UM ASSUNTO DOLORIDO PARA MEU PAI
Quem adota uma criança imagino
que fica pensando quando é a hora certa de contar sobre a adoção. Um grande
dilema! Como os pais vão saber que chegou a hora de revelar? Muitas vezes a notícia
da adoção chega até a criança pela boca de um parente ou de um amigo da
família, pode ser revelado por certo grau de maldade ou inocência.Cada caso tem
sua história. No meu caso, meus pais estavam divididos em contar ou não contar:
minha mãe (não me lembro de ela ter contado) contou quando tinha seis anos. Meu
pai nunca quis conversar comigo sobre o assunto, para ele eu era o seu filho e
fim de papo. Esse comportamento mudou um pouco, quase no final da sua vida,falou
comigo poucas vezes sobre o assunto,toda vez que tocava no assunto da minha
adoção os seus olhos se enchiam de lágrimas. Com o tempo, desisti de perguntar
sobre a adoção, penso que era dolorido para ele.
UM DIA ALGUÉM TINHA QUE CONTAR
Um vizinho, certa vez, me
perguntou se eu sabia que era filho adotivo. Antes que eu respondesse,ele disse
que eu não era filho dos meus pais. Eu respondi que era sim e ia perguntar para
meu pai se era verdade o que ele estava dizendo. Quando meu pai chegou, fui
correndo dizer o que aquele homem tinha tido. Meu pai ficou furioso, me pegou
pelo braço, me colocou em um jipe antigo e foi até a porta da casa do homem, fez
com que ele desmentisse o que tinha dito. O homem disse, nervoso, que não tinha
dito nada daquilo e que eu tinha entendido errado. Depois daquele escândalo,
nunca mais eu disse nada sobre quem me falava sobre o assunto. Muito tempo
depois descobri que aquele homem era um desafeto do meu pai.
VOCÊ NÃO TEM O SANGUE DA FAMÍLIA
Uma coisa chata de escrever,mas
preciso escrever, não com a intenção de causar nenhum tipo de constrangimento,
mas que este texto sirva para alguma coisa.Muitas vezes, quando arrumava uma
confusão com um parente, rapidamente dizia que eu não era da família. Sem mágoa,
adoro minha família. Talvez a recordação mais forte que tive foi com minha tia
Antônia, de Araraquara, interior de São Paulo, uma mulher simples e de uma
sabedoria singular,contou-me uma história de uma mãe que não pôde ficar com seu
filho. Com a voz mansa, foi ilustrando com fantasia e cenas reais do
acontecido. Com apenas um sussurro, disse que aquela era um pedaço da minha história.
Senti um alívio!
ANGÚSTIA DE NÃO SABER SUA ORIGEM:
PARECE QUE ESTÁ FALTANDO UM PEDAÇO NA ALMA
Durante muito tempo me angustiei
coma ideia de conhecer meus pais biológicos. A ideia de não conhecê-los me
dilacerava a alma. Quem eram meus pais? Fantasiava como eles poderiam
ser fisicamente. Muitas vezes associava a imagem deles às pessoas adultas com as
quais eu convivia. Sem fazer um
dramalhão, essa sensação de não conhecê-los era extremamente
angustiante. Até o dia que tive a oportunidade de conhecê-los através de um
sonho. Depois desse sonho comecei a entender melhor a importância dos meus pais
de coração.Sonho: estava em uma represa e caminhava dentro da água como se
estivesse andando em terra firme. Andava com tranquilidade e os galhos e ramos
não atrapalhavam minha trajetória e enxergava sem nenhuma dificuldade,como se
estivesse buscando alguma coisa... Uma voz delicadamente me disse no ouvido,
olha pra cima, olhei e vi um casal com três filhos. A voz suavemente me disse:
esta é sua família biológica.
O TEMPO CERTO
Aos pais de coração,a hora certa
é aquela que tem o tempo certo. Descubra.
Muito lindo Professor, do coração como tudo que o Sr. faz na vida!
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