A maior riqueza do
homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Manoel de Barros
Deus, porque tem levado tanta
gente querida?
Prof. Zé Roberto, era assim que
os alunos de História de Moema o chamavam. Não importava o horário da sua aula na
grade de disciplinas da Faculdade, estávamos na sala de aula esperando a
novidade da noite. Sempre uma boa aula.
O Prof. Zé, com seu entusiasmo e conhecimento, era o nosso presente. Reflexão.
Uma aula dele era uma lição de vida. As aulas eram tão fortes e marcantes que
ficávamos depois do horário para discutir temas interessantes propostos pelo
mestre.
A aula na grade podia ser a
última da sexta feira, mesmo assim a sala estava cheia de alunos entusiasmados
para saber que pedaço do conhecimento iria desmistificar aqueles momentos
difíceis que vivíamos. O Zé tinha este dom de encantar. Movimentos sociais eclodiam. Os militares
resistiam. Greves. Diretas Já! Movimentos culturais surgiam de todo lado.
Alunos inquietos e loucos para participar. Alunos que queriam adquirir
conhecimento para entender o que estava acontecendo. Foi neste contexto de
efervescência que entrou o Prof. Zé Roberto generosamente em nossas vidas.
Prof. Zé Roberto
O Prof. Zé não se comunicava com
seus alunos de cima de um pedestal. O Prof. Zé não era igual aos seus alunos. O
Prof. Zé se comportava como um educador. O que intermediava e enriquecia esta relação
com seus alunos era o conhecimento. O
seu conhecimento pessoal também! Tinha uma capacidade quase única e pontual no
uso da fala. Nunca exagerava ou falava
de menos. Pontual. Profundo. O Prof. Zé tinha uma capacidade imensa de ouvir. Quando
opinava, acolhia. O interpelador falava incansavelmente e o mestre ouvia com
toda paciência do mundo sem falar uma palavra. Ouvia calmamente. Depois da
conversa o aluno se levantava satisfeito com o silêncio e muitas vezes com as
respostas que encontrava em si. Foi com
o mestre Zé que aprendi que o silêncio também fala.
Aproveitávamos da sua
generosidade. Quando precisávamos de um aconselhamento, aconselhava com carinho
e amor. Não brincava com os nossos sentimentos. Não mentia. Não iludia.
Apontava caminhos. Não apontava o caminho certo ou torto. Dava ferramentas para
o aluno construir seu caminho. Um educador com uma postura impecável. Conversar com o Prof. Zé era aprender como se
deve respeitar o conhecimento. Respeitar a vida. Tinha uma enorme facilidade de mostrar como
éramos importantes. Assim era o mestre Zé.
Reencontramo-nos anos depois para
organizarmos o Projeto de Educação para Secretaria de Educação de Cotia.
Juntamos nesta época um fabuloso grupo de educadores. O mestre apontava
caminhos sólidos com seu conhecimento. Um homem enriquecedor. Assumimos a Secretaria da Educação depois de
uma eleição para Secretário e o Prof. Zé assumiu a Coordenação do Departamento Pedagógico.
Brilhou. Novamente contamos com sua generosidade. Os seus cursos de História da
Arte eram incríveis. Os seus cursos eram concorridos. Não brilhou sozinho, fez com que brilhássemos.
Coletivo. Resta lamentar esta partida tão cedo, meu Deus!
Não era um homem completo - ainda
bem - brilhava na sua incompletude. Sabia como ninguém socializar seu
conhecimento. Era um encantador de gente.
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