Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

domingo, 24 de agosto de 2014

PAIS CONDESCENDENTES OU INDIFERENTES?



Quem já não recebeu visita de amigos em que os filhos ou filhas detonam a casa? Muitas vezes com a condescendência dos pais.Muitas vezes com a indiferença dos pais. As crianças vão mexendo em tudo que encontram pela frente. Algumas vão quebrando o que encontram. Outras chegam até a colocar o dedo na tomada e levam aquele choque.As estripulias são muitas. Cadê os pais?

Alguns pais acham que os filhos são até engraçadinhos quando se comportam desse jeito. Coitadinho! Alguns pais deveriam, antes de sair de casa, ensinar boas maneiras aos filhos. Ensinar que sofá foi feito para sentar e não para pular (sofá não é pula-pula).

Criamos ditadorzinhos mirins.

Depois que o pimpolho e a princesa fazem a festa na sua casa, colocando quase tudo a baixa, é duro ter que ouvir que o pai acha que a criança é inteligente demais e que ela parece ser hiperativa. Só parece! Sem diagnóstico nenhum. Parece muito mais uma desculpa esfarrapada.Essa criança nasceu agitada.Adorável! Talvez nessaconclusão paternal e/ou maternal esteja uma dificuldade dos pais em lidar com o que é educação (essa educação não é papel da escola).
Olham para os filhos como se esses fossem coitadinhos. Quaisquer regras de convivência civilizada podem causar traumas aos pimpolhos, deixam as crianças livres.
Outra coisa -
Se você é o dono da casa e reclama aos pais do comportamento inadequado dele ou dela,pode perder o amigo. É aquela coisa: educação do meu filho eu cuido (muitas vezes indiferentes às regras de civilidade).
Alguns pais têm dificuldades para aceitar que eles estão fracassando na educação dos filhos ou filhas. E não querem,de jeito nenhum, que alguém mostre seu fracasso bem ali na sua cara. Egoístas! No dicionário desses pais não existe a palavra não.

O não é usado como sim.

Outro dia, na casa de um amigo, num encontro,o filho do indiferente pulava alucinadamente no sofá. Passava em frente à televisão. Falava mais alto que todo mundo. Mexia em tudo. E os pais ali parados como se aquele tormento não fosse com eles. A mãe sem nenhuma autoridade dizia –pare filhinho. Com aquela fala mole e indiferente. Nem mesmo as moscas obedeceriam àquela ordem tão flácida. O pai, toda vez que entrevia, chamava a atenção da mulher como se a educação do pimpolho coubesse só à mãe.

Depois de muito tempo, o dono da casa chamou a atenção da criança. A situação estava insuportável! Só os pais não percebiam. As outras visitas, incomodadas. Depois da chamada de atenção os pais fecharam a cara em protesto. Não gostaram que o dono da casa chamasse a atenção do seu filhinho.Imagina alguém chamar a atenção do meu filho! Logo foram embora, convictos de que o dono da casa não tinha educação. Não tinha sido um bom anfitrião. 

UMA CARTA DE RECOMENDAÇÃO


Deus,
chegou ao céu nosso companheiro Nadinho que pregou esta peça de partir sem avisar. Receba-o com carinho e não estranhe se ele chegar com um sorriso largo de felicidade estampado no rosto, aqui ele era assim também, mesmo nas dificuldades. Esta carta de recomendação talvez nem fosse preciso escrevê-la, visto que o senhor recebe todos com muito carinho, mas, para nosso amigo Nadinho, peço-lhe dedique algumas horas para ouvir a sua história de vida.


O senhor vai se emocionar com suas aventuras. Nunca desistiu de lutar e buscar seus sonhos. Tudo que conquistou foi por merecimento, aqui, senhor, foi um vencedor. Não querendo me alongar na conversa, sugiro que o senhor coloque-o para cuidar da academia que deve ter aí. Ele vai adorar. Esporte sempre foi seu forte. Daqui fica uma imensa saudade

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

METAFÍSICA

Continuação do meu livro... Acompanhe no Portal viva granja Vianna e no blog: WWW.cotiamemoriaeeducacao.blogspot.com

METAFÍSICA

A multidão fazia fila na principal rua da cidade. Milhares! Gente com todo tipo de enfermidade. O povo começava achegar uma semana antes, outras pessoas na noite anterior, para serem atendidas pela benzedeira Ditinha da Volta, como era conhecida na região e nos estrangeiros. Ali se concentrava gente de todos os lugares. A sua reza era famosa e levantava até defunto, diziam os mais otimistas.

Os descrentes excomungavam as benzedeiras e as curandeiras, atribuindo a elas coisas ruins que aconteciam na cidade. Diziam que elas ou eles tinham pacto com o diabo. Porém! No calar da noite, muitos desses descrentes foram vistos buscando alívio para os seus sofrimentos da alma. Depois de atendidos e a alma aliviada,apimentavam suas línguas novamente e voltavam a atacar os rezadores, principalmente d. Ditinha.

Coisa de gente ingrata.

Médico de diploma nessa região era difícil de ver,e as benzedeiras e curandeiros faziam o papel desses homens de branco, em falta no lugarejo.Rezavam para crianças de bucho virado. Buscavam remédios para cura nas folhas e no mato. Eram conhecedoras dos segredos das florestas.Dentre todas as benzedeiras,d. Ditinha era a mais poderosa e conhecida. Aprendera essa arte com seus ancestrais, na maioria foram vitimados pelos senhores nas senzalas. 
D. Ditinha também era parteira das boas em todos os seus anos de atividade humanitária, nunca perdera uma criança, mesmo quando virada no útero da mãe.Os padres católicos a cada missa,em seus sermões, dedicavam um tempo significativo para criticar essas crendices do povo. Diziam que essas pessoas tinham ligação com o diabo. Ligação com satanás. E outras besteiras malditas. O que os padres não sabiam era que essas benzedeiras, com sua simplicidade, eram o bálsamo dessa gente esquecida por Deus.

Muitas vezes esses sermões eram ouvidos pelas próprias benzedeiras que assistiam as missas e a cada palavra dita os olhos dos fieis as censuravam. Certa vez um padre dessa igreja secular utilizava a prática do exorcismo. Foi excomungado e expulso da igreja. O dito padre, quando começava a missa e as rezas, caía gente pelo chão,espumando pela boca e os olhos viravam e esbugalhavam e outras vomitavam tufos de cabelo. Era assustador. Muitas pessoas saíam dali curadas.Essa atividade espiritual era malvista pela igreja. 
Coisa de gente sem cultura.

A corda arrebenta do lado mais fraco (nem sempre).

Da casa dos Magalhães, de repente os gritos ecoaram pelas ruas de paralelepípedo,acusando e condenando Morrudo pelo sequestro do galo Edivaldo. Enlouquecidos! Aos poucos, foi se formando um grupo de gente com vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Com os dentes cerrados e com pedras e paus como arma, a multidão partiu para cima do pobre Morrudo. Foi ele! Ladrão de galinheiro. A primeira pedra lançada abriu uma brecha na cabeça e o sangue desce pela testa. Ele usou o galo Edivaldo para fazer macumba! Macumbeiro! Gritavam.Ladrão!

A muvuca estava montada

Do meio daquela muvuca surge um ensandecido que levanta um pedaço de pau para acertar Morrudo na nuca.Surge d. Ditinha benzedeira, com toda sua autoridade e sua presença de espírito, e a multidão fica em uma posição de letargia. Quando ela começa a colocar limite na situação, surge todo pomposo,pelo Beco do Savioli e logo,descendo a rua da matriz, o galo Edivaldo, até cantava fora de hora. Quem soltou o galo? Alguém percebeu que a situação estava fugindo do controle e soltou-o.Morrudo poderia ser linchado. Morrudo foi salvo pela soltura dogalo. Será que o galo se salvaria da próxima festa na casa do Zé Galinha?

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

NEM TODAS AS DATAS COMEMORATIVAS SÃO TÃO FESTIVAS PARA ALGUNS COMO IMAGINAMOS


Quem não tem uma família nos moldes convencionais passam alguns perrengues no convívio escolar (na vida diária também). Estes eventos se tornam uma tortura.

As festas nas escolas, normalmente, são organizadas para crianças que têm uma família “normal”. Como explicar para uma criança que nos dias que antecedem o dia dos pais ele ou ela não vai entregar um mimo confeccionado em sala de aula?Apenas um gesto de carinho.

Muitos alunos não têm o nome do pai no registro de nascimento. Muitos outros não têm a presença dos pais no convívio diário. Outros não sabem nem quem é o pai. Constrangedor. Ao contrário do que muitos dizem, todo mundo quer ter um pai e uma mãe. Quem nunca teve fica imaginando como é ter um ou uma.

A família, neste momento, é fundamental para evitar qualquer tipo de constrangimento. Sempre aparece um avô ou avó que tenta cumprir este papel. Tenta?Sempre aparece um tio ou tia que se apresenta como pai. Apresenta! Sempre aparece uma mãe com jornada dupla de afetividade. Pai e mãe!Muitas mães estão nestas condições. Este envolvimento afetivo de outros da família em parte substitui esta ausência paternal. Um pouco, mas não completamente.

Alguns alunos que vivem esta situação “anormal” dizem que são felizes pelos afetos destes outros da família. Verdadeiramente querem o afeto dos pais. Querem ter o nome e sobrenome do pai no registro de nascimento. Querem a presença dos pais nos dias de importância comemorativa. Muitas querem saber quem é o seu pai. Não importam as condições deste pai. Nem que depois se decepcionem com esta figura paterna. O desejo de conhecê-los é maior. O sentimento de abandono incomoda. Nestes casos, a verdade sobre esta ausência dos pais é a melhor saída.


A escola, neste tipo de situação, tem um papel pedagógico fundamental. 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

AOS CANALHAS DE PLANTÃO


 Os canalhas de plantão estão sempre à espreita para lançar seu veneno em nome dos bons costumes. Eles normalmente se apresentam como pessoas íntegras. Veementemente contra qualquer tipo de falcatrua(nem todo mundo que é assim é canalha). Que bom se isso fosse verdade. Aproveitadores.

Os canalhas estão em todos os lugares, mas seu aparecimento acentua-se no período eleitoral, são tão dissimulados que é difícil identificá-los. Camaleões! Outra marca forte dos canalhas é a inveja. Invejosos! Quem nesta vida não se deparou com um bom canalha?

Tem canalha que gosta de conquistar voto só na conversa.

Canalhas que povoam a internet e que não passam de farsantes. Montam dossiês para extorquir ou para denegrir a imagem de alguém que supostamente possa estar lhe incomodando. Escondem-se por detrás de uma identidade com perfil falso. Ora, tem gente que dá o ouvido sem questionar para esse tipo de gente.

O bom canalha sempre investe na boa-fé e na ignorância daqueles que pretende lubridiar. Conta uma história que é difícil saber se é verdade ou não. Você quer mais canalha que o cara que, no caixa eletrônico, com um passe de mágica leva seu cartão de credito na mão grande?Ainda com sua ajuda. Uma atuação para tirar o chapéu.

Os canalhas, tanto homens como mulheres, são fascinantes. Conheci um que vendeu um terreno de mil metros quadrados no Ibirapuera. Haja criatividade.

O que tem de canalhice nessa onda de denúncia é inacreditável. Não acredito em candidato que vive de fazer denúncia. Eles normalmente querem tirar nosso foco dos problemas sociais que nos assolam. São dissimulados! Sempre se apresentam como diferentes - que não vão fazer o que os mesmos fazem ou fizeram. Esses canalhas têm uma lábia! Muita gente já caiu no golpe do bilhete premiado. Quem é mais canalha: quem aplica o golpe ou aquele que se deixa enganar com a possibilidade de ganhar dinheiro fácil. Quem?

Tem canalha que vende até terreno na lua. O pior que tem gente que compra. Ingenuidade ou esperteza?

Talvez o canalha mais nocivo que existe é aquele que lança mentira que se torna verdade. Uma demonstração de que a educação de fato é importante é quando assistimos gente repetindo boatos que podem destruir uma pessoa inocente. Não perguntamos como nasceram? Quais os interessem que estão atrás deles? E onde querem chegar? Um sinal lamentável de que estamos imersos em um poço de ignorância. Cegos! Há serviço para os canalhas de plantão.


Parabéns aos canalhas de todos os segmentos da sociedade. O campo está livre para atuarem. 

AMANHECER...


Começo com este texto a escrever meu primeiro livro de ficção. A cada capítulo vou dividi-lo com os leitores da coluna que mantenho semanalmente no Portal Viva Granja Vianna e no meu blog: www.cotiamemoriaeeducacao. blogspot.com. Espero contar com sua opinião e sugestões de como caminhar com estahistória.

AMANHECER...

Às seis horas da manhã. Inverno intenso! Muita neblina. Tanta neblina que não dava para enxergar um palmo diante dos olhos. Em cada casa da pequena cidade um galinheiro no fundo do quintal. Galinheiro multirracial, ali viviam patos e porcos e outras aves exóticas. Esses galinheiros funcionavam como um despertador. Despertador que denunciava a chegada de um novo dia. 

Apesar do frio, um belo dia.

O primeiro a anunciar a chegada da manhã era o galo Edivaldo,bicho de estimação da família Magalhães. Edivaldo era tratado como gente. Imagine, quando Edivaldo desapareceu, o desespero tomou conta da família. Quem sequestrou Edivaldo?O desfecho foi uma coisa maluca.

Aos poucos uma janela é aberta aqui outra ali e os moradores vão levantando e o cheiro do café toma conta das ruas e dos becos. Em quase todas as casas, acompanhando o café, alguns moradores tomam uma dose de “pau-a-pique” para aliviar a manhã gelada.

No meio da neblina surge lentamente Morrudo, com passos calculados milimetricamente. Cada passo dado,uma história. Cada passo dado, uma dúvida.Morrudo uma incógnita? A primeira porta que encontra aberta entra e vai até à beira do fogão a lenha, se serve de uma caneca de café quente. Uma mesa rústica com doces caseiros e pães no meio da cozinha formam aquele ambiente simples. Morrudo, com elegância, se serve de um pedaço de bolo. Assim Morrudo começa seu dia realizando pequenas tarefas.

Era muita tranquilidade para uma única manhã.

O silêncio foi quebrado pelos gritos de vovó Timbira. Os seus gritos assombravam e ecoavam pela principal rua da cidade -eu tive a visão, eu tive a visão, eu tive a visão!Vovó Timbira, como era conhecida no lugarejo,começou a ter alucinação depois de ser abandonada no altar. Caiu em desgraça na comunidade, tinha, antes do casamento, se entregado ao salafrário. Ele chegou sem passado e desapareceu como desaparece a neblina com a chegada do sol.

No começo, seus gritos assombravam os moradores toda segunda sexta-feira do mês. Depois os gritos ocorriam a qualquer hora. Dizem os antigos que era doença da cabeça (loucura). Dizem outros que era doença do amor. 

Quando Timbira ia voltando ao normal, contava que via, nas suas visões,uma porca e sete porquinhos que seguiam uma moça de branco com o rosto desfigurado que subia a rua principal da cidade até a Igreja Matriz. Depois descia essa mesma rua até desaparecer...

Porque os gritos?


Assim começava aquele dia calmo e agitado ao mesmo tempo. Depois dos gritos de vovó Timbira, o burburinho tomava conta do lugar. Nem tanto pelos gritos que faziam parte do cotidiano daqueles moradores, mas cada um tinha seus afazeres corriqueiros.