Há temas que, ao abordá-los, devemos ter bom senso e cautela. Educação especial é um deles. Penso que é produtivo quando vejo centenas de manifestações favoráveis em relação a este assunto, mas também é preciso tomar cuidado com os clichês. Acessibilidade e inclusão têm sido debatidas exaustivamente, como se não existissem leis que defendem esses interesses. As leis existem! Elas só não são cumpridas.
Agora, política pública feita com seriedade para a Educação Especial, se conta nos dedos da mão. Existe muito faz de conta. Ainda são feitos muitos discursos de “coitadinhos”, e este jeito de ver a criança especial reforça o preconceito. Elas são muito mais capazes do que vocês imaginam. No início da década passada, ao assumirmos a Secretaria da Educação de Cotia e ao construirmos um projeto sobre o tema, valorizamos as escolas que já existiam, o CEIC e a APAE. Naquele primeiro momento não demos o merecido valor à inclusão na rede de ensino, descuido que logo foi percebido e revisto com propostas práticas ao criarmos uma equipe multiprofissional – psicólogos, psicopedagogos e assistentes sociais – ação inovadora para a época.
Uma experiência de campo que tive foi uma visita à E.M. Florentina Francisca de Oliveira, no bairro do Samambaia, na divisa com Embu e Itapecerica da Serra. Foi constrangedor encontrar o prédio da escola, com mais de quarenta anos, e em condições precárias. De imediato resolvemos construir uma escola nova. Mas o que me chamou a atenção ali foi uma cena inusitada: um menino com deficiência visual frequentando uma sala multisseriada, e o mais importante, a educadora daqueles alunos, além de cuidar de séries diferentes na mesma sala, tinha atenção e carinho por aquele menino especial. Aquela professora, sem apoio institucional, desenvolvia seu trabalho silencioso, exercitando o sentimento nobre de solidariedade e compromisso com o ser humano – um comportamento fundamental para qualquer projeto dar certo.
Na medida em que avançávamos com o projeto de inclusão, percebemos que ele não poderia ser implantado compulsoriamente, pois teríamos que respeitar os limites intrínsecos de cada educador. Alguns se sentiam preparados emocionalmente e outros ainda não. Há que se respeitar este tempo, preparar capacitação e investir em profissionais especializados para trabalhar em conjunto com o educador. Contraditoriamente, existem muitos pais que têm uma imensa dificuldade em aceitar os limites dos seus filhos. Quando se encontra estes pais, o melhor caminho é dialogar e colocar à sua disposição profissionais com boa formação. Por outro lado encontramos educadores já preparados emocionalmente e com um profundo sentimento de solidariedade.
Uma preocupação que tenho e que talvez não seja tão relevante em relação ao assunto, é o discurso politicamente correto vigente – tudo muito higienizado. Talvez aí estejam escondidos preconceitos e outras coisas mais. Na verdade, não acredito em discursos tão perfeitos, pois as pessoas, sejam elas consideradas “normais” ou “especiais”, também precisam ser construídas, uma vez que não nascem completas.
Professor Marcos Roberto Bueno Martinez
Olá Marcos, aqui é a Tia Deva...
ResponderExcluirleia seus emails que mandei hoje! Muito obrigada.
Abraços.