HOMENAGEM
Saudades Gérson Marcelino
No
final da década de 70 e 80, os movimentos sociais e culturais começavam a
emergir contestatoriamente contra os porões da Ditadura Militar (como dizia uma
amiga na época: dita cuja). Resistência - os movimentos nesse período de transição
emergiam com uma voracidade impressionante em vários lugares da cidade (São
Paulo). Pequenos movimentos e locais foram tomando conta da cidade e exigindo
mudanças viscerais e transformando costumes. O Lira Paulistana foi e será
sempre esse lugar mágico que nos ensinou a olhar a cultura nas suas muitas
facetas (foi uma escola).
Aqui,
de Cotia, de busão íamos com a trupe até o largo de Pinheiros e subíamos a
Teodoro Sampaio, a pé, até o Lira (a grana era curta). A primeira vez que
entramos naquele espaço foi impactante, muita gente e fumaça prá caramba e, no
palco, Língua de Trapo. Inacreditável!Um sonho pra época!
De
volta pra casa no primeiro busão da madrugada, entusiasmados, indagávamos que
banda maluca era aquela, quebravam todos os padrões até então. Éramos Libilu (jornaltrabalho). A
maioria do grupo era militante da Libilu, em cima do que tínhamos visto e ouvido,
elucubrávamos altos projetos de cultura. Todas as vezes que íamos ao Lira saíamos
de lá esperançosos de que podíamos pintar um quadro de um Brasil diferente.
Feira
da Vila Madalena
Durante
o ano esperávamos a Feira da Vila para ver as novidades, ali outro celeiro de
boa cultura (estou evitando usar o termo alternativo e independente).
Com
pouco dinheiro, nesse final da década de 70 e início de 80, fazíam os nosso
roteiro cultural. Durante a semana esticávamos as pernas até o SESC Pompeia
para assistir a gravação do Programa Fábrica do Som. Nesses espaços, ficávamos
cara a cara com Aroldo de Campos, Jorge Mautner e tantos outros. Não existia
esta babaquice de celebridades. Celebrávamos a inteligência.
Grátis!!!
Performance
na faculdade de História da USP,show no relógio da
universidade. Onde tinha uma luz que espargisse cultura,de preferência
contestatória,estávamos lá. Outro critério importante era o valor que teria que ser
levado em conta: ser gratuito (risos).
Não
perdíamos um show no Parque do
Ibirapuera e no Vale do Anhangabaú. Não me lembro do nome da peça que um grupo francês
apresentou em um final de tarde no Vale. Lembro muito bem que vi e ouvi e
senti. Uma peça com múltiplas linguagens: (nunca tinha visto aquilo na minha
vida). Bem ali no Vale e grátis.
Longe
de qualquer saudosismo babaca e rançoso,buscávamos caminhos novos que
questionassem quase tudo que fosse institucional. Queríamos falar, gritar e sermos
ouvidos e propor projetos e participar da política. Que coisa bacana esse livro
e o documentário do Jornalista Riba de Castro sobre o Lira Paulistana.
Li
o livro e assisti o documentário com alegria e a lembrança foi reafirmada pelos
cartazes artesanais e o muro do qual sempre esperávamos o
próximo grafite. Confesso que quando comecei a ler o livro me coloquei como
coadjuvante e saquei rapidamente que eu e meus amigos fomos protagonistas da História
desse canto (encanto) da cidade de São Paulo.
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