As duas estórias acima foram apresentadas
na série semanal da extinta TV tupi, Dom Camilo e Seus Cabeludos, tendo como o pároco representado, pelo italianismo
Otelo Zeloni. O cenário principal deste seriado era a Igreja Nossa Senhora de
Monte Serrat, que neste ano completa 300 anos. Todo o roteiro do seriado se
dava a partir da Igreja. Apesar das estórias de
ficção, elas expressam a importância da Igreja na formação do segundo
núcleo de moradores da cidade e
influência na vida social, política e
cultural dos seus moradores. Ou Seja, tudo
em Cotia acontecia em torno dá igreja. . Como vamos ver na carta escrita pela
professora Ecléia Bosi.
A Professa Ecléia Bosi, com toda
delicadeza que lhe cabe, expressa este sentimento de importância da igreja de
Cotia na vida social dá cidade, em uma carta enviada para apresentação do livro Memória & imagem:
“Meu avô, Amadeu
Strambi, cultivava uva em São Roque; ali, no alto da serra, passei belos anos
de minha juventude. Nas suas noites frias me aqueci no grande fogão de lenha no
pátio da Matriz, onde se preparavam os pastéis, o quentão, das festas e
quermesses. Ao seu redor se apinhavam as crianças, e as velhinhas, embrulhadas
nos xales, olhavam as chamas e recordavam os bons tempos. Aquele fogão de lenha
era o coração generoso da cidade que pulsava. Mão impiedosa o derrubou. O pátio
da comunidade hoje é estacionamento.
Adeus fogão de
lenha... adeus velhinhas tiritantes, adeus memória”
O depoimento de Dona Antonia
Luisa de Moraes, conhecida como D. juju, quando a entrevistei tinha 81 anos. Em
detalhes conta está relação quase umbilical da comunidade com a Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat:
“Dona Juju, com 81 anos durante a entrevista,
lembra de uma crença que era singular nas procissões em Cotia: a charola
de São Benedito não podia sair nem no meio nem no fim da procissão, tinha que
ser o “abre alas”. Se o santo não saísse na frente, com certeza choveria. Outro
relato interessante dela é sobre a ornamentação do andor. Ao prepará-lo, ela
conta que gostava muito de usar flores naturais e ressalta que as roupas de
quem carregava o andor tinham de ser da mesma cor dos arranjos das flores. “O
Ditão, que era quem organizava a procissão, era profundamente perfeccionista” –
disse ela”.
O relato da Dona Oscarlina Pedroso Victor, mostra
como está relação era forte e como a cidade andava em torno da igreja. As
procissões, os casamentos, registros de nascimento, obtidos, sepultamentos,
acontecia ali naquele espaço sagrado.
“A procissão mobilizava muita gente. O
percurso iniciava-se na Rua Senador Feijó, entrando na Rua Joaquim Horácio
Pedroso, passando pelas ruas Lopes de Camargo e Dez de Janeiro, até a Praça
Padre Seixas; entrava novamente na Rua Senador Feijó e terminava na frente da igreja.
Segundo Oscarlina Pedroso Victor, cada irmandade representa um segmento da
comunidade. A Irmandade Cruzada Eucarística era representada por
crianças que usavam uma fita amarela, que identificava seu grau de
religiosidade. A Pia União das Filhas da Maria representava as moças,
que ficavam nessa irmandade dos 15 anos até o casamento. A fita usada era de
cor verde. A Irmandade de São José era composta por homens e mulheres. A
de São Benedito e do Santíssimo Sacramento eram compostas apenas
por homens. Os irmãos de São Benedito usavam uma indumentária branca com capa
preta, chamada opa, e os irmãos do Santíssimo usavam outra, vermelha. Na Irmandade
Nossa Senhora das Dores a fita era roxa. No Coração de Jesus era
vermelha e na Congregação Mariana, era azul. Esta ultima era composta
por moços e seus dirigentes tinham estrelas de metal em suas fitas. Outro
detalhe interessante: as roupas dos carregadores de andor eram todas iguais e
da mesma cor.”
Poderia relatar aqui outras relações intrínsecas
com a religiosidade e a matriz de Cotia, deixo estes relatos, alguns engraçados
para outro momento. Além dos relatos orais e memoriais friso a importância da pesquisa
realizada pelo Padre Daniel Balzan, usam como referencia para trazer luz à vida
da igreja, os livros de tombos, batizados, casamentos e Obtidos dá paróquia,
algo nunca feito antes. São temas abortados que vão da construção da capela a
igreja, sepultamentos, corrupção, poder, divisa territorial que usa como
referência as capelas, enfim uma pesquisa, elucidatório sobre a igreja de Nossa
do Monte de serras. O pesquisador divide sua pesquisa em duas
partes sobre a matriz. É bom lembrar que
onde está à igreja da Matriz, foi o segundo núcleo de moradores. O local da
capela primitiva, tudo indica que ficava na estrada do Golfe são Fernando.
“A
Primitiva Capela – O documento mais antigo que fala da primitiva capela
de N. Sra. de Monte Serrat data de 1684. Trata-se de uma folha avulsa que
deveria pertencer ao 1º livro de Tombo de Cotia, assinada pelo bispo
do Rio de Janeiro Dom José de Barros Alarcão que visitou a freguesia de Cotia
em 1684 (1). Naquela época a paróquia pertencia à diocese do Rio de Janeiro que
se estendia até o sul do Brasil.”
Em conversas
com Padre Daniel sobre as pesquisas e com seu espírito investigativo, achava que
antes da nova construção, funcionou do lado esquerdo da igreja, uma capela que
foi acoplada a estrutura maior da construção. Para que os fieis, enquanto não
construía a nossa igreja, assistissem as missas.
“A Matriz Atual – A Matriz de Cotia,
também dedicada a N. Sra. de Monte Serrat, foi inaugurada no dia 9 de Setembro
de 1713. De acordo com a ata da posse assinada pelo Pe. Mateus de Laya Leão
todos os pertences da primitiva capela foram levados para Itú, menos a imagem
da padroeira que foi trazida para a Matriz atual no dia da inauguração (2). A
Matriz foi construída pela ajuda de alguns protetores entre os quais se
figurava o Coronel Estevão Lopes de
Camargo que cedeu uma parte de seu sítio para a construção da nova capela (3)”.
Ao passamos pela igreja de Cotia, até podemos ser
indiferentes, mas ali está o fio da miada da origem da cidade. Está
arquitetura tem vida. As suas paredes e objetos ali podem dizer muito sobre
nós, por isto não pode ser descartada. No Brasil é comum destruir monumentos
Históricos, e o tempo não foi diferente com a Igreja Nossa Senhora de Monte
Serrat, mas ainda existe tempo para salvá-la.
Fontes:
Pesquisa em torno de um monumento
Instituto do Patrimônio Histórico
e artístico Nacional.
O Livro Memória & Imagem
Autor: Marcos Roberto Bueno
Martinez
Capelas da Freguesia de Cotia.
Autor: Padre Daniel Balzan
Pesquisa.
O livro
Memória & Imagem pode ser
encontrado no site: WWW.cotiamemoriaeimagem.blogspot.com
Os textos escritos pelo Padre
Balzan podem ser encontrados no blog: WWW.cotiamemoriaeeducacao.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário