Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

PALAVRAS DITAS


Depois de ouvir o genial Ariano Suassuna falar sobre o sentido que damos às palavras, fiquei com a pulga atrás da orelha. Palavra. Adjetivamos com a maior facilidade. Vagabundo, genial, burro e etc. Escrevemos com a maior facilidade, sem pensar se aquele que está sendo execrado merece as palavras que o desqualificam. Usamos a palavra displicentemente. Não sabemos do seu valor e nem da sua força. Talvez por este motivo que o seu amor não acredita quando diz que a ama. A palavra sai fraca. A palavra sai sem conteúdo. A palavra sai sem sentimento. A palavra sai sem vida. 

Quem recebe a palavra dita sabe que não contém verdade. A desumanização a cada dia aumenta. Nem conhecemos aquele ou aquela e já enchemos de elogios. Enchemos de palavras sem som. Sem eco. É preciso conhecer bem antes de elogiarmos, para depois não falarmos mal. Fazemos criticas nas redes sociais sem nenhum pudor. Sem nenhum critério. Estragamos a palavra. Acabamos com uma boa amizade por causa de uma palavra mal dita. Falta sinceridade na palavra dita. Quem usa a palavra para desqualificar um desafeto é um desqualificado. Não tem respeito à palavra dita. Não tem conteúdo para desqualificar.

Esta semana comecei a escrever um punhado de textos e não cheguei a terminar o primeiro parágrafo de nenhum deles. Não encontrava a palavra certa para definir um jogo de futebol ao lado de dois corpos sem vida em uma praia. Não acreditava que poderia ser verdade aquela cena. Pensei que fosse uma montagem de imagens. Com o tempo a palavra apareceu: era verdade. Conforme a palavra é dita ela revela dor. Revela a verdade. A palavra sim no dia do impedimento revelou o quanto escolhemos mal nossos representantes políticos. Uma vergonha. Em nome de Deus eu digo sim. Em nome da minha mulher eu digo sim. Em nome do meu cachorro eu digo sim. Depois de tudo o que ouvimos, a palavra “sim” ficou ridicularizada. Às vezes acabamos com o sentindo de uma palavra. Tiramos-lhe a vida.


As palavras que usamos tão erroneamente é que são proibidas. Desaparecem! A palavra escrita e falada revela quem você realmente é. Ela o denuncia. Se você não consegue achar uma palavra nobre é porque lhe falta nobreza, falta compaixão. Achar defeito nos outros é fácil. Achar seus defeitos e examiná-los é difícil. Exige mudança. É preferível achar defeitos nos outros. Qual a palavra que o define? A palavra enobrece. A palavra mata. A palavra constrói. Cada um com sua palavra e faça bom uso.   

quarta-feira, 13 de abril de 2016

ESTÃO ASSASSINANDO NOSSOS JOVENS...


É difícil aceitar a morte de alguém que guardamos afeto em qualquer idade. Imagine de um jovem! Um pai que tem um filho morto violentamente sente todas as dores do mundo. Uma mãe que tem um filho morto violentamente sente a dor do parto. Os pais que têm um filho morto prematuramente, de forma brutal, morrem lentamente. Quando assistimos a um jovem sendo morto a pauladas pela torcida adversária sem qualquer piedade, nos indignamos. Ele tinha uma vida pela frente! Pensamos. Ele ou ela poderia ser um médico. Poderia exercer qualquer outra profissão. Tinham tempo para isto.  Poderia ser um bom pai. Poderia ser uma boa mãe. Tempo. O tempo foi encurtado por um psicopata. O tempo foi encurtado por um bando de psicopatas. O que dói é saber que tinham uma vida pela frente.

Quantos pais lamentam a morte de seu filho, que aconteceu de forma trágica. Quantos pais neste exato momento lamentam com a voz embargada e o choro doído, dispostos a estar no lugar do filho! Suplicam a Deus uma explicação. Por que, meu Deus? Os nossos filhos saem de casa para baladas e festas e não voltam. Ficamos em casa com uma angústia que vai aos poucos alterando nossos sentidos. Boca seca. Insônia. Uma sensação de que alguma coisa ruim pode acontecer. Uma sensação de que algo ruim já aconteceu. Intuição de pai e de mãe não falha. Tem gente neste mundo que não gosta de juventude. Mata por amor. Quem ama não mata.   Mata porque tem o outro como posse, como se fosse um objeto. Mata covardemente. Mata por causa de um celular. Quantos sonhos aniquilados, violentamente...

Quantos pais neste exato momento abraçam a roupa do filho que partiu brutalmente. Para sentir o cheiro. Não se desfazem dos pertences do filho para sentir sua presença. Para lembrar com saudade do filho que não volta mais! Criamos nossos filhos em uma redoma. Protegemos para que não sofram. Esquecemos de dizer que no mundo real existe gente boa e ruim. As drogas estão matando nossos filhos. Pedófilos e estupradores estão soltos. Os pais são responsáveis pela educação dos filhos, sim! Mas o Estado tem que proteger a vida dos nossos filhos. Todos os dias matam os nossos filhos. Um dia é bala perdida outro é atropelamento. A nossas filhas estão sendo assassinadas todos os dias. Viram apenas estatísticas. Os números são frios. A vida é quente. A vida não pode ser encurtada dessa maneira. A vida foi concebida para ser vivida por inteiro e com intensidade.


Os programas sensacionalistas adoram colocar nossos filhos mortos violentamente. Dá ibope! Fazem do sofrimento da família uma novela. Exibem incansavelmente a tragédia. Desrespeito. Insinuam. A dor de um pai quando perde seu filho lateja para sempre na sua alma. A dor de uma mãe que concebeu seu filho e o vê morto violentamente a faz sangrar todos os dias. A legislação é omissa. Desumanização. O consumo cego e exagerado não pode valer mais que a juventude.  É preciso urgentemente defender um Manifesto pela Vida!

segunda-feira, 4 de abril de 2016

EDUCAÇÃO PARA A FORMAÇÃO DE UM BOM MACHO


Quem não se lembra de frases clássicas a favor da formação do bom macho? “Homem que é homem não chora.” “Se chorar vai virar menininha.” (Usei menininha para ser politicamente correto.) Normalmente, alguns pais falam alto e em bom som para todos ouvirem o que não é correto politicamente: “se chorar vai virar bichinha.” Imagine se uma criança pequena sabe o que é bichinha. Pura ignorância. Homem tem que ser forte! Não imaginavam os antigos que a coragem de ser sempre forte criaria homens fortes por fora, mas fracos por dentro. Homem que é homem chora sim. Homem chora sim! O choro é um sentimento nobre. O choro é a expressão do sentimento de gente forte.  

Lembro-me de um amigo que tinha seus seis anos de idade e seu pai, num gesto nada plausível, fez com que ele comesse uma cebola inteira só para provar para seus amigos de bar que seu filho era homem. Loucura. Até hoje ele não come nada que leve cebola. Ficou traumatizado. Este gesto bruto não influenciou em nada na sua formação como homem.  O garoto cresceu, casou, teve seus filhos e nunca se esqueceu desta atrocidade do pai. Sobrou mágoa. Tenho uma amiga que tem cinco irmãs e um irmão temporão. Depois que ele nasceu o pai exigiu que ele fosse criado com um príncipe da casa. As meninas tinham que atender os gostos do homem príncipe do lar. Com razão elas ficavam “p da vida”.

Este menino príncipe hoje tem cinquenta anos. É um homem inseguro. Não recolhe a cueca do banheiro, não recolhe a toalha molhada. Senta no sofá e quer ser servido. Não tem mulher que aguente um cara folgado assim. O pai achava que estava criando um homem.  Formou um homem “bunda mole”. (Risos.) Quem já não assistiu ao “culto ao pipi”? O pai todo orgulhoso coloca o menino homem no centro da sala e mostra seu pipizinho como um troféu e ainda diz com convicção: este vai ser homem. Imagina o esforço que este menino vai ter durante a vida para provar que é um homem.


Tinha outro amigo que sua mãe era separada do pai e precisava dele para cuidar do trato da casa, enquanto ela saía para trabalhar.  Os amiguinhos viviam chamando-o de mariquinha. Ele lavava a louça e passava escovão no chão. Cuidava da casa. Era companheiro da sua mãe. Este amigo era muito tímido e quieto. Quase não tinha amizades na rua com outros meninos. Toda vez que saía de casa os coleguinhas faziam piadinhas da sua masculinidade. Só porque ele ajudava a mãe com questões domésticas. Que coisa preconceituosa. O meu amigo cresceu e virou um adulto feliz e resolvido.  Infelizmente esta cultura está viva em muitos lares, ainda. É o tipo de cultura que avalia a pessoa de fora para dentro e que é incentivada em muitos lares. Educação começa em casa. Seria bom que começasse sem preconceito.  

RIVALIDADE NO FUTEBOL


Antes, torcer por um time era pura emoção.  A rivalidade era um “sarro” ali, outro aqui. E só! Nada mais do que isto. Nenhum tipo de violência. As torcidas não eram organizadas. Ir ao estádio assistir a um jogo de futebol era um lazer da família. Os torcedores se misturavam. As camisas de times adversários se misturavam. As torcidas organizadas até já existiam, mas eram pequenas demais. Tomavam um pequeno pedaço da arquibancada. Os amigos, as famílias tomavam conta de quase todo o estádio. Depois do jogo saíam juntos do campo, cada um com sua camisa do time que torcia. Sem ódio. Sem agressão. Saíam do campo com um sorriso estampado no rosto, satisfeitos com o bom futebol apresentado. A rivalidade não passava de uma brincadeira simples. Meninices.

Com o passar do tempo, a torcida organizada tomou conta das arquibancadas. Gritos de ordem. Bandeiras e cantos. Organizadíssimos. As famílias sumiram dos estádios. A rivalidade, antes poética, agora transforma as ruas em campo de batalha. Transformaram os campos, agora modernos, em espaço de guerra. Matam a pauladas. Matam no tiro. Matam a facadas. Sem piedade. Matam gente inocente. Tudo em nome do seu time de coração. As torcidas vendem camisas. Vendem a imagem do time. Facções dentro das organizadas vendem drogas. Transformaram-se em uma grande empresa.  Um grande negócio. Entre uma vida humana e um bom negócio, a vida vale muito pouco. Capital é o que interessa.

O futebol é de menos. Quando os organizados promovem a barbárie e tiram vidas, prestam depoimento e saem pela porta da frente das delegacias. Alguns zombando da lei. A vida realmente não vale nada. Risco de vida constante. Sair de casa com a camisa do seu time e encontrar a torcida rival no caminho é morte quase certa. Com requintes de crueldade.  Chutes até a morte e o agressor ainda exibe a camisa retirada do adversário morto como troféu. Barbárie. Como pode a lei proteger os incivilizados? Para esta turma não existe a arte do futebol. O gol fica preso na garganta. Fanáticos. Destrutivos. Famílias são esfaceladas. Pais choram seus filhos. Cadê o futebol, gente?


Assistimos inertes, como se tudo isto não fizesse parte do nosso mundo. Parece que assistimos a um filme que o final é trágico. Ora, só um filme então, não é real. A violência é real todos os dias. Tocamo-nos quando a tragédia entra dentro de casa. Quando perdemos um ente querido. Morto a pauladas pelo time rival. Isto não é futebol. O futebol acabou... O pior é ouvir de um pai angustiado, aos prantos, que sabia que seu filho ou filha participavam deste tipo de torcida. Precisamos acordar deste pesadelo. A lei tem que punir estes assassinos que andam à solta. Vestem uma camisa de time e em nome dele escondem sua violência, preconceitos e um desprezo pela vida.