Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

FESTA DO PEÃO DE BOIADEIRO: DÉMODÉ




Quem gosta de Festa de Rodeio? Segura peão! Muita gente vai responder que adora e outros vão dizer que não gostam de jeito nenhum. Outros tantos vão dizer que só curtem os shows. Agora, tem muita gente que diz que só vai por causa da montaria. Portanto, tratar este assunto do ponto de vista do gosto pessoal é complicado demais. A discussão pode terminar com aquela antiga máxima de origem desconhecida, “gosto não se discute”! Além disto, pode gerar preconceito contra a cultura, o estilo de vida de cada um. Para evitar que a conversa termine desta forma é melhor contextualizá-la. As festas de rodeio ou de peão estão fora de moda, apesar de ser um evento antigo e de origem rural. Hoje as entidades de proteção aos animais lutam para o fim deste espetáculo. 

Uma argumentação usada pelas entidades de proteção aos animais é imbatível: maus tratos. Na festa do peão de Cotia, os militantes deixaram sua marca nos tapumes em torno do evento: “Amarre seus testículos e sinta a emoção do rodeio.” Tragicômico. Mas muito mais trágico. Estas festas são, na sua maioria, descontextualizadas, e são realizadas no “mundo urbano, fantasiado de caipira”, ou melhor, de cowboi. A festa, que tomou dimensões internacionais, enfrenta oposição no mundo todo. É um evento sem dúvida violento, visto que a cada ano aumenta o registro de acidentes com montadores e de acidentes fatais. Qual a ligação cultural desta festa com as cidades onde elas ocorrem? Existe ou seria somente financeira? 

Não é porque sejam tradições culturais que esta e outras festas devem ser mantidas. Na verdade, a festa do peão nem mesmo é nossa tradição. A farra do boi em Santa Catarina tornou-se uma atividade criminosa e as touradas na Espanha estão com os dias contados. 

Perguntas: As festas do peão geram receita para as cidades onde são realizadas? Se geram, elas estão ligadas com investimentos na área da saúde, educação, segurança e infra-estrutura? Não tenho nada contra o entretenimento, mas é preciso urgentemente avaliar se festas deste tipo são positivas para a cidade. A única coisa que tenho contra é em relação aos maus tratos aos animais. Precisamos aprender a respeitá-los e decidir se queremos que a nossa cidade seja conhecida por sediar rodeios cruéis ou por realizar festas diferenciadas, com um divertimento mais humanizado.


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez


segunda-feira, 9 de abril de 2012

UM NORUEGUÊS DE COTIA*



“São inesquecíveis os momentos quando o Senhor Tore Munck vinha 
nos visitar na Avenida São Camilo. 
Eu ficava muito admirada pela paixão que ele tinha por crianças.” (Isabel Jesenicnik)


Para escrever sobre a passagem do norueguês Tore Albert Munck pela cidade de Cotia, pretendo objetivamente não transformá-lo em um mito, apesar de que muitos funcionários que conviveram com ele durante anos tenham essa visão do empresário criativo e empreendedor. O que pretendo é apresentá-lo como um homem passível de acertos e erros como qualquer outra pessoa. A sua história com a cidade, no final da década de 50, e com a cultura brasileira, irá marcá-lo profundamente. O senhor Albert Munck, em seu tempo de passagem aqui, se tornou um autêntico brasileiro de espírito.




Nessa década, Cotia é uma cidade em que predomina a economia rural, sob a influência da imigração japonesa. Além da agricultura, a economia extrativista de carvoaria também fazia parte deste período. Porém, desde o início do século XX o lugar vem passando por mudanças rumo ao processo de industrialização, começando com o setor de metalurgia. A indústria metalúrgica vai alterar este cenário a partir do final de 50 e o Senhor Albert Munck vai ter um papel importante com a inauguração da sua primeira fábrica, em 1957, em Cotia.

Não podemos esquecer que o chefe do governo brasileiro deste período é o Presidente Juscelino Kubitschek, que coloca em prática a política desenvolvimentista dos “50 anos em 5 anos”, ou seja, o Brasil deveria crescer em cinco anos o equivalente a cinquenta anos com seu plano de governo. O pai do jovem Albert, o senhor Sverre Munck, de olho no mercado mundial, enviou o filho ao Brasil, e a empresa que nascera em 1924 na Noruega, com 1500 dólares, durante duas décadas prosperará e abrirá três empresas com tecnologia de ponta, em Cotia. Os fatores que vão contribuir para este investimento no Brasil e não em outros países da América Latina, são a instabilidade política destes países e a mão de obra brasileira em conta, em relação a outros países do mundo.




O Senhor Albert Munck tinha uma visão incomum em relação a outros empresários. Um problema que ele iria enfrentar era a falta de mão de obra qualificada e, por isso, a Munck abriu em Cotia uma escola profissionalizante que deveria servir a empresa e atender a demanda de outras empresas do setor que vão se implantar na região. Sem dúvida alguma o senhor Tore Albert Munck contribuiu para o desenvolvimento industrial da cidade e da educação. Na escola o Senhor Munck também instalou uma excelente biblioteca. 

In memoriam:
Fica aqui registrada uma singela homenagem ao professor Mário Jordão Kuester, que pertenceu ao quadro de funcionários da Munck, e que gostaria de ver esta história contada.


- Arquivo pessoal do Senhor Fábio Kuester
- Revista Banas nº 121, 13 de dezembro de 1971 
  * O título desse artigo foi retirado de um outro, publicado nessa edição da Revista.
 - Revista Banas 12 de maio de 1975


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez