conceição de Itapeva em 1757, o visitador Pe. Antônio de Medeiros ficou impressionado com o estado em que se encontrava a capela. Ficando longe da sede paroquial e sem protetor ou zelador para cuidar dela, a pequena capela foi caindo em ruínas. Vendo seu estado precário, mandou o vigário Pe. Antônio de Toledo Lara derrubá-la já que se encontrava sem porta e nela se recolhiam animais. E para deixar um sinal do local que ali existia  uma “casa de Deus”, mandou erguer uma cruz de madeira de lei:

“Como fosse pessoalmente à Capela de N.Sra. da Conceição de Itapeva desta freguesia e achasse quase arruinada de madeiras, paredes e sem uma porta, com tão pouca decência, que já nela se recolhem os animais, cujos limitados e menos decentes paramentos que ali havia, e também as imagens se tinham recolhido para esta Matriz. E como não tenha patrimônio algum nem achasse pessoa que por obrigação ou devoção adorne ou reedifique, e as casas de Deus não devam estar com tanta indecência como nela vi, achei por secularizada e profanada e mando ao Rev. Pároco que dentro de trinta dias a faça derrubar, pondo no lugar uma cruz de bom pau e toda a madeira que servir a faça recolher para o que se precisar nesta Matriz.” (Tombo de Cotia: 1728-1844, p.31).

Muitos eram os senhores de escravos que escondiam seus escravos no tempo da “desobriga”. Além de não revelar  o número exato de seus  escravos, os senhores locais deixavam de matricular as crianças escravas no registro paroquial, alegando serem “menores”, livrando-se, assim, da “desobriga”. Eis a exortação do Pe. Visitador Luiz Teixeira Leitão em 1761:

“Porquanto a todos é notório e a experiência também o mostra ir-se introduzindo em gravíssimo prejuízo das consciências o abominável abuso de ocultarem os pais de famílias seus filhos escravos e administrados ao seu Rev. Pároco, para não os matricular no rol da desobriga, com o privado pretexto de que são menores, ignorantes na língua e doutrina cristã, vindo desta sorte a tomarem sobre si o preço de tantas culpas e fazerem-se juizes em causas próprias... E aos Senhores de escravos e pais de família que não manifestarem todos os menores de sete anos para se matricularem ou assentarem no rol da desobriga desta Igreja, os declarará incursos na excomunhão que lhes impões a Pastoral de 16 de setembro de 1728 do Exmo. Sr. Dom Frei Antônio de Guadalupe de gloriosa memória, mandada observar neste bispado” (idem. P.35-36).

Apesar dessas dificuldades todas, porém, muitos eram os padres que se colocavam à disposição do povo simples. A maioria era pobre e não tinha condições para sustentar o seu vigário como diz Pe.
Salvador Garcia Pontes no depoimento acima.


                                                                                                                                       Pe. Daniel Balzan

terça-feira, 19 de julho de 2011

O ALAGOANO GILBERTO



O alagoano Gilberto Francisco da Silva, nascido em Olho D’água das Flores, todo final de semana expõe sua arte na frente de sua casa. Ao passar pela Rua São Vicente, no Parque Rincão, chamam a atenção os quadros com traços fortes, rústicos, e de cores chamativas. Uma exposição de arte ao ar livre. Não resisti, e fui conferir o trabalho do Gilberto, e conhecer um pouco da sua vida.
Em São Paulo ele trabalhou como porteiro e jardineiro, entre outros ofícios. Em Alagoas trabalhava na roça com a família, fazia roça de milho e feijão. Já comprou e vendeu gado e a oportunidade de estudo foi pequena. Há quatros anos começou a fazer os primeiros desenhos em bobinas de papel de eletrocardiograma, na empresa em que trabalhava.
O material que Gilberto usa para fazer seu trabalho não é nada  sofisticado, e sem nenhuma  referência de alguma academia, o alagoano expressa sua arte com simplicidade. Confira!  







 


 
Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

terça-feira, 12 de julho de 2011

SUSTENTABILIDADE

“Da força da grana que ergue e destrói coisas belas” (Caetano Veloso)

Esta mata fica no Nakamura Park, e igual a ela tem várias outras em Cotia. Estes fragmentos de Mata Atlântica estão desaparecendo e dando lugar ao “progresso”. Em abril foram penduradas placas na cerca deste pedaço de mata no Nakamura, que anunciavam a venda de terrenos. Um mês depois do anúncio, as placas foram retiradas e o silêncio tomou conta do lugar. Será que vai aparecer ali um mega empreendimento? Temos que perguntar! Os terrenos foram vendidos? O que vai acontecer com o que sobrou da mata do Nakamura Park?


  
ESTAÇÕES:

Com as mudanças das estações do ano a natureza também se altera demonstrando sutilmente que tem vida. As folhagens das árvores caem, a sinfonia dos pássaros anuncia a chegada do dia ou o anoitecer, e isto vai até imperceptivelmente criando uma relação de afetividade entre homem e natureza. Às vezes um se revolta um com o outro, quando as folhas sujam o quintal ou entopem as saídas de água pluvial. Dá vontade de arrancar aquelas árvores! Mas quando se criam laços fortes de amizade, parece que esta ligação é revitalizada por ações concretas. O Chiquinho, “nosso” macaco, reaparece, os pássaros cantam aos nossos ouvidos e as folhas anunciam a chegada do vento. E aí ninguém quer perder ninguém. Outro dia, até um gambá apareceu com seu cheiro singular. Apareceu para fazer as pazes e Maria Karolina adorou. Afinal, o que vai virar este pedaço de mata?   

     
  
BOATOS:

Dizem que os terrenos foram vendidos e que vão construir um condomínio de casas. Outros dizem que o dono da terra desistiu de vender. Os boatos são muitos, e quero convidá-los  a acompanhar o que vai acontecer com a mata do Nakamura Park, que faz divisa com o Portal da Primavara e Nakamura Park ll. Quem sabe a gente consiga preservar este e outros pedacinhos de natureza que ainda temos em nossa cidade?
Prof. Marcos Roberto Bueno Martinez. 

quinta-feira, 7 de julho de 2011

OS SEPULTAMENTOS NA FREGUESIA DE COTIA

O assunto que é tratado neste estudo do Padre Daniel Balzan é sombrio, mas também revelador. Padre Daniel vai desvendando, aos poucos, de que forma as pessoas eram enterradas na Cotia Colonial. Aposto que com os olhos arregalados a pergunta saltou de  seus lábios: “― Como as pessoas eram enterradas?” Já respondo: “― Como qualquer outro ser humano depois que os homens começaram a cultuar a morte.”
Em Cotia era no adro e no interior da igreja Nossa Senhora de Monte Serrat, em solo sagrado. É bom lembrar que o sepultamento neste período ocorria conforme a condição social e de renda do morto. Segundo os pedidos de senhores da Freguesia, alguns deixavam em testamento o desejo de serem enterrados no altar, acreditando que assim estavam mais próximos de Deus. Paro aqui, para você mesmo descobrir os segredos dos sepultamentos em Cotia...
Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

OS SEPULTAMENTOS NA FREGUESIA DE COTIA

Onde e como eram feitos os sepultamentos em Cotia na época do Brasil colonial?

Os Livros de óbitos mais antigos de Cotia registram quatro locais para os sepultamentos: a) a própria igreja matriz, b) o adro da igreja, c) o cemitério da igreja e d) as capelas da freguesia.

Quanto aos enterros na matriz, o Livro de Óbitos dos anos 1750-1775 fornece detalhes muito curiosos. Uns eram feitos “junto às portas das grades”, “abaixo do altar e do cruzeiro de N.Sra. da Conceição”, ou “junto à porta principal da igreja, para fora”. Outros,  “de fronte ao púlpito”,  “púlpito para baixo” ou “acima dos bancos”. Outros ainda, “junto à pia da água benta”, “capela divina”, ou “numa das sepulturas da Irmandade”.

Havia taxas estabelecidas para diversos sepultamentos. Essas taxas variavam de acordo com o local escolhido. Quanto mais perto do altar-mor mais cara ficava a cobrança. Quanto mais perto da porta da igreja, menos se cobrava!  Ora, essas cobranças provocavam queixas seja da parte do vigário, seja da parte do fabriqueiro da igreja ou da própria família do falecido. Uma das coisas que inquietavam o Pe. Salvador de Camargo Lima, por exemplo,  era justamente a questão da esmola a ser cobrada. Querendo uma solução definitiva, o vigário apelou ao visitador Pe. Luiz Teixeira Leitão que visitava a freguesia de Cotia em novembro de 1761 e que baixou o seguinte decreto:

“Fui informado da grande confusão e variedade que há da quantidade de esmola que se deve dar pelas pessoas que são sepultadas nesta Igreja Matriz, levando uns fabriqueiros mais e outros menos, tudo procedido da falta de declaração que de devia fazer no livro do tombo, e desejando evitar aquelas... e que daqui em diante se observe sempre a mesma coisa. Ordeno e mando que o fabriqueiro leve portadas as pessoas maiores e menores que forem enterradas da porta da Igreja até as grades, duas patacas de esmola da sepultura, e das grades até o arco da Capela-mor dez patacas, pois este, se lança nos livros desta Igreja, ser o uso e costume estabelecido na sua criação.  E o Rev. Vigário assim o fará cumprir pena se é estranhar na futura visita, na qual pagará também o fabriqueiro o prejuízo que houver causado por suas omissões”  (Tombo de Cotia: 1728-1844, p.36v).

Cada uma das Irmandades (de Nossa Senhora dos Pretos, de Nossa Senhora da Conceição e a do Ssmo. Sacramento) tinha sepulturas próprias. Os irmãos falecidos eram sepultados com o hábito da própria irmandade ou, simplesmente, enrolados em pano branco e enterrados numa das sepulturas da irmandade, na presença dos demais irmãos conforme atesta o assentamento seguinte:

“Aos 5 de Dezembro de 1797, nesta freguesia faleceu Escolástica Maria de Jesus, casada com Silvestre Pedroso Colares,  filha legítima de Luiz Pereira de Macedo, e do nome de sua mãe não me souberam informar, natural da cidade de São Paulo, de idade de 51 anos; recebeu todos os  sacramentos,  foi  seu corpo envolto em o hábito de São Francisco, por mim encomendado e acompanhado, e por todas as irmandades desta freguesia, e sepultado numa das sepulturas da Irmandade do Santíssimo que lhe cedeu seu marido, por ser irmão, eremido já na mesma Irmandade, transferindo nela todo o direito para sempre, que tinha a tal sepultura. Não fez testamento. E de tudo para constar fiz este assento, que em ausência do Reverendo Pároco”.  

Outros, por sinal, escolhiam de antemão o local da sepultura! Eis o que um certo senhor de nome Pedro Domingues da Fonseca deixou escrito no seu testamento:

“Ao 1º de setembro de 1755 anos faleceu da vida presente Pedro Domingues da Fonseca, casado com Sebastiana de Borba, com todos os sacramentos, de idade de setenta anos mais ou menos, com seu testamento em que deixa sete missas pela sua alma, três pela alma de sua irmã Bárbara Leme e Santos diversos, e assim mais um rapaz por nome Filipe, para com o valor dele se mandarem dizer seis capelas de missas segundo as intenções que no testamento declara, onde deixa por testamenteiro o seu irmão Francisco Leme de Barros, Miguel Soares e Manoel Pereira de Camargo. Foi enterrado junto à porta  principal da Igreja para fora, segundo sua disposição; de que fiz este assento”. Pe. Antônio de Toledo Lara. (Livro de Óbitos de Cotia: 1750-1775, p.35).

Tudo leva a crer que os funerais na freguesia  variavam de acordo com as condições econômicas e posição social da família. Quando, em 1759, faleceu o Capitão Ignácio Soares de Barros, pai do Pe. Fernando Lopes de Camargo, o funeral aconteceu com toda magnificência. Quatro cruzes acompanharam o enterro: a da Irmandade do Ssmo. Sacramento, a do Rosário dos Pretos, a da Boa Morte e a Cruz das Almas  (cf. Inventários não publicados. Arquivo do Estado de São Paulo. ORDEM  No. 670).

Além da própria matriz, os sepultamentos eram feitos no adro, ou seja, no espaço em volta da igreja, no cemitério anexo à igreja e nas diversas capelas da freguesia. O espaço interno da matriz era pequeno demais para abrigar todos os óbitos da freguesia. As crianças falecidas sem batismo e os adultos falecidos sem assistência sacramental eram enterrados no adro e no cemitério, pois, julgava-se na época, que pessoas falecidas em tais condições profanavam o recinto sagrado da igreja.

Nas capelas eram enterradas as pessoas que moravam longe do centro urbano ou “por não ter quem os conduzisse” até a  igreja matriz:

“Aos 19 dias do mês de junho de 1750, faleceu da vida presente Grácia, escrava de Antônio da Rosa, e casada com Lucas, escravo do dito, sem sacramentos por morrer de repente, e foi sepultada na igreja de São João por não ter quem a conduzisse a esta igreja, de que fiz este  assento, dia, mês e era ut supra”- Pe. Patrício de Oliveira Cardoso.  (Livro de Óbitos de Cotia: 1750-1775, p.3).

Por volta de 1791, surgiu na freguesia de Cotia, a varíola, vulgarmente chamada bexiga ou bexigas. Os que faleciam desta moléstia eram enterrados em locais afastados:

“Aos 18 do mês de outubro de 1791, com licença benzi um cemitério perto desta freguesia, de fronte da Cruz das almas que está no caminho que vai para Sorocaba e perto de um pinheiro, para serem sepultados os corpos dos que falecerem de bexigas e males contagiosos para não infetar o povo todo. E para constar, fiz este termo que assino”.- o Vigário Fernando Lopes de Camargo.  (Tombo de Cotia: 1728-1844, p.65v. Arquivo Metropolitano Dom Duarte Leopoldo e Silva). 

A partir de 1867 os sepultamentos começaram a ser feitos no cemitério da vila.


Padre Daniel Balzan

quarta-feira, 6 de julho de 2011

BOMBA DE GASOLINA ESSOLUBE (SILVA)




 
Uma outra visão do Posto  Essolube, destacando a bomba de gasolina. A casa que se vê atrás da cerca,  na lateral  que  faz divisa com o posto,  é do Prof. Idomineu Antunes Caldeira,  que hoje dá nome à escola do Bairro do Portão. Para lembrar: este posto pertencia ao senhor Luis Silva e a foto foi tirada no início da década de 40.