Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

LIRA PAULISTANA: BOAS LEMBRANÇAS.



                                                                                                                                                                                                                                                                                                    HOMENAGEM
                                                                                                                  Saudades Gérson Marcelino
No final da década de 70 e 80, os movimentos sociais e culturais começavam a emergir contestatoriamente contra os porões da Ditadura Militar (como dizia uma amiga na época: dita cuja). Resistência - os movimentos nesse período de transição emergiam com uma voracidade impressionante em vários lugares da cidade (São Paulo). Pequenos movimentos e locais foram tomando conta da cidade e exigindo mudanças viscerais e transformando costumes. O Lira Paulistana foi e será sempre esse lugar mágico que nos ensinou a olhar a cultura nas suas muitas facetas (foi uma escola). 




Aqui, de Cotia, de busão íamos com a trupe até o largo de Pinheiros e subíamos a Teodoro Sampaio, a pé, até o Lira (a grana era curta). A primeira vez que entramos naquele espaço foi impactante, muita gente e fumaça prá caramba e, no palco, Língua de Trapo. Inacreditável!Um sonho pra época!

De volta pra casa no primeiro busão da madrugada, entusiasmados, indagávamos que banda maluca era aquela, quebravam todos os padrões até então. Éramos Libilu (jornaltrabalho). A maioria do grupo era militante da Libilu, em cima do que tínhamos visto e ouvido, elucubrávamos altos projetos de cultura. Todas as vezes que íamos ao Lira saíamos de lá esperançosos de que podíamos pintar um quadro de um Brasil diferente.

Feira da Vila Madalena

Durante o ano esperávamos a Feira da Vila para ver as novidades, ali outro celeiro de boa cultura (estou evitando usar o termo alternativo e independente).

Com pouco dinheiro, nesse final da década de 70 e início de 80, fazíam os nosso roteiro cultural. Durante a semana esticávamos as pernas até o SESC Pompeia para assistir a gravação do Programa Fábrica do Som. Nesses espaços, ficávamos cara a cara com Aroldo de Campos, Jorge Mautner e tantos outros. Não existia esta babaquice de celebridades. Celebrávamos a inteligência.
Grátis!!!

Performance na faculdade de História da USP,show no relógio da universidade. Onde tinha uma luz que espargisse cultura,de preferência contestatória,estávamos lá. Outro critério importante era o valor que teria que ser levado em conta: ser gratuito (risos).

Não perdíamos um show no Parque do Ibirapuera e no Vale do Anhangabaú. Não me lembro do nome da peça que um grupo francês apresentou em um final de tarde no Vale. Lembro muito bem que vi e ouvi e senti. Uma peça com múltiplas linguagens: (nunca tinha visto aquilo na minha vida). Bem ali no Vale e grátis. 

Longe de qualquer saudosismo babaca e rançoso,buscávamos caminhos novos que questionassem quase tudo que fosse institucional. Queríamos falar, gritar e sermos ouvidos e propor projetos e participar da política. Que coisa bacana esse livro e o documentário do Jornalista Riba de Castro sobre o Lira Paulistana.

Li o livro e assisti o documentário com alegria e a lembrança foi reafirmada pelos cartazes artesanais e o muro do qual sempre esperávamos o próximo grafite. Confesso que quando comecei a ler o livro me coloquei como coadjuvante e saquei rapidamente que eu e meus amigos fomos protagonistas da História desse canto (encanto) da cidade de São Paulo.