Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CRONIQUINHAS COTIANAS



CUIDADO COM AS SAIDINHAS!


SAIDINHA DE BANCO

Cotia, 27/02/2012.

Um carro branco parado em frente à porta do Banco Itaú, com dois indivíduos à espreita, à espera de uma vítima sair. Não demora e a porta giratória coloca pra fora do banco uma senhora pequena, com um pacote na mão, supostamente dinheiro, desprotegida. A porta do carro abre bruscamente e um dos indivíduos dá o bote. A senhora leva um chaqualhão e uns tabefes e vai ao chão. O agressor, em posse do envelope, começa a correr e se depara com um policial. Um tiro. A bala passa entre os transeuntes e ninguém sabe aonde foi parar. O homem se joga no chão e é algemado pelos policiais. O outro indivíduo foge com o carro. Alguém grita “A casa caiu!”

 A rotina dos transeuntes entra novamente na normalidade.



SAIDINHA DO SUPERMERCADO

Cotia, 28/02/2012.

Foi diferente nessa data. À porta do Atacadão Munhoz vê-se um corpo estendido no chão e uma mãe atônita com um bebê no colo.

A rotina do dia-a-dia continua...

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DO SEU LUGAR



Durante o tempo que lecionei, tinha dificuldade de vincular um tema abrangente e que era exigido no currículo do ensino de História, com o cotidiano do aluno. O motivo desta dificuldade muitas vezes se dava por eu próprio não ter vínculo com o lugar onde lecionava, ou por falta de material de pesquisa, e também pela obrigatoriedade de seguir o famigerado conteúdo escolar. Na medida em que vamos amadurecendo profissionalmente, percebemos que podemos arriscar outras formas de ensinar que não sejam tão convencionais, sem deixar de ensinar para os alunos o conteúdo exigido.

Vou usar como referencial neste artigo a cidade de Cotia, onde desenvolvi um trabalho em sala de aula para cativar e trazer o aluno para o ensino de História, partindo do seu lugar para chegar aos temas gerais da História. Esta experiência pode ser também a da sua cidade, de qualquer lugar do mundo. Vamos lá!

Antes de iniciarmos a conversa quero convidá-los a conhecer o blog e os sites a seguir:




O blog tem como objetivo resgatar a memória e a história da cidade de Cotia. Lá encontram-se textos que apresentam momentos diferentes da História do Brasil e que estão intrinsecamente ligados à cidade. O primeiro texto que vamos esmiuçar e discutir tem a Rodovia Raposo Tavares como eixo central, de onde fiz um passeio por três momentos diferentes da História. A primeira parada foi no século XVIII, com a formação do segundo núcleo de moradores da cidade. Depois no século XIX, com o surgimento da ferrovia que quase fez Cotia desaparecer do mapa, e o crescimento atual, no final do século XX e começo do século XXI.

Escolhi começar este projeto de trabalho com a economia cafeeira e a construção da ferrovia para escoar o café produzido em São Paulo. Mas o que estimulava muito este trabalho era a visita e o passeio a Paranapiacaba e a ferrovia em Campinas, que todos podem visitar ainda hoje. A pergunta provocadora era: “– Por que Cotia quase desapareceu com o surgimento da ferrovia?” Dessa forma continuei ensinando o conteúdo mais abrangente, interagindo com o cotidiano do aluno. Com a origem da cidade no século XVIII, em pleno período colonial, escolhi o tema escravidão e o discutimos em várias sociedades, até no Egito Antigo, e as várias formas de escravidão nos dias de hoje.

O aniversário da emancipação política de Cotia é no dia dois de abril e é ainda possível fazer este trabalho com outros textos de períodos diferentes da cidade, interagindo com outros da História do país e do mundo.

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SEM CONTEÚDO


Toda semana escrevo um texto sobre assuntos da minha experiência profissional, às vezes atendo às sugestões de amigos, ou ainda me inspiro em temas que surgem em alguma conversa. Nesta semana resolvi escrever sobre coisa alguma: nada de política, cultura, economia e, principalmente, sobre educação e memória. Esta atitude não é de revolta e nem de inquietação. Simplesmente não quero escrever nada, a não ser o que estou escrevendo agora, neste momento. Por quê tenho que escrever sobre algum assunto? Muitas vezes fico com insônia, pensando sobre o tema que vou desenvolver, como irei atingir o leitor. Penso comigo: “– Será que vou agradar ou desagradar? Será que vou informar ou vou apenas escrever algo do censo comum?”

Imagine um dia em que a gente acorda e não lembra nada do passado e não consegue pensar no que poderia ser o depois. Como se estivesse preso em um compartimento de onde só conseguisse ver o agora. Imaginou? Sem assunto, sem história para contar, sem sonhar ou projetar o futuro. Como uma folha em branco para ser escrita ou reescrita...

Nesta semana não quero escrever nem sobre o carnaval. A sensação é como se estivesse dentro de uma caverna, como aquela do mito de Platão, com a diferença de que lá o homem estava livre para se movimentar.

Como é desagradável ter que escrever quando não se está com vontade de escrever! Ou de ter que fazer qualquer outra coisa sem vontade, sem inspiração. É como se tornar prisioneiro em si próprio, vivendo o conflito entre o dever e o não poder. Tive um conhecido que ficou preso por quase uma década. Ele me dizia que, quando saia da cadeia para ir até o fórum da cidade, ele sentia através das pernas dos transeuntes a sensação de liberdade – ele conseguia ver as pernas das pessoas e ouvir o burburinho através da fresta do chiqueirinho do camburão. Deve ter sido uma loucura e uma experiência única. Nesta semana, então, sem tema, sem assunto e sem conversa. Só o carnaval. Escrever alguma coisa, só na semana depois da folia.

Bem... pensando melhor, não é que saiu alguma coisa interessante?


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

EDUCAÇÃO É COISA SÉRIA



UMA SENHORA BRASILEIRA EM SEU LAR

“O sistema dos governadores europeus, que tendia constantemente a manter, nas colônias portuguesas, a população brasileira privada de conhecimentos e isolada na escravidão dos hábitos rotineiros, limitara a educação das mulheres aos simples cuidados do lar; assim, por ocasião de nossa chegada ao Rio de Janeiro, a timidez, resultante da falta de educação, fazia as mulheres temerem as reuniões um pouco numerosas, e mais ainda qualquer espécie de comunicação com estrangeiros.”(*)

Podemos começar esse artigo com uma pergunta: por que os resultados práticos  da educação no Brasil são tão lentos? Como isso acontece, se a educação tem verba garantida pela Constituição e recebe 25% do orçamento do município e 15% do FUNDEB? E mais: do total deste dinheiro 60% são destinados ao pagamento do salário dos professores. Onde está o problema? A ideia de que não existe investimento em educação não é totalmente verdadeira e reafirmo que, o que falta, são projetos com começo, meio e fim, acompanhados de uma boa dose de vontade política.

Para entender como funciona a educação é preciso conhecer como funciona a organização administrativa de uma Secretaria de Educação. A Secretaria, que detém uma parte significativa do orçamento, não administra o dinheiro e, sendo assim, como é possível elaborar um projeto de educação sem controle e visão de quanto pode ser investido nos projetos? Esta fala, de uma secretária de educação da Bahia, resume a dificuldade de colocar em prática qualquer tipo de projeto. Diz ela: “quando eu peço para alguém comprar  uma caixa de lápis e ela não é comprada, o comprador não sabe que um lápis pode segurar uma lousa, ele também não sabe o que é educação." É urgente que o dinheiro da educação seja administrado pelas secretarias de educação.

Esta fragmentação das secretarias abre brecha para o fisiologismo político e tudo funciona no mundo do faz de conta, do trivial. Outro absurdo é a construção de escolas fora do âmbito da secretaria, sem que seja discutido com o grupo pedagógico e com os educadores como deve ser erguido um prédio, que tem de atender aos anseios do projeto pedagógico da secretaria, da unidade escolar. O investimento não chega na carteira do aluno. Esta estrutura induz a que os conselhos de controle do dinheiro da educação façam de conta que fiscalizam e, em muitos casos, virem trampolim político ou cabide de emprego. É preciso mudar esta situação.

Nem tudo está perdido, há exceções. O Plano Nacional de Educação já discute e propõe que o dinheiro da educação seja  ministrado pelas secretarias de educação. Temos escolas no país que estão muito além dos índices de metas estabelecidos pelo governo, por fazerem a tarefa de casa. A maneira antiga de organizar uma secretaria abre a possibilidade de atitudes despóticas, e a resposta para tal comportamento é a autonomia, que tem de ser levada às últimas consequências.  A escola tem que ser dona do processo de construção do seu projeto pedagógico. Quantos projetos para área da educação assistimos a ser implantados, jogados pela goela abaixo dos profissionais e que sabemos que são fadados ao fracasso? Mas ainda há luz no fim do túnel.

(*) Jean Baptiste Debret - Rio de Janeiro, cidade mestiça, nascimento da imagem de uma nação

Ed. Companhias das Letras


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez