Humor é o que não faltava na Cotia antiga. Parece que alguns
moradores ficavam o tempo todo pensando em quem aplicar uma peça, qual amigo
seria a bola da vez. Os ‘causos’ são vários e divertidos. Selecionei dois textos
para curtirmos juntos. Solte a
imaginação.
Benedito Viviani, quando começou a lembrar da brincadeira da
“história da lâmpada queimada” e outras traquinagens, estampou no rosto um
sorriso de menino maroto. O Depósito de Materiais de Construção Bandeirantes
era o lugar de encontro da turma, que inventava as diversas brincadeiras que
embalaram uma geração inteira, na década de 60, em Cotia.
No ano de 1964 espalharam em Cotia e na região milhares de
folhetos anunciando a invenção do conserto de lâmpadas queimadas. Harayuki Yano,
Manoel Oswaldo de Oliveira e o Sr. Calil foram os idealizadores dessa armação.
A vítima escolhida pelo grupo foi o Sr. Viviani. E como se não bastassem quase
três mil folhetos distribuídos, a equipe ainda colocou em pontos estratégicos
da cidade faixas com o endereço de Benedito Viviani e a seguinte informação: “lâmpada
comum, 5 mil réis, a farolete, 10 mil.”
Depois do marketing realizado, Viviani começou a receber
centenas de lâmpadas queimadas em sua casa. Muitas vezes, Viviani mandava a
pessoa levar as lâmpadas no deposito do Sr. Yano e dizia que a máquina de
conserto estava na loja. A fama de “gênio da lâmpada”, apelido atribuído ao Sr.
Viviani em virtude da brincadeira, foi além das fronteiras do município. Quando
chegava ao banco em Pinheiros, para cuidar dos seus negócios, o gerente
perguntava como estava sua fábrica de conserto de lâmpadas. Respondia Viviani
com o bom humor de sempre: “Vai muito bem”. Numa festa realizada em prol do
hospital de Cotia, na casa do Dr. Odair Pacheco Pedroso, com mais de 150
pessoas presentes, de repente acabou a energia elétrica. De surpresa o Dr.
Odair gritou à multidão: “Chamem o Viviani!”. Um anúncio foi parar no quartel de
Quitaúna. Quando o sargento ficou sabendo que um irmão do “gênio da lâmpada”
era seu cadete, passou a tratá-lo com privilégios.
Durante dez anos o Sr. Viviani foi perseguido com a história
da lâmpada. Um morador da Granja Viana deu graças a Deus quando ficou sabendo
da oficina de conserto de lâmpadas. Esse morador guardava há muitos anos uma
lâmpada de estimação, para quando aparecesse o invento que a pudesse consertar.
Na porta da casa da família Viviani, num final de tarde, apareceu um senhor
acompanhado de seu filho com uma sacola cheia de lâmpadas. O menino, juntamente
com o pai, estava subindo a escada, e, num singelo descuido, quebrou uma
lâmpada. O pai, irritado, deu umas palmadas no garoto. Dizem que o senhor
morava no bairro do São Joaquim. Para que se tenha uma idéia da dimensão da brincadeira,
o Sr. Viviani foi procurado por um jornalista da revista “O Cruzeiro”, que
gostaria de entrevistá-lo.
Atenção: o Sr. Viviani, que durante tanto tempo foi o mestre
do conserto de lâmpadas, quer passar sua experiência ao herdeiro do Sr. Yano –
o sobrinho, Reinaldo Yano. Se você tiver alguma lâmpada queimada pode
entregá-la para conserto na Casa Yano...
Professor
Marcos Roberto Bueno Martinez