Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

JOSÉ ROBERTO SANTOS PEREIRA: ENCANTADOR


A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. 
Manoel de Barros
Deus, porque tem levado tanta gente querida?

Prof. Zé Roberto, era assim que os alunos de História de Moema o chamavam. Não importava o horário da sua aula na grade de disciplinas da Faculdade, estávamos na sala de aula esperando a novidade da noite.  Sempre uma boa aula. O Prof. Zé, com seu entusiasmo e conhecimento, era o nosso presente. Reflexão. Uma aula dele era uma lição de vida. As aulas eram tão fortes e marcantes que ficávamos depois do horário para discutir temas interessantes propostos pelo mestre.

A aula na grade podia ser a última da sexta feira, mesmo assim a sala estava cheia de alunos entusiasmados para saber que pedaço do conhecimento iria desmistificar aqueles momentos difíceis que vivíamos. O Zé tinha este dom de encantar.  Movimentos sociais eclodiam. Os militares resistiam. Greves. Diretas Já! Movimentos culturais surgiam de todo lado. Alunos inquietos e loucos para participar. Alunos que queriam adquirir conhecimento para entender o que estava acontecendo. Foi neste contexto de efervescência que entrou o Prof. Zé Roberto generosamente em nossas vidas. 


                                      Prof. Zé Roberto

O Prof. Zé não se comunicava com seus alunos de cima de um pedestal. O Prof. Zé não era igual aos seus alunos. O Prof. Zé se comportava como um educador. O que intermediava e enriquecia esta relação com seus alunos era o conhecimento.  O seu conhecimento pessoal também! Tinha uma capacidade quase única e pontual no uso da fala.  Nunca exagerava ou falava de menos. Pontual. Profundo. O Prof. Zé tinha uma capacidade imensa de ouvir. Quando opinava, acolhia. O interpelador falava incansavelmente e o mestre ouvia com toda paciência do mundo sem falar uma palavra. Ouvia calmamente. Depois da conversa o aluno se levantava satisfeito com o silêncio e muitas vezes com as respostas que encontrava em si.  Foi com o mestre Zé que aprendi que o silêncio também fala.

Aproveitávamos da sua generosidade. Quando precisávamos de um aconselhamento, aconselhava com carinho e amor. Não brincava com os nossos sentimentos. Não mentia. Não iludia. Apontava caminhos. Não apontava o caminho certo ou torto. Dava ferramentas para o aluno construir seu caminho. Um educador com uma postura impecável.  Conversar com o Prof. Zé era aprender como se deve respeitar o conhecimento. Respeitar a vida.  Tinha uma enorme facilidade de mostrar como éramos importantes. Assim era o mestre Zé.

Reencontramo-nos anos depois para organizarmos o Projeto de Educação para Secretaria de Educação de Cotia. Juntamos nesta época um fabuloso grupo de educadores. O mestre apontava caminhos sólidos com seu conhecimento. Um homem enriquecedor.  Assumimos a Secretaria da Educação depois de uma eleição para Secretário e o Prof. Zé assumiu a Coordenação do Departamento Pedagógico. Brilhou. Novamente contamos com sua generosidade. Os seus cursos de História da Arte eram incríveis. Os seus cursos eram concorridos.  Não brilhou sozinho, fez com que brilhássemos. Coletivo. Resta lamentar esta partida tão cedo, meu Deus!

Não era um homem completo - ainda bem - brilhava na sua incompletude. Sabia como ninguém socializar seu conhecimento. Era um encantador de gente. 

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