Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A FLORESTA URBANA DO SENHOR JOÃO.

"Ela queria o prazer do extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns: não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário” (CLARICE LISPECTOR).
Poderia enumerar centenas de coisas negativas que há na cidade onde moro (Cotia), elas estão em todos os lugares, à vista. Também é muito cômodo e fácil apontá-las, de tanto anunciá-las e denunciá-las parece que nos habituamos com as mazelas sociais que cercam o nosso cotidiano (às vezes lembramos que elas existem, logo depois são esquecidas momentaneamente).Que tal um olhar diferente para o nosso lugar, além do que enxergamos?

Talvez precisássemos olhar para nosso meio, além do que enxergamos,além no buraco na rua, do mau atendimento na saúde e a péssima qualidade de ensino e descobrir que há pessoas fazendo a diferença, e que passam, muitas vezes, despercebidas. São extraordinárias com gestos simples.
Há quase trinta anos tento olhar para minha cidade nos seus bastidores e descobri:artistas plásticos, poetas, poetisas, cantores, escritores,contador de histórias, ambientalistas e muito mais (que não fazem parte do grande circuito cultural, mas elas existem e são ricas na produção cultural deste lugar)––fazem acontecer algo que interfere na composição social e cultural da cidade.

Um desses casos é a do seu João Marcelino da Silva que, entre o espaço de um pequeno rio e a rua da sua casa, plantou, cultivou e cuidou de uma minifloresta em um espaço urbano deteriorado.

 O senhor João Marcelino manteve um jardim na Rua da Esperança, no Jardim Cotia, que hoje é uma floresta com espécies em extinção. Ao seu lado a d. Yolanda Moraes da Silva, sua companheira

No início da década de 1980, no Morro do Macaco (que compreende o Jardim Cotia, Jardim Coimbra e parte do Parque Turiguara),começou a ocupação de um terreno público com gente em busca de moradia e que foram, na sua maioria,expulsos pela especulação imobiliária na cidade de São Paulo O sr João Marcelino, preocupado com esse pequeno pedaço de terra, que talvez pudesse ser ocupado, começou a plantar árvores, flores e árvores frutíferas, pegou gosto pela coisa. Talvez, nessa sua iniciativa, não imaginasse que estivesse construindo ali um oásis perdido em uma cidade que cresce desorganizadamente e sem um Plano Diretor que seja levado a sério pelos seus administradores e legisladores.

             Pau-brasil (CAESALPINIA ECHINATA LAM), em extinção,que deu nome ao Brasil.Acervo da mimifloresta do sr. João
Há quem prefere culpar só os políticos pelos descaminhos da cidade, até mesmo em dizer que não gostam da cidade por causa deles. Os políticos formam uma parte ínfima da população e não podem ser responsabilizados sozinhos pelas mazelas da cidade, afinal, existe eleição de quatro em quatro anos. Talvez, essa coisa de não gostar da cidade e ter os políticos para serem responsabilizados por quase tudo, deixamos de exercer o nosso papel de cidadão como deveria ser exercido. O sr. João, com sua simplicidade e vontade, apresentou uma alternativa de como ocupar um espaço urbano com inteligência e criatividade e, melhor ainda, exercendo sua cidadania efetiva e afetivamente


                                   Araucária em extinção também tem vários exemplares na Floresta do sr.João

Ali, na Rua da Esperança, no pé do Morro do Macaco, ao lado do Rio das Pedras, poluído,que deságua no Tietê, tem pé de amora (vou contar para seu pai que você namora),romã, uva japonesa (que há muito tempo não via), pau-brasil, araucária, bambu japonês, ameixa,pitanga,pinhão, acerola, abacaxi, jaca bem pertinho dos nossos olhos. É preciso preservar. Umdetalhe: parte do entulho (lixo) que é jogado no Rio e a enxurrada trazcom a chuvatem se transformado em fogão de lenha, bancos e mesinhas que formam um espaço de lazer. Tudo isso sem a interferência pública.


                 Pneus que são jogados ou trazidos pela enxurrada que são aproveitadosna infraestrutura da floresta do sr. João

Fica registrada a história de seu João Marcelino que trabalhou muitos anos no Frigorífico de Cotia, e fez a diferença.  

Colaboração: Claudio Kada Valdambrini.



quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O POETA MANUEL BATISTA CEPELOS NASCEU EM COTIA.

 
HISTÓRIA
A família de Manuel Batista Cepelos, ainda está em Cotia, uma boa pista para pesquisa sobre o poeta. Batista Cepelos nasceu em Cotia em 10 de Dezembro de 1872 e faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 8 de Maio de 1915. O escritor foi Policial, advogado, Promotor Público, Poeta, teatrólogo e Romancista.
 
OBRAS.
 
1896- A DERRUBADA-P0ESIA.
1902- O CISNE ENCANTADO-POESIA.
1906- OS BANDEIRANTES-POESIA. 
1908-VAIDADES-POESIA.
1910- O VIL METAL- ROMANCE E NOVELA
 
O escritor João Barcelos publicou o livro: Baptista Cepellos o poeta do dram brasieliro pela ed. Edicon. O Título de Eleitor foi postado pela Virgina Gonçalves  e Evaristo Barbosa Neto (Evaristo tem parentesco com o poeta). O documento apresenta um sobrinho do poeta.  
 
  

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

DENOREX: PARECE MAIS NÃO É.

Lendo o livro do escritor Bernardo Carvalho* lembrei-me de personagens que permeiam nosso cotidiano e que são muitos parecidos com o chinês (personagem central do livro Reprodução, da Companhia da Letras). Vamos lá.

 FAZENDO COMPRA NO SUPERMERCADO ASSAÍ
Oi, Professor, tudo bem com senhor? Faz tanto tempo que não te vejo. Hoje o mercado está cheio. Ontem assaltaram o mercadinho lá do Bairro. Muita violência! A maioria dos ladrões era de menores de idade. Quando era Presidente da Sociedade de Amigos de Bairro, lutamos pelo asfalto, pela iluminação, pelo esgoto e pelo posto de saúde. O povo de lá era unido. Agora a violência está feia, tomou conta. Os “de menor” não respeitam os pais e não têm educação. Esse Estatuto do Menor é para proteger esses delinquentes. Se eu fosse autoridade eu colocava em prática um projeto pra resolver.

Professor, não importava a idade, tinha que construir uma cadeia para todos eles. O que o senhor acha? Só que era o seguinte, esses menores que são protegidos pela lei têm que matar aos poucos. Com comida envenenada. Esse tipo de gente não tem como melhorar: é só exterminando. É um absurdo a gente ter que pagar estadia dessa gente na cadeia, por isso que não sobra dinheiro pra educação. Direitos Humanos o escambau! O que o senhor acha? Professor, um bom final de ano e um abraço para família, estou com pressa.
UMA MÃO LAVA A OUTRA.
Oi, Garoto,quando tempo! Lembra de mim do cursinho? Então, me formei. Quem diria que nos encontraríamos aqui no aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus. O que você está fazendo por aqui? Ah,         já sei? Eu estou trabalhando numa multinacional,Garoto,e prestando serviço aqui por um ano, a minha família continua lá. Você está na política ainda, Garoto? Então, tenho dois filhos que estão fazendo faculdade, um medicina e o outro direito. Faculdade cara, rapaz! Você sabe que nunca gostei de política. Agora, será que consegue uma vaguinha na prefeitura, ia me ajudar muito. Apesarde não gostar de política. Que bom que vamos embarcar juntos, temos muito que conversar...Garoto, uma mão lava a outra.

 OS REBELDES DE HOJE - SEM CAUSA
Cara, os caras se venderam depois que chegaram ao poder. Continuo socialista e não abro mão dos meus princípios. Fui da luta! Agora os caras estão todos inseridos no poder a serviço da burguesia e do imperialismo americano. A única saída é a luta armada.Temos que organizar os trabalhadores do campo e da cidade. Você concorda? Tem coisa que não dá para aceitar! Comecei a trabalhar muito criança, hoje tem esse tal do direito da criança (contra trabalho infantil), tem que colocar essa molecada pra trabalhar. Você concorda? Tem mais que boicotar o império do satanás,não bebococa-cola e nem como lanches no McDonalds. Neste mundo tem muita gente reacionária, cara. A nossa luta tem que ser de classe, essacoisa de minorias é reacionária. Cara, estou indo aí... Depois trocamos umas ideias. Vou curtir um barzinho com alguns amigos.

 

 

 

 
 

 




quarta-feira, 9 de outubro de 2013

"ARTERICES" DE CRIANÇAS


Todo mundo deve inventar alguma coisa, a criatividade reúne em si várias funções psicológicas importantes para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente, é o estímulo à criatividade. Ela é indestrutível. A criatividade está em toda parte (Niseda Silveira).

 Dizem que quando a criança tem uma infância recheada de brincadeiras que estimulam a imaginação e a criatividade serão adultos independentes e felizes. Talvez seja verdade. Só que criança de cidade grande é bem diferente da do interior, pelo menos no meu tempo, lá em Votuporanga. Colecionávamos gibis de super-heróis,e lá no interior eles sempre chegavam com quase trinta dias de atraso. Quando alguns de nos íamos passear na Capital e antecipávamos a chegada dos gibis, era a maior festa. Tínhamos algumas vantagens em relação às crianças da cidade grande. Colecionar bicho-de-pé, arte exclusiva do interior. Juntávamos a molecada,entrávamos no chiqueiro de alguém até pegar o tal bicho (na década de setenta era muito definido o que era brincadeira de menino e menina). Depois vinha um tempo de maturação, aquela coceira louca e frenética. Formava tipo um olho-de-peixe e assim era chamado. Essas brincadeiras simples, aos olhos de muitos, iam formando uma amizade, estabelecendo laços de confiança e companheirismo, algumas até hoje.

Também acho que criança de cidade tem suas brincadeiras. Depois da escola juntávamos a turma para jogar bola e procurar um tanquinho para dar um mergulho. Toda vez que íamos nadar escondido, nos rios ou córregos da cidade (às vezes andávamos quilômetros para encontrar um tanquinho do jeito que queríamos de baixa de muito Sol).quando chegávamos em casa sempre levávamos um castigo. Achava que alguém da turma tinha me entregado ao meu pai por ter ido escondido dele que ia nadar. Depois de adulto descobri que me pai usava uma técnica muito simples: com a mistura do sol com a água a pele ficava morena, ele passava a unha sem eu perceber e fazia um risco. O denunciante era eu mesmo. Ninguém naquela turma entregava os segredos e as “arterices” um do outro. Amizade era coisa séria. Bola queimada (nessa brincadeira as meninas participavam), corre-corre, salvo-pega, esconde-esconde, bolinha de gude, brincadeira do passa anel (era nas brincadeiras do anel que se abria espaço para os primeiros flertes) e tantas outras brincadeiras faziam parte da nossa agenda diária. Elas iam estimulando nossa criatividade e fantasias.

Hoje algumas coisas são diferentes (não que hoje seja melhor ou piorque antes, o contexto é outro). Na minha cidade do interior, tinha o guarda-noturno que, depois das dez, passava apitando e pedindo para as crianças irem para casa (íamos prontamente).Uma figura que ficávamos com medo era do juiz de menores, os adultos diziam que se ficássemos depois das dez na rua nos levaria pra delegacia. Brincávamos de olho nos carros que víamos depois desse horário, passando tanto tempo, não sei dizer se realmente existia esse personagem. Um dia, estávamos brincando de salvo-pega e alguém gritou: olha o juizado. Foi uma correria cada um para um lado. Um amigo ficou enroscado no arame farpado, levou oito pontos na coxa da perna. Ficamos uns bons dias sem aparecer na esquina da rua. Será que existia mesmo esse juizado de menores que amedrontava nossa época de criancice?