Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

terça-feira, 14 de junho de 2011

QUEBRANDO TABUS


Tentei resistir para não escrever sobre assuntos polêmicos, dos quais não tenho domínio, mas não consegui. A inquietação tomou conta da minha alma.  
Assuntos delicados deveriam ser escritos por especialistas e solucionados por ações concretas de política pública, mas vou me atrever a dar minha singela opinião, mesmo correndo o risco de escrever bobagens e de fazer comentários ingênuos ou julgamentos descabidos.  Esta  água turva que está tocando meus pés, há muito tempo me incomoda, e a omissão é uma aceitação dos fatos. Vou usar da experiência de Professor em sala de aula e de Secretário da Educação para contar algumas histórias de gente que esteve envolvida com drogas ilícitas e o quanto a vida delas e de suas famílias virou de cabeça para baixo. Para resguardar as pessoas, os nomes usados aqui são fictícios.
Lembro de quando falávamos de drogas na escola, há  um tempo atrás. Era algo distante, mas  com o passar dos anos, elas se aproximaram, e mais recentemente  saltaram o muro da escola, impregnando o ambiente escolar.
O Antônio era um destes meninos diferentes dos outros alunos. Usava cabelo com cortes que chamavam a atenção, e quando quase nenhum menino usava brinco ele já tinha o seu enfeitando as orelhas. Era do tipo corajoso. Curtia Rock, usava jeans surrado e começou a fumar maconha e a usar outras drogas. Até aqui podemos tirar a seguinte conclusão, apressadamente: este jeito dele já poderia ser um sinal de que ele estivesse usando drogas. O que  precisamos é evitar tirar conclusões simplistas, para não cair no erro de criar estereótipos que não correspondem à verdade.
Este amigo, “do nada” deixou de frequentar a escola, e reapareceu no ano seguinte. Muitas perguntas e informações duvidosas surgiram entre os amigos neste período de ausência: “O Antonio está preso!”, “Está trancado dentro de casa!”,  “Virou mendigo.” – e algumas conversas mais imaginativas já anunciavam sua morte. Quando reapareceu, ele contou sua história de recuperação em uma clínica, com total apoio dos pais.
“― Cara, na primeira semana fiquei trancado em um quarto. Via baratas, ratos e outros bichos  e achei que ia ficar louco.”
Ganhamos o amigo de novo e alegria na sala de aula. Não demorou muito tempo e Antônio voltou novamente para as drogas e abandonou a escola. Antonio passou pela maconha, pela cocaína e pelo crack, e por várias internações. A última internação dele, já com quarenta e cinco anos, eu acompanhei de perto. Além das drogas ilícitas ele tinha adicionado ao seu currículo o álcool,  esta droga que é licita, mas que fez um estrago ainda maior na sua vida. Hoje ele está recuperado. Sabe da sua doença e se vigia vinte e quatro horas por dia. É importante ressaltar neste caso, que a presença dos pais foi fundamental para a sua recuperação.         
Com a “geração do crack” as histórias são mais trágicas. Num dia de aula fui tirado da sala aos gritos de alunos que anunciavam a morte de uma aluna. A Mônica tinha sido encontrada assassinada em um matagal atrás da escola, com o corpo desfigurado. Vários tiros no rosto! Ela era uma menina bonita, conversadeira, alegre e sempre disposta a ajudar os amigos, boa aluna. Mônica ultimamente andava estranha, as faltas às aulas aumentavam e aquela alegria foi trocada pelo silêncio e o rosto carrancudo. Arredia.
História curta, a da Mônica com o crack: até a morte, dois meses. Os pais não sabiam do envolvimento dela com as drogas, e para eles a filha  ainda era uma menina tranquila. A escola percebeu mudanças comportamentais, mas nada fez, pois estava despreparada para lidar com questões que fugiam do seu conhecimento. Os pais não perceberam que a filha não era mais uma menininha, e sim uma adolescente que agora precisava de muita atenção e cuidado.
A última história é a do João, que até outro dia usava calça curta e que aos poucos foi mudando, e começou a usar coca e crack. O primeiro sinal de que alguma coisa estava errada foi quando a mãe percebeu que começaram a sumir objetos em casa.  João, desde os 13 anos, continua vivendo assim, de pequenos roubos. Até quando?
Existem programas de prevenção nas escolas municipais e estaduais, e existem clínicas particulares, que cuidam de dependentes, mas que são absurdamente caras. É triste registrar, também, que o tratamento público ainda é precário e até mesmo inexistente em algumas cidades. As drogas estão batendo às nossas portas e levando nossos filhos.
Fica uma sensação de impotência.

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez 

Um comentário:

  1. INCRÍVEL, PROFESSOR!!!
    AS HISTÓRIAS SEMPRE SE REPETEM E QUASE SEMPRE NÃO HÁ SAÍDA NESTA ESTRADA QUE LEVA À AUTODESTRUIÇÃO.
    ACREDITO AINDA NO BOM DIÁLOGO E NA FORÇA DO AMOR.
    ACREDITO AINDA QUE É POSSÍVEL "LIBERTAR" JOVENS COM A FORÇA DA PALAVRA DE MÃOS DADAS COM A PERSISTÊNCIA = PERSEVERANÇA - O NUNCA DESISTIR!!!

    TIVE
    TENHO
    TEREI

    ESSES JOVENS NO MEU CAMINHO DE MESTRE!!!

    QUE DEUS ME DÊ FORÇAS PARA NUNCA DESISTIR.

    OBRIGADO, MEU QUERIDO MESTRE!!!


    UM ABRAÇÃO!!!

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