Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 26 de março de 2012

CRONIQUINHAS COTIANAS



O CASAMENTO

COISAS DE ALEX GAILEY & ADRIANE ZANDER GAILEY...

Outro dia fui convidado para ser padrinho de casamento e aceitei de pronto, pois o casal em questão já tinha quase uma vida juntos e três filhos maravilhosos, além de serem meus amigos, claro. A convivência deles me deixou tranquilo, pois já tinha sido padrinho de outros casamentos, que com o tempo terminaram, deixando tristeza em todos. Mas esta renovação de votos com certeza vai durar muito ainda, muito mais do que as quase duas décadas em que Alex e Adriane já teceram suas histórias. Isso transparece no semblante do casal, em cada olhar, em cada toque. Os olhos dos filhos brilhavam a cada etapa do simbolismo da cerimônia. Mas tinha alguma coisa diferente ali...


  Foto: Luciana Klein

Sim! Havia aquelas coisas normais de casamento como atrasos, todos ansiosos com a chegada dos noivos, o pessimista de sempre no meio de toda a agitação, que sussurra: “Será que o noivo vai aparecer?” Ou: “Será que a noiva vem mesmo?” A música anuncia a chegada triunfal da noiva e estranhamente ouve-se lá fora um barulho ensurdecedor, como se fosse de uma motosserra (barulho comum ultimamente aqui na cidade), e na confusão que se seguiu entra o noivo de moto, rompendo o espaço pelo templo até o altar. Com muita emoção os convidados o seguem com os olhos e ele desce da moto como um guerreiro celta, de kilt branco, homenageando a sua origem familiar. Foi o melhor casamento do qual participei! QUE SEJAM FELIZES PARA SEMPRE!

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 12 de março de 2012

AMPLIAÇÃO DA RAPOSO TAVARES: UMA SOLUÇÃO PALIATIVA



O espaço não pode ser estudado como se os objetos materiais que formam a paisagem trouxessem neles mesmos sua própria explicação. Isto seria adotar uma metodologia puramente formal, espacista, ignorando que ocasionaram as formas. Como analisar esta relação entre a estrutura e a forma, a sociedade e a paisagem? (Santos, Milton. Pensando o espaço do homem. Ed EDUSP, 2004, p. 58)

Não é de hoje que a ampliação da Raposo Tavares faz parte do imaginário dos antigos moradores, sempre associada à ideia de desenvolvimento e progresso. Com um processo ainda tímido de urbanização na década de cinquenta, que se acentua no final de 60, as conversas e brincadeiras sobre a rodovia eram de que muitos moradores partiriam para o outro lado da vida e a tal ampliação não aconteceria. Ela chegou no início de dois mil e a metonímia “a Raposo está parada” é quase todos os dias entoada por moradores antigos e novos da cidade, que vivem o stress do congestionamento quase diário da antiga rodovia São Paulo-Paraná. 

Se a ampliação da rodovia não for pensada e planejada considerando a complexidade que a envolve, de nada adiantará qualquer tipo de intervenção neste trecho da estrada que corta Cotia. Tempos depois, iremos novamente ouvir os lamentos de que “a Raposo” está parada. O poeta e arquiteto Mário Luiz Savioli, em seu livro[1] aborda a rodovia Raposo Tavares como a espinha dorsal que permeou e permeia o desenvolvimento da cidade. O livro é uma referência de informação e dados estatísticos e históricos que balizam uma discussão sóbria sobre uma possível ampliação da rodovia, considerando que ela está encravada na região metropolitana de São Paulo. A ampliação deve levar em conta a Raposo e Cotia, a metrópole e as cidades circunvizinhas. Sem isso é chover no molhado.

Ora, precisamos antes olhar para o próprio umbigo. É primordial colocar o Plano Diretor[2] da cidade em ação, inclusive para que possamos cobrar qualquer intervenção efetiva do estado ou da federação na ampliação da estrada. É preciso fazer a lição de casa também. E ai a participação da sociedade civil organizada é importante e o envolvimento da Câmara Municipal e do poder executivo é fundamental. A cidade de São Paulo já vem desde o final da década de oitenta colocando em prática restrições à circulação de caminhões no centro, que foi se expandindo com o tempo, com o rodízio de carros e outras ações. Mas os congestionamentos aumentam a cada dia e o caos está instalado. Não há dúvida de que o investimento em transporte público é uma das melhores saídas. 

Há um tempo atrás, dizer em tom de brincadeira que um dia o Metro chegaria a Cotia era motivo de muita chacota, hoje é visto como coisa séria e possível. Se não for o Metro será algo como um transporte de superfície. E a melhoria do transporte público interno é urgente, aproveitando melhor o transporte alternativo. A cidade não vive mais sem ele, mas precisa ser melhor regulamentado e fiscalizado, como se deve também fiscalizar acentuadamente a empresa oficial de transporte da cidade, que deixa seus serviços a desejar. Assim, com o pé no chão e cheios de esperança, podemos dar os primeiros passos para um trânsito melhor na Raposo Tavares. Quem sabe um dia possamos deixar o carro em casa e usar este transporte público com decência. Enquanto isso, só nos resta reclamar!


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez



[1] SAVIOLI, Mário Luiz. A cidade e a estrada – As transformações urbanas do Município de Cotia ao longo da Raposo Tavares. Ed. Edicon.

[2] Observação: plano que prevê o desenvolvimento global da cidade.

quinta-feira, 8 de março de 2012

CRONIQUINHAS COTIANAS



A VIDA COMO ELA É...

Outro dia levei uma visita para conhecer a Igreja Matriz de Cotia, dedicada a Nossa Senhora do Mont Serrat. Enquanto palestrava sobre a importância desse patrimônio histórico da cidade, fundada em 1713 nas terras do senhor Estevam Lopes de Camargo, uma senhora me espiava para cada canto da nave que eu ia. Naquele momento várias pessoas rezavam com fervor, cada uma com seu pedido. A senhora finalmente me abordou. Tinha os olhos verdes, tristes, e o rosto marcado pelo tempo. Pensei: “- Será que vai me pedir algo que não posso oferecer?”. Antes mesmo que terminasse o pensamento o pedido de socorro saiu dos lábios já cansados de contar o mesmo drama: “Tenho um filho de dez anos, usuário... chegamos da Bahia há um ano... ele sai no início da noite e só volta de madrugada. O senhor pode me ajudar?”... A vida...


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

domingo, 4 de março de 2012

PINHEIRINHO AINDA EXISTE!



Logo que houve a desocupação dos moradores do Pinheirinho em São José dos Campos, escrevi uma pequena nota de indignação com a forma tão agressiva que se deu o fato. Resolvi guardar o que escrevi, pois os números das informações no calor do momento poderiam estar mostrando algo que não fosse verdadeiro. Passado pouco tempo do ocorrido as manchetes da mídia desapareceram e deram lugar a outras notícias, afinal o índice do ibope fala mais alto que a vida.  A imprensa, no geral, tratou o assunto com superficialidade, deixando a ideia que ali estavam sendo desalojados um bando de desocupados e marginais. Mas a história não é bem assim.

Quando alguém resolveu perguntar de quem era a responsabilidade da ação desumana praticada ali, imediatamente houve a partidarização. O governo federal culpou o estadual e o estadual culpou o federal, de olho nas eleições municipais. Enquanto isso, famílias inteiras ficaram perambulando com suas crianças, como zumbis, pela cidade. Outra pergunta foi feita em meio à pancadaria instaurada: “- Há quando tempo existe o Pinheirinho?” Deu nó na garganta de muita gente, mas a resposta apareceu. Uma década! Com certeza algum candidato a um cargo no poder legislativo ou executivo vendeu o sonho da casa própria para essa gente. Será? Isto também já ocorreu em Cotia. Desatando o nó, uma única pergunta: em 10 anos de Pinheirinho nada foi feito, nenhuma obra pública? Nenhuma. Com a iminência da desocupação durante esses anos todos, nenhuma ação prática dos órgãos públicos foi realizada. Alguém tem que segurar essa batata quente e pode ser o povo, que mais uma vez foi excluído.

A cobertura da imprensa foi lamentável. Valorizando só o espetáculo, ora mostrava o lugar como só de marginais, ora de drogaditos associados ao tráfico e ora de desocupados e de partidários radicais prontos para enfrentar a polícia. Imaginem quem está em casa diante da televisão vendo e ouvindo estas imagens e falas? Alguns artigos absurdos “informaram” que a desocupação fez aumentar o número de roubos e furtos na cidade, sem nenhum dado de comparação, sem nenhuma investigação. Para quem observava de fora, parecia que São José tinha se tornado uma babilônia. Apesar do Pinheirinho ter saído do noticiário ele existe e está recheado de gente que tem história de vida e que está precisando da sua solidariedade.

No Facebook conheci a Carmen Sampaio, que vem realizando um trabalho com muitas outras pessoas no sentido de construir o que foi desconstruido. Cada um de nós pode ajudar com móveis e carinho, por exemplo. No “Face” tem a página “Pinheirinho Existe” e também há o blog “Somos Todos do Amor”, onde está uma lista das necessidades mais urgentes das pessoas.

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

sábado, 3 de março de 2012

CRONIQUINHAS COTIANAS


 
Terça-feira de manhã é dia de feira livre no Bairro do Portão

A feira do Portão há alguns anos atrás era comprida de perder de vista e agora cabe na palma da mão... mas continua com aquele ar saudoso de feira de interior. Todo mundo se conhece:

— Oi, D. Maria!

— Como está a Zezinha do Diogo?... Olha ela...

Aí a conversa emenda com a outra e se perde no tempo. Nessa bucólica feira das terças, a única garantia que a gente tem é que o peixe é o melhor da cidade e o atendimento é ainda melhor. O anúncio de que a feira está montada e funcionando é quando o cheiro do pastel do japonês bate aqui na janela de casa.

— Vamos? Sacolas recicladas na mão e já pra feira do Portão!

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez
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