Conversando com um amigo de longa
data, ele demonstrou estar com dificuldades imensas de aceitar o limite que a
idade lhe impõe. Está inconformado porque não pode fazer as coisas que fazia
quando ainda era fisicamente jovem. Esse companheiro de longa data enfrenta uma
dificuldade de encarar o tempo. Está tomado pela tristeza e a irritação. Está
insuportável consigo mesmo, imagina com os outros.
Aceitou conversar comigo sobre esse
assunto por achar que sou o único da amizade antiga que poderia entendê-lo. Que
poderia ouvi-lo. Está tomando remédio pesado para combater uma depressão
profunda. Não se conforma que suas ações cognitivas estão tinindo e as mãos não
obedecem ao seu comando. Não deve ser fácil mesmo determinar um comando e o
corpo não obedecer. Até então estava funcionando tudo dentro da normalidade
entre o corpo e a inteligência, realmente é difícil aceitar nossas limitações
com o passar do tempo.
A conversa começou com lagrimas e
lamentações de que ele tinha envelhecido,é a vida que estava uma droga. A vida
estava uma porcaria. Uma lembrança ali, outra aqui, e o sorriso voltou e os
pensamentos estavam tinindo de boas recordações. Lembra quando jogávamos
peladas e fazíamos aquelas jogadas e o raciocínio tinha que ser rápido. A
reação do corpo era imediata. “Lembra da Neuzinha, que garota linda”. Tivemos
um entrevero. A conversa estendeu noite afora. Lembrou de quase todos e todas
com detalhes. Lembranças que brotavam com alegria e, ao se lembrar do tempo que
passou,as lágrimas corriam pelo canto dos olhos.
“Outro dia, ao subir uma escada
calculei o passo errado e caí como uma abóbora madura. Esfolei toda a perna e o
rosto. Os filhos preocupados anunciavam que estava precisando de uma
guardadora. Fiquei furioso! Disse rispidamente que não aceitaria ninguém
cuidando de mim e entrando na minha privacidade. Em respeito, eles se calaram”.
A companheira de anos de convivência percebeu que não conseguia cuidar de mim,
também tem suas limitações. Como uma guerreira, uma amazona, não desiste do
cuidado que sempre teve. Mesmo com dores na coluna. Como está difícil assumir
que o tempo passou e com ele chegam as limitações do corpo.
“É difícil entender que continuo
escrevendo, lendo produzindo um rico material para o jornalismo, mas seguro um
copo de água com muita dificuldade. Parece que a extensão dos braços está mais
curta que os pensamentos. Meu amigo como foi bom você me ouvir sem opinar sem
seus valores sobre o tema. Estava precisando apenas falar a alguém que pudesse
ouvir”. Saiu da nossa conversa aliviado e entendendo
melhor o que está acontecendo.
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