O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os
detritos.
Quando achava alguma
coisa,
Não examinava nem
cheirava:
Engolia com voracidade
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era
um homem.
Manuel Bandeira
Dirigindo
o carro de repente você fica cego. Aos poucos milhares de pessoas na mesma
situação de cegueira, epidemia, uma saída rápida e cômoda para as autoridades é
segregar. Indistintamente, médicos, motoristas, enfermeiras, donas de casa,
infratores são colocados em fábricas abandonadas sob rígida disciplina de
controle para que fiquem presos para não espalhar a cegueira branca. Doença desconhecida
pelos estudiosos e autoridades estabelecidas. Com o convívio diário sob pressão,
independente da classe social, cada um ali vai mostrando o que tem de mais vil
e de mais nobre.
A
briga pela comida, as fezes que não são recolhidas e o ar pesa no lugar onde
estão segregados. Seres humanos que viram bichos como (descritos) no poema de
Manuel Bandeira. Matam como forma de saída para suas aflições. Essas descrições
de homens e mulheres vivendo como bichos não são cenas de ficção. É a realidade
de muitas cidades do Brasil onde o crack tomou
conta. Aqui, em Cotia, não é diferente. Outro dia passando debaixo de um
pontilhão que corta a Raposo Tavares, as cenas vistas não ficam devendo em nada
aos melhores livros ou filmes de ficção.Gente de toda idade andando em direção o
um buraco aberto na parede que protege a ponte de possível invasão. Se ali ficasse
aberto viraria lugar de moradia. Esses seres, parecidos zumbis, iam à busca do
quê?
Quando
entrei nesse espaço que fica debaixo da ponte,ao lado do hipermercado Atacadão,
e no sentido São Paulo, fica o Mercado Municipal,eu me vi nas cenas descritas pelo
escritor José Saramago no seu livro Ensaio Sobre a Cegueira. Gente vivendo ali
diariamente e outros de passagem no meio da bosta, ratos e outras porcarias.
Alguns agressivos, menores de idade, velhos e jovens e prostituição ali debaixo
do nosso nariz. Talvez possam achar que não são problemas nossos, enquanto um dos
nossos não for envolvido. O que estou escrevendo e relatando não é sobre a
cracolândia no centro de São Paulo, com a intervenção desastrosa do Estado,
agora se espalharampela cidade os recantos de consumo de
usuário de crack. A cacrolândia é
aqui, bem debaixo do pontilhão da famosa Rodovia Raposo Tavares que vai de São
Paulo ao Paraná.
Apenas
um lembrete: essa situação social não é caso de polícia!
Verdade e muita gente finge que não está acontecendo nada, precisamos nos movimentar
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