Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

ESQUENTA A DISCUSSÃO: BULLYING


"Eles diziam que balé não era coisa de homem."
Em um desses domingos o Programa Esquenta, comandado pela divertidíssima Regina Casé, nos agraciou com a apresentação de bailarinos da Escola de Balé Bolshoi de Joinvile. Uma apresentação que emocionou a todos, uma pequena apresentação da peça “O Quebra-nozes”, de Tchaikovsky.
A apresentadora Regina Casé, como sempre, sabe tirar sentimentos nobres de seus entrevistados. Ao conversar com meninas e meninos da Escola Bolshoi, mostrou o quanto é difícil participar dessa companhia de balé. Os testes são concorridíssimos. Cada criança entrevistada, ao contar sua caminhada, custava aos ouvintes acreditar que tão novos buscam realizar seus sonhos com sacrifício, abrindo mão de coisas na vida que muito de nós não abriríamos.

O menino Giovane Santana, de 12 anos, deixou muita gente em lágrimas no auditório e certamente nas casas que o assistiam.  Quando começou a contar sua caminhada para chegar ao Bolshoi, disse que estava na casa da avó, no interior da Bahia, e assistiu a algumas cenas de balé na televisão. Disse para a mãe, “é isso o que eu quero ser – bailarino.” Determinado. A mãe acreditou no sonho do filho e trilharam juntos o caminho árduo.

Ao contar do preconceito que enfrentou pela sua decisão, caiu aos prantos e fez muita gente chorar. “- Ouvi que balé não era coisa de homem e sim de viadinho.” Giovane chamou nossa atenção para uma questão que muitas vezes não relevamos e não percebemos: que o preconceito está dentro da nossa própria casa. Debaixo do nosso teto.  

Quantas vezes maldissemos os nossos filhos e filhos dos outros com palavras depreciativas. Talvez muitos de nós não tenhamos conseguido ser diferentes na educação dos nossos filhos, pois fomos educados com comentários preconceituosos. Até inconscientemente repetimos o jeito de educar dos nossos pais. Podemos mudar. Sem culpa.

Quando é que a ficha vai cair que voz, roupa, cabelo e outros estilos não definem sexualidade de ninguém? O padrão de que mulher brinca de boneca e homem de carrinho e tem que gostar de futebol não define a sexualidade de ninguém. É muito mais fácil acreditar em opinião mal dada do que aceitar a diferença. Respeitar o próximo exige mudança interior.  

Uma opinião preconceituosa pode aniquilar um sonho. Imagina se o Giovane, da cidade de Caldas de Cipó, na Bahia, não estivesse determinado na busca do seu sonho? O preconceito teria vencido. O preconceito nasce dentro de casa e muitas vezes reforçamos dentro da escola e outros lugares. Até quando?

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

O FACEBOOK TAMBÉM É UMA BOSTA.


Passei dias observando as críticas dos internautas a quase todos os assuntos. Cada absurdo! Um grupo defende sem qualquer análise histórica que temos que nos organizar contra a invasão comunista vinda de Cuba. Cuba mal se segura nas próprias pernas, imagina se eles estão preocupados em exportar comunismo além da suas fronteiras. A guerra fria acabou faz tempo. Pior ainda é acreditar que podem invadir o Brasil. Acreditar nesta invasão comunista é o mesmo que acreditar que o personagem de terror Freddy Krueger é real.

Outro tema que bomba no Face é Deus.  – Deus, com todo respeito que o Senhor merece e como cristão, já pedindo desculpas, existe uma verdadeira avacalhação com Seu nome e com Seus ensinamentos.  No mesmo post que alguns louvam, outros chamam os irmãos de lixo. Isto é contraditório né, Deus? Talvez possa ser que estes devotos estejam lendo o Velho Testamento (olho por olho e dente por dente). Será? Tudo é possível para o fanatismo religioso.

Deus, usar seu nome virou um bom negócio: outro dia passou aqui perto de casa um fusca bem velho, com uma fase escrita no vidro traseiro: Deus me deu. Aqui entre nós, o Senhor poderia ter dado um carro melhor. Sabe, parece que as pessoas esqueceram que Seu sobrenome é compaixão. Bem diferente de negócio financeiro. Mas sabemos que religião virou um bom negócio.  Sabemos que o Senhor anda muito ocupado, porém, quando tiver um tempo dê uma passadinha pelas páginas das redes sociais e poderá ver os absurdos com Seus próprios olhos.

Um outro assunto corriqueiro no Face é falar mal de político. Ladrão. Tomara que morra. Lixo. E tantos outros adjetivos impróprios para este texto. Como posso acreditar em alguém que chama outro de lixo? Como posso acreditar em alguém que deseja a morte de outro ser humano? Fica difícil acreditar... mesmo xingar uma mulher de vaca. Não curto este tipo de depreciação. O que esperar de gente que age assim? São iguais ou até piores que os políticos que estão aí.  

Depreciar alguém porque é negro. Depreciar alguém porque é nordestino. Depreciar alguém porque pensa diferente daquilo que você acha que é verdade absoluta. Ignorância e preconceito são almas gêmeas. Na net realmente tem um monte de bosta sendo falada sem noção alguma. A bondade expressa no Facebook é aparente. Ela não lhe questiona? Criamos a falsa ilusão de que somos só bonzinhos. Enganamo-nos.

Quer algo mais escrotro do que o “fake”?  Cria-se uma identidade falsa para atacar covardemente o outro. Sem nenhuma piedade. Sem nenhuma defesa. Pode até ser um desafeto da pessoa agredida, mas mesmo assim, não se justifica tal leviandade. E ainda se não bastasse a estupidez, justifica-se o ato de ser falso atribuindo a si suposta perseguição. Covardia!

Também não é tudo que se publica no Face que é bosta! Tem gente que, para além dos adjetivos depreciativos, posta bons textos e vídeos. Essas pessoas respeitam as diferenças. Nem tudo está perdido.  

SER FILHO ÚNICO É UMA ETERNA SOLIDÃO


Não é fácil ser filho único. Pense que nunca terá um irmão para brigar. Nunca terá um irmão para dividir as dúvidas. Nunca terá um irmão para chantageá-lo. Nunca poderá aprontar uma arte de crianças e jogar a culpa no seu irmão. Nunca terá um irmão para juntos pregarem peças nos amigos. Não terá um irmão para protegê-lo daquele cara que ameaça lhe dar uma surra depois das aulas. Neste caso terá que se livrar sozinho do grandalhão. Solidão. Sua mãe sempre o tratará como um indefeso diante do mundo. Vai mimá-lo.

Quase todo filho único que conheço não gostaria de ser. Sonha com outras possibilidades. Primeiro, gostaria de ter muitos irmãos. Segundo, gostaria de ter nascido depois do primogênito. Quando a namorada pergunta se tem outros irmãos, ao responder, vacila: “- O que ela pensará ao ouvir que sou filho único?” Tenho amigas que não namoram de jeito nenhum homens que sejam filhos únicos - quase todo filho único cria uma dependência emocional além da normalidade com sua mãe e são poucas as noras que suportam esta concorrência. Insuportável! Uma concorrência impossível.

Quem se casar com um filho único, dificilmente se livrará da mãe. Alguns desejam encontrar na mulher amada atributos de sua mãe. Querem alguém que mantenha seus caprichos, que durante anos foram alimentados pela mamãe. Ser filho único não é fácil. Não é fácil ser mulher de um filho único. Tem que amá-lo exageradamente e dividi-lo com a sogra. Filhos únicos são amáveis. Sensíveis. Dengosos. Carentes. Querem receber carinho a todo tempo. Sufocam! Talvez a exigência por atenção não seja só de quem é filho único, mas não tenha dúvida que, quando o filho único casar, levará a mãe na bagagem. Aqueles que não levarem a mãe na mala levarão na alma. As noras que se preparem...

Mas também tem o lado bom: filhos únicos também sabem retribuir um carinho, sabem retribuir um dengo. Sabem retribuir um mimo. São eternos solitários, mas são parceiros. Querem calor humano. Quem não quer?


É muito bom ser filho único... 

PROJETO CICLO ÚNICO: SEM ALMA


Longe de qualquer postura ideológica de esquerda. Longe de qualquer postura ideológica de direita. Longe de qualquer partido político que aí está. Longe da postura da política do quanto pior melhor. O novo-velho projeto de Ciclo Único tem pontos positivos, mas ao implantá-lo de cima para baixo ou goela abaixo, como sempre, o governo comete os mesmos erros de projetos anteriores. Este projeto corre o risco do fracasso como outros - lembram-se da Escola Padrão? Agora o governo apresentou o projeto de Ciclo Único para os Dirigentes de Ensino, para que eles promovam uma discussão deste com a sociedade que faz parte da vida escolar da Rede Pública de Ensino. Como em outros projetos ele já está pronto e desconsidera uma rede de ensino que têm diferenças culturais abissais.

A falta de transparência do projeto ou dos seus verdadeiros objetivos provoca insegurança e medo entre os professores. Instala-se a pedagogia do medo. Ao transformar uma unidade escolar em Ensino Fundamental ou Ensino Médio, como fica a vida administrativa do professor? Como será atribuição de salas de aulas no próximo ano? A escola que funcionava com três ciclos diferentes passa a ter apenas o Ensino Médio. Como fica a vida deste professor que trabalha no Ciclo I do Ensino Fundamental? São perguntas aparentemente simples, mas ao não serem esclarecidas, provocam alvoroço. Tornam-se fantasmas. Existe um medo do que os governos querem esconder, o que de fato querem com estes projetos.  A municipalização? Diminuir o número de salas e dispensar professores?  
Quando a discussão não é transparente a desinformação toma conta, criando incerteza.

Quando se cria a incerteza, abrem-se as portas para que os oportunistas “tanto de lá, como de cá”, tirem proveito da situação e tumultuem qualquer possibilidade de esclarecimento e a esperança de que as coisas andem para a solução de um ensino melhor.

A discussão de projetos para a melhoria da educação começou com o Governo Montoro, no inicio dos anos oitenta, e de lá para cá passamos pelo Quércia, pelo Fleury. Mário Covas e Alckmin não foram competentes no sentido de equacionar os problemas da educação, enquanto que o governo Montoro foi o melhor período na sugestão de mudanças na estrutura da educação.
Os projetos na sua maioria são de cunho eleitoreiro e acabam com o findar do governo. Estamos sempre conhecendo de novo. O fisiologismo é mais importante, e as questões básicas para a melhoria da educação são escamoteadas.

Não há dúvidas de que em uma escola de Ciclo Único e com condições materiais os resultados serão melhores. Porém, se não investir em salário e formação as coisa não andam, ou no máximo, andam lentas demais. A resistência é grande, e com razão.  O governo atual insiste em não querer investir nestas questões. Qualquer projeto estrutural e pedagógico tem que provocar envolvimento e não repulsa. Da década de noventa para cá o “investimento” na desumanização das relações na rede de ensino é que foi eficiente.


Uma situação não pensada neste projeto é a questão da segurança. Em muitos bairros quem define as fronteiras é o crime organizado, problema que não era tão grande ou quase não existia há duas décadas. Muitas vezes é ele que define uma fronteira em uma rua ou uma viela. Cria-se uma vulnerabilidade para o aluno. Este projeto deveria ser pensado e construído com a comunidade escolar e não implantado. Nasce sem alma, não se cria uma relação de compromisso e entrega. Por que os projetos dos últimos anos são sem vida? São para inglês ver. Enquanto isso, no Estado de São Paulo os índices de educação são pífios. Existe uma separação enorme entre quem está em cima da pirâmide e aqueles que colocam a mão na massa. Existe uma desconexão nesta relação.   

sábado, 10 de outubro de 2015

É MUITO BOM SER CRIANÇA


Quando nos tornamos adultos, esquecemos que um dia fomos crianças. Quer coisa mais chata, quando um adulto com o dedo em riste anuncia publicamente que você não pode se comportar de certa maneira, pois está crescendo? Este tipo de atitude deixa qualquer criança confusa. O que é crescer, ser adulto? Pode até ser que essa coisa de ficar adulto não seja tão legal, se o referencial de quem fala não for tão positivo. Outro conselho sem noção é quando um adulto mantém viva dentro de si atitude que supostamente é atribuída a crianças e é alertado de que tal comportamento não combina com sua idade. Este tipo de alerta chega até a desconcertar a pessoa.

Que criança ou adulto não tem uma boa história para contar de uma arte que fez e guarda até hoje? Se tiver uma, conte então...

Sorriso de criança não pode ser para sempre? Alegria de criança não é para sempre? Espontaneidade de criança não é para sempre? Honestidade de criança não é para sempre? Um abraço de criança não é para sempre? Um gesto de carinho de criança não é para sempre? Um conselho de criança é muito bom de ser ouvido, quando achamos que ele merece ser escutado, porém, frente à dica de uma criança, agimos de forma imperativa: “– Que experiência de vida você tem para me dar conselhos?”   “– Cala a boca, pirralho!” Quase sempre achamos que não é muito importante escutar... Parece que quando ficamos adultos esquecemos e endurecemos os sentimentos. Bobagem.

Que criança, com olhos esbugalhados no escuro do quarto, não solicitou a presença dos pais para contar uma história até que dormisse?

Diga-me com todas as palavras, afinal, o que é ser adulto? Esquecer o sorriso? Esquecer a espontaneidade? Esquecer a honestidade? Esquecer de abraçar? Esquecer de um gesto de carinho? Nasci. Sou bebê. Sou criança. Sou adolescente. Sou adulto.  Nesta simples visão cronológica trazemos experiências e vivências que vão se acumulando e nos transformam em uma pessoa interessante, e por isso tenho uma única certeza: a vida não se divide em partes isoladas.
Quando queremos transformar-nos em adultos, esquecemo-nos destas experiências e vivências sem considerar que cada uma foi importante para os adultos que somos. Não estancamos os sentimentos da infância ou de qualquer outra fase. Eles coexistem.    

Qual criança que nunca brincou de caça ao tesouro, pega-pega, esconde-esconde e outras brincadeiras?

É uma delícia guardar dentro de si um bocado de criancices...