Longe de qualquer postura
ideológica de esquerda. Longe de qualquer postura ideológica de direita. Longe
de qualquer partido político que aí está. Longe da postura da política do quanto
pior melhor. O novo-velho projeto de Ciclo Único tem pontos positivos, mas ao
implantá-lo de cima para baixo ou goela abaixo, como sempre, o governo comete
os mesmos erros de projetos anteriores. Este projeto corre o risco do fracasso
como outros - lembram-se da Escola Padrão? Agora o governo apresentou o projeto
de Ciclo Único para os Dirigentes de Ensino, para que eles promovam uma
discussão deste com a sociedade que faz parte da vida escolar da Rede Pública
de Ensino. Como em outros projetos ele já está pronto e desconsidera uma rede
de ensino que têm diferenças culturais abissais.
A falta de transparência do
projeto ou dos seus verdadeiros objetivos provoca insegurança e medo entre os
professores. Instala-se a pedagogia do medo. Ao transformar uma unidade escolar
em Ensino Fundamental ou Ensino Médio, como fica a vida administrativa do
professor? Como será atribuição de salas de aulas no próximo ano? A escola que
funcionava com três ciclos diferentes passa a ter apenas o Ensino Médio. Como
fica a vida deste professor que trabalha no Ciclo I do Ensino Fundamental? São
perguntas aparentemente simples, mas ao não serem esclarecidas, provocam
alvoroço. Tornam-se fantasmas. Existe um medo do que os governos querem
esconder, o que de fato querem com estes projetos. A municipalização? Diminuir o número de salas
e dispensar professores?
Quando a
discussão não é transparente a desinformação toma conta, criando incerteza.
Quando se cria a incerteza, abrem-se
as portas para que os oportunistas “tanto de lá, como de cá”, tirem proveito da
situação e tumultuem qualquer possibilidade de esclarecimento e a esperança de
que as coisas andem para a solução de um ensino melhor.
A discussão de projetos para a
melhoria da educação começou com o Governo Montoro, no inicio dos anos oitenta,
e de lá para cá passamos pelo Quércia, pelo Fleury. Mário Covas e Alckmin não
foram competentes no sentido de equacionar os problemas da educação, enquanto
que o governo Montoro foi o melhor período na sugestão de mudanças na estrutura
da educação.
Os projetos na sua maioria são de
cunho eleitoreiro e acabam com o findar do governo. Estamos sempre conhecendo
de novo. O fisiologismo é mais importante, e as questões básicas para a
melhoria da educação são escamoteadas.
Não há dúvidas de que em uma
escola de Ciclo Único e com condições materiais os resultados serão melhores. Porém,
se não investir em salário e formação as coisa não andam, ou no máximo, andam
lentas demais. A resistência é grande, e com razão. O governo atual insiste em não querer investir
nestas questões. Qualquer projeto estrutural e pedagógico tem que provocar
envolvimento e não repulsa. Da década de noventa para cá o “investimento” na
desumanização das relações na rede de ensino é que foi eficiente.
Uma situação não pensada neste
projeto é a questão da segurança. Em muitos bairros quem define as fronteiras é
o crime organizado, problema que não era tão grande ou quase não existia há
duas décadas. Muitas vezes é ele que define uma fronteira em uma rua ou uma viela.
Cria-se uma vulnerabilidade para o aluno. Este projeto deveria ser pensado e
construído com a comunidade escolar e não implantado. Nasce sem alma, não se
cria uma relação de compromisso e entrega. Por que os projetos dos últimos anos
são sem vida? São para inglês ver. Enquanto isso, no Estado de São Paulo os
índices de educação são pífios. Existe uma separação enorme entre quem está em cima
da pirâmide e aqueles que colocam a mão na massa. Existe uma desconexão nesta
relação.
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