Quem não se lembra de frases
clássicas a favor da formação do bom macho? “Homem que é homem não chora.” “Se
chorar vai virar menininha.” (Usei menininha para ser politicamente correto.) Normalmente,
alguns pais falam alto e em bom som para todos ouvirem o que não é correto
politicamente: “se chorar vai virar bichinha.” Imagine se uma criança pequena sabe
o que é bichinha. Pura ignorância. Homem tem que ser forte! Não imaginavam os
antigos que a coragem de ser sempre forte criaria homens fortes por fora, mas
fracos por dentro. Homem que é homem chora sim. Homem chora sim! O choro é um
sentimento nobre. O choro é a expressão do sentimento de gente forte.
Lembro-me de um amigo que tinha
seus seis anos de idade e seu pai, num gesto nada plausível, fez com que ele
comesse uma cebola inteira só para provar para seus amigos de bar que seu filho
era homem. Loucura. Até hoje ele não come nada que leve cebola. Ficou
traumatizado. Este gesto bruto não influenciou em nada na sua formação como homem. O garoto cresceu, casou, teve seus filhos e
nunca se esqueceu desta atrocidade do pai. Sobrou mágoa. Tenho uma amiga que
tem cinco irmãs e um irmão temporão. Depois que ele nasceu o pai exigiu que ele
fosse criado com um príncipe da casa. As meninas tinham que atender os gostos
do homem príncipe do lar. Com razão elas ficavam “p da vida”.
Este menino príncipe hoje tem cinquenta
anos. É um homem inseguro. Não recolhe a cueca do banheiro, não recolhe a
toalha molhada. Senta no sofá e quer ser servido. Não tem mulher que aguente um
cara folgado assim. O pai achava que estava criando um homem. Formou um homem “bunda mole”. (Risos.) Quem já
não assistiu ao “culto ao pipi”? O pai todo orgulhoso coloca o menino homem no
centro da sala e mostra seu pipizinho como um troféu e ainda diz com convicção:
este vai ser homem. Imagina o esforço que este menino vai ter durante a vida
para provar que é um homem.
Tinha outro amigo que sua mãe era
separada do pai e precisava dele para cuidar do trato da casa, enquanto ela saía
para trabalhar. Os amiguinhos viviam
chamando-o de mariquinha. Ele lavava a louça e passava escovão no chão. Cuidava
da casa. Era companheiro da sua mãe. Este amigo era muito tímido e quieto.
Quase não tinha amizades na rua com outros meninos. Toda vez que saía de casa
os coleguinhas faziam piadinhas da sua masculinidade. Só porque ele ajudava a
mãe com questões domésticas. Que coisa preconceituosa. O meu amigo cresceu e
virou um adulto feliz e resolvido.
Infelizmente esta cultura está viva em muitos lares, ainda. É o tipo de
cultura que avalia a pessoa de fora para dentro e que é incentivada em muitos
lares. Educação começa em casa. Seria bom que começasse sem preconceito.
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