"Eles diziam que balé não era coisa de homem."
Em um desses domingos o Programa Esquenta, comandado pela
divertidíssima Regina Casé, nos agraciou com a apresentação de bailarinos da
Escola de Balé Bolshoi de Joinvile. Uma apresentação que emocionou a todos, uma
pequena apresentação da peça “O Quebra-nozes”, de Tchaikovsky.
A apresentadora Regina Casé, como sempre, sabe tirar
sentimentos nobres de seus entrevistados. Ao conversar com meninas e meninos da
Escola Bolshoi, mostrou o quanto é difícil participar dessa companhia de balé.
Os testes são concorridíssimos. Cada criança entrevistada, ao contar sua
caminhada, custava aos ouvintes acreditar que tão novos buscam realizar seus
sonhos com sacrifício, abrindo mão de coisas na vida que muito de nós não abriríamos.
O menino Giovane Santana, de 12 anos, deixou muita gente em lágrimas
no auditório e certamente nas casas que o assistiam. Quando começou a contar sua caminhada para
chegar ao Bolshoi, disse que estava na casa da avó, no interior da Bahia, e
assistiu a algumas cenas de balé na televisão. Disse para a mãe, “é isso o que
eu quero ser – bailarino.” Determinado. A mãe acreditou no sonho do filho e
trilharam juntos o caminho árduo.
Ao contar do preconceito que enfrentou pela sua decisão, caiu
aos prantos e fez muita gente chorar. “- Ouvi que balé não era coisa de homem e
sim de viadinho.” Giovane chamou nossa atenção para uma questão que muitas
vezes não relevamos e não percebemos: que o preconceito está dentro da nossa
própria casa. Debaixo do nosso teto.
Quantas vezes maldissemos os nossos filhos e filhos dos outros
com palavras depreciativas. Talvez muitos de nós não tenhamos conseguido ser
diferentes na educação dos nossos filhos, pois fomos educados com comentários
preconceituosos. Até inconscientemente repetimos o jeito de educar dos nossos
pais. Podemos mudar. Sem culpa.
Quando é que a ficha vai cair que voz, roupa, cabelo e outros
estilos não definem sexualidade de ninguém? O padrão de que mulher brinca de
boneca e homem de carrinho e tem que gostar de futebol não define a sexualidade
de ninguém. É muito mais fácil acreditar em opinião mal dada do que aceitar a
diferença. Respeitar o próximo exige mudança interior.
Uma opinião preconceituosa pode aniquilar um sonho. Imagina
se o Giovane, da cidade de Caldas de Cipó, na Bahia, não estivesse determinado
na busca do seu sonho? O preconceito teria vencido. O preconceito nasce dentro
de casa e muitas vezes reforçamos dentro da escola e outros lugares. Até
quando?