Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

domingo, 28 de junho de 2015

PORQUE GREVE DOS PROFESSORES?


Depois de décadas de organização dos professores, reivindicando melhoria de salário,resta perguntar por que tanta greve ainda acontece na área da educação? Indiferença! Talvez porque os professores continuem ganhando mal? Talvez porque para os governantes aquilo que pagam de salário aos professores é justo? Talvez porque os professores não querem salários e sim promover o desgaste do Governo? Talvez por que a educação não seja tão prioridade como dizem? Porque tanta greve?

Uma coisa pode ser considerada como certa: a questão da educação que sempre ganha índices negativos e que leva o Brasil sempre a explicar porque as coisas não melhoram tem uma verdade: a educação não é prioridade para a sociedade. É prioridade só no discurso. É chique e inteligente defender a educação como prioridade. Nas últimas manifestações dos professores que aconteceram em vários Estados eles estavam sozinhos. Escrachados pelo Governo e ridicularizados pela impressa, muitas greves acabaram de forma melancólica. Sozinhos!

Leiam as notícias sobre os movimentos dos professores na impressa e tirem suas conclusões:quase todas são pejorativas. Quase todas não informam os leitores como deveriam. Apresentam notícias de que os pais estão insatisfeitos com a greve e que esses não sabem onde vão deixar seus filhos. Escola não é depósito! Não propõem uma discussão séria de que os professores estão em greve porque, além de ganharem mal,algumas escolas se tornaram espaço de difícil convivência O Governo não tem um projeto para que a educação melhore. Parece que o importante para os pais é ter um lugar para guardar seus filhos. A escola vai além disso.

Quando dizem que os professores perderam mais uma vez, a gente se entristece por ouvir isso. Não foi o professor que perdeu foi cada um de nós. Foi a economia que perdeu. Perdemos crianças inteligentes que poderiam tornar-se cientistas ou doutores. O mesmo gosto que temos por futebol e outros esportes deveríamos ter pela Escola. Precisamos vestir a camisa da nossa escola. Muitas vezes migramos nossos filhos para escolas particulares com se isso fosse uma solução. Pagamos a educação escolar dos nossos filhos duas vezes. Escola particular é para quem pode. Quem não pode pagar deixa seu filho na escola pública. Deixam, mas não questionamo que está sendo ensinando.qual a qualidade do ensino da escola do seu filho.


É urgente: precisamos participar da vida da escola pública. Do Conselho da Escola. Na escola que a comunidade participa ela funciona melhor. Participar da comissão de pais que sempre têm alguma coisa para reivindicar.É preciso participar de forma profunda da educação dos nossos filhos. Talvez essa participação efetiva da comunidade possa começar a mudar a educação e que o professor não precise recorrer à paralisação para conquistar melhoria salarial. 

segunda-feira, 22 de junho de 2015

SANDRA APARECIDA CATARINO, SAUDADES


Querida Sandra,
ontem quando recebi a notícia da sua partida fiquei alguns minutos inerte. Intacto! É o tipo de notícia que recebemos e ficamos trabalhando os pensamentos e sentimentos para não acreditar. Inacreditável! Porque ela, meu Deus? Foi muito difícil aceitar que você partiu... Outro dia estava curtindo suas fotos de viagem que você fez para comemorar 25 anos de casada. Como o tempo passa.Outro dia estávamos brigando para estabelecer a democracia e você também estava lá.

O lugar onde a gente mora tem amigos com os quais nunca nos falamos, mas encontramos na Igreja, nas compras e elas fazem parte da nossa vida comunitária. Com outros, de forma direta, criamos uma relação afetiva. E sentimos muito quando alguém parte... Parece que fica aquele vazio. Parece que perdemos alguém que dividimos os nossos momentos de vida. Sandra, quando fiquei sabendo do acontecido,vieram-me as cenas da década do início de 80, quando lutávamos pelo estabelecimento dos direitos civis.


Assim, quero guardá-la na minha memória. Uma guerreira. Uma cidadã consciente do seu papel social. Uma mulher religiosa. Uma mãe cuidadosa da sua família. Assim quero guardá-la no meu coração.Sandra, uma coisa importante é quando deixamos marcas na vida das pessoas com quem vivemos comunitariamente. E você deixou sua marca vivendo com dignidade e ética. Saudades!

sexta-feira, 19 de junho de 2015

DEPOIS DOS CINQUENTA ANOS PODE QUASE TUDO


Não lembro onde ouvi esta frase: depois dos cinquenta anos se pode dizer o que quiser que ninguém irá colocar reparo. Será? As pessoas podem levá-los a sério demais ou não vão nem ligar para o que você diz. Despercebido.Acho que depois dos cinquenta anos ficamos de saco cheio de ver tanta hipocrisia e coisas que não mudam. Viramos cópias. Provoca até irritação ver que falta tanta originalidade.

Alguns dirão que você está ficando gagá(risos). Não é bem assim, mas tudo bem! Gagá é... Alguns dirão que você está ficando com as ideias ultrapassadas. Aceitar essas opiniões que lhe colocam para baixo é assumir que a vida não vale a pena chegar aos cinquenta anos. Aceitar essas ideias negativas de que estamos velhos demais é jogar a toalha. Não faça isso! Com cinquenta é quando opinamos ou realizamos coisas com a dimensão da nossa idade. Vemos o mundo com clareza.Ponderamos nas decisões com maturidade. Pensa!

Na verdade para ter ponderação e maturidade não precisamos ter cinquenta anos. Basta olhar o mundo com humanidade. Mas com cinquenta utilizamos aquilo que aconteceu em cinco décadas para se tomar uma decisão. Bagagem!Com isso saímos na frente. O contraditório é quando somos avisados que estamos passados. É como se fôssemos avisados que é hora de descansar. Mas quem diz que estamos cansados? Agora que estamos preparados para enfrentar as diversidades que a vida nos impõe.

O outro lado da moeda...

O legal dos cinquenta é quando assumimos os nossos defeitos. Defeitos aprimorados até chegar aos cinquenta (risadas...). Um defeito que aprimorei é repetir um assunto várias vezes. E depois da repetição exaustiva ainda perguntar: você entendeu? Acho que esse defeito de fabricação ganhei como professor. Ao final de uma explicação perguntamos: você entendeu? Agora, é muito chato ser repetitivo. Tenho tentado melhorar.

Outro defeito, depois dos cinquenta,é quando nos recusamos aprender a lidar com as novas tecnologias que surgem a cada dia. Jogamos responsabilidade quase sempre para os mais jovens. Ah! Meu netinho nem idade ainda tem, mas lida com o computador com maestria. Eu mesmo não manjo quase nada, mas adoro me aventurar pelas redes sociais. Às vezes inventamos que não estamos enxergando direito. Aí perguntamos como que se faz isso mesmo? É só apertar esse botão, diz o bimbolho!


Sabe de uma coisa boa, depois dos cinquenta é possível corrigir os defeitos. Quase todos!

terça-feira, 9 de junho de 2015

*“ESTE O NOSSO DESTINO: AMOR SEM CONTA”


Marília amou José com todos seus sentimentos. Realizaram o sonho da casa própria. Os filhos vieram. Amor perfeito. Tudo funcionava como um relógio de boa qualidade, impecável! José também a amava com todos seus sentimentos,como Marília o amava. Com o tempo, um desses sentimentos acordou com ciúme. As atitudes, antes carinhosas, agora ásperas. Esqueceram de quando namoravam e faziam juras de amor. Tudo terminou diferente de como começou: notícia trágica em uma página de jornal sensacionalista.

Marília como outras marílias queria encontrar seu príncipe encartado. José também queria encontrar sua princesa. Encontraram-se e foram felizes para sempre. Tem amor que dura para além da vida. Nunca pararam de namorar. Nunca se esqueciam de, pelo menos, uma vez ao dia dizer que se amavam. O casamento foi dos sonhos. Parecia saído dos livros de contos de histórias de príncipes e princesas. Sempre enamorados.

Marília tinha o sonho de um dia se casar. Andava no mundo da lua com essa ideia. Tinha um sonho de encontrar um namorado, antes de se casar. A cartomante dizia confiante que um dia ele apareceria inevitavelmente. O Pastor, nas suas revelações, dizia que seu grande amor viria montado em um cavalo branco. O Padre dizia com convicção que celebraria seu casamento. O tempo passava e nada de aparecer o pretendente. Marília não desistia do seu sonho. Persistia. Nunca se desassossegou. Um dia, desses que nada promete, Marília esbarrou seu carro na esquina de casa em outro carro.Marília realizou seu sonho naquele dia,desceu do carro José,e o olhar decidiu ali que seria amor à primeira vista. E foi! Namoraram e casaram.

Marília e José amaram e namoraram o outro ou outra mesmo que o outro ou a outra não soubessem. Quando encontrava o amor platônico as mãos suavam. O corpo tremia. Parecia que o mundo ia acabar ali. O amado nem ligava, pois não estava envolvido naquela fantasia. Não estava envolvido naquela trama amorosa. Mesmo assim, Marília e José sonhavam com o namorado ou a namorada. Namoravam! Como é bom fazer de conta. Como é bom viver de fantasia. O importante é amar.

Marília e José não passaram um dia do Dia dos Namorado, sequer, sem um enrosco para ganhar um presente.Interesseiros! Apenas um presente. Muitas vezes o namoro acabava antes da meia-noite. Se passasse depois da meia-noite alguém poderia virar abóbora. Espertos. Risadas!

Gente igual a Marília e a José existe em todos os lugares. Como é bom estar namorando, mesmo que seja por um instante. 

*Frase do título foi tirada do poema Amar, do Poeta Carlos Drummond de Andrade.


“CAMINHANDO CONTRA O VENTO SEM LENÇO E SEM DOCUMENTO...”


Na década de setenta, caminhar sem documento era cana na certa ou humilhação. Esculhambação! O documento que valia nessa época era a carteira de trabalho com registro de emprego. Se não houvesse registro de um trabalho, o esculacho era quase certo. De vagabundo pra baixo. Em uma parada policial, a Carteira Profissional indicava que você era um cidadão. A carteira de trabalho era sua alforria. 

Cidadão completo era aquele que apresentava a carteira com registro de trabalho, orgulhosamente! Com o tempo, esse documento majestoso foi saindo de cena. O Milagre Econômico do Regime Militar não surtiu o efeito pretendido e o desemprego apareceu, violentamente, junto com a inflação.Em um país que o desemprego é grande, a carteira perdeu seu valor no sentido de estabelecer cidadãos. Ora, cidadão é um conceito que vai além de um registro na carteira profissional.  

Depois desse período...

A carteira perdeu seu status quo! Entra em cena a carteira de identidade... Lembram?

Depois desse período sombrio, na década de oitenta, a carteira de identidade aparece soberana. Um tempo de Diretas Já! Um período de reconstrução da democracia. Uma explosão de eventos culturais. Quase todo mundo querendo dizer alguma coisa. A carteira de Identidade aparece leve e suave. Sua exigência não era tão necessária como a profissional. Para abrir um crediário, a carteira de trabalho tinha sua importância, mas não sozinha - agora acompanhada da identidade. Começava a aparecer um cidadão light, mas indignado com a injustiça.

Com o tempo, a carteira foi substituída, no caso de uma compra de crediário, pelo holerite.
Inflação, desemprego e outras mazelas sociais, mas a identidade, quando solicitada, o cidadão não se apresentava tão submisso. Questionava! Falava de direitos. Os tempos eram outros. A Constituinte promulgada. Cidadão.

Depois da década de oitenta...

A democracia consolidada e o mercado ampliado e,consequentemente,o consumo. Milhões de brasileiros saindo da miséria foram inseridos no mundo do consumo, alucinados. A carteira profissional e a carteira de identidade estão quase aposentadas- o que vale como documento hoje é o CPF. Esses números dizem que você, como cidadão, está inserido no mercado de consumo. Cidadão consumido.

Agora, a luta é contra a corrupção. A ditadura militar ficou lá pra atrás (apesar de que há gente com saudade). O que vale é o que temos não o que somos. Não precisamos de documentos para dizer que queremos ser cidadãos. Já somos! A caixa do mercado pergunta antes de registrar a compra:o senhor quer Nota fiscal Paulista? Sim ou não? Sim! Qual o número do seu CPF?Agora, sim, cidadão inserido. É bom lembrar que ainda temos milhões que ainda não têm e não tiveram nenhum desses documentos. Não foram inseridos no mercado de consumo. Estão à margem!


Qual será o próximo documento que entrará em moda? 

sexta-feira, 5 de junho de 2015

AMIGOS DAS ANTIGAS


Quem já não reencontrou um amigo das antigas e se arrependeu profundamente? E disse:melhor seria não o ter reencontrado. Talvez inocentemente e carregado de saudades das antigas amizades,esse reencontro fosse apenas para manter aquela imagem positiva que se tinha daquele amigo. Aquela amizade que um dia marcou,por um instante, sua vida. As coisas não funcionam assim! Imaginem se todos nós continuássemos como há trinta anos? Alguns amigos das antigas parecem ter parado no tempo, mesmo o tempo andando aceleradamente.

Há reencontros que valem a pena.

Outro dia reencontrei um amigo das antigas em um Centro Comercial, desses modernos. Quando me viu, veio ao meu encontro.“Poxa cara, que saudade de você. Você não envelhece?”. Deu-me aquele abraço! Começamos a conversar sobre os momentos que vivemos na década de oitenta e, aos poucos, fui percebendo que meu amigo, bicho grilo, não tinha mudado em nada. Radicalmente defendia seus gostos musicais e tudo o que acontecera,fora da sua preferência, não passava de lixo cultural. No campo da política defendeu o socialismo como se ainda existisse plenamente, ou como se estivéssemos vivendo no período da guerra fria. Sua argumentação forte queria me cooptar para a luta armada, contra o capitalismo.

Saí dessa conversa me achando um parasita social.

O que me impressionou,independentemente dos seus pontos de vista, é que ele não acrescentou nenhuma informação do que ocorreu no mundo em todos esses anos. Do jeito que ele defendia suas ideias parecia que não adiantava nenhuma argumentação contrária ou informação. Para ele, sua verdade era absoluta. Calei-me e o ouvi com uma vontade louca que aquele reencontro acabasse.
Longe de qualquer pessimismo,há amizades que valem pela vida toda.

E aquela amizade do amigo que ainda continua mala. Bem mala mesmo! Poxa cara, você está gordo? Poxa você envelheceu? Poxa seu cabelo está branco? Após esse reencontro do amigo mala, saímos à procura de um psicanalista (risos). Mas, mala mesmo é aquela ou aquela que quer salientar enfaticamente seus defeitos. Amigos da onça. E aquele amigo do: eu já sabia! Você conta uma história que tenha marcado sua vida negativamente para um amigo e espera ouvir algo que acalente. Engano seu... Você ouve “eu sabia que não ia dar certo”. Age como se fosse vidente. Ou diz “não te 
falei!”. Esse tipo de comentário é foda!

Quem não tem um pouquinho de chatice?

Temos também os amigos que nunca foram amigos. Temos também os amigos que são tão amigos que passam a fazer parte da família. Ora, para encerrar esta conversa imagina se não existissem amigos das antigas, inconvenientes, na nossa vida, seria uma chatice total.