Antes, torcer por um time era
pura emoção. A rivalidade era um “sarro”
ali, outro aqui. E só! Nada mais do que isto. Nenhum tipo de violência. As
torcidas não eram organizadas. Ir ao estádio assistir a um jogo de futebol era um
lazer da família. Os torcedores se misturavam. As camisas de times adversários
se misturavam. As torcidas organizadas até já existiam, mas eram pequenas
demais. Tomavam um pequeno pedaço da arquibancada. Os amigos, as famílias
tomavam conta de quase todo o estádio. Depois do jogo saíam juntos do campo,
cada um com sua camisa do time que torcia. Sem ódio. Sem agressão. Saíam do
campo com um sorriso estampado no rosto, satisfeitos com o bom futebol
apresentado. A rivalidade não passava de uma brincadeira simples. Meninices.
Com o passar do tempo, a torcida organizada
tomou conta das arquibancadas. Gritos de ordem. Bandeiras e cantos.
Organizadíssimos. As famílias sumiram dos estádios. A rivalidade, antes poética,
agora transforma as ruas em campo de batalha. Transformaram os campos, agora
modernos, em espaço de guerra. Matam a pauladas. Matam no tiro. Matam a
facadas. Sem piedade. Matam gente inocente. Tudo em nome do seu time de
coração. As torcidas vendem camisas. Vendem a imagem do time. Facções dentro
das organizadas vendem drogas. Transformaram-se em uma grande empresa. Um grande negócio. Entre uma vida humana e um bom
negócio, a vida vale muito pouco. Capital é o que interessa.
O futebol é de menos. Quando os
organizados promovem a barbárie e tiram vidas, prestam depoimento e saem pela
porta da frente das delegacias. Alguns zombando da lei. A vida realmente não
vale nada. Risco de vida constante. Sair de casa com a camisa do seu time e encontrar
a torcida rival no caminho é morte quase certa. Com requintes de
crueldade. Chutes até a morte e o agressor
ainda exibe a camisa retirada do adversário morto como troféu. Barbárie. Como
pode a lei proteger os incivilizados? Para esta turma não existe a arte do
futebol. O gol fica preso na garganta. Fanáticos. Destrutivos. Famílias são
esfaceladas. Pais choram seus filhos. Cadê o futebol, gente?
Assistimos inertes, como se tudo
isto não fizesse parte do nosso mundo. Parece que assistimos a um filme que o
final é trágico. Ora, só um filme então, não é real. A violência é real todos
os dias. Tocamo-nos quando a tragédia entra dentro de casa. Quando perdemos um
ente querido. Morto a pauladas pelo time rival. Isto não é futebol. O futebol
acabou... O pior é ouvir de um pai angustiado, aos prantos, que sabia que seu
filho ou filha participavam deste tipo de torcida. Precisamos acordar deste
pesadelo. A lei tem que punir estes assassinos que andam à solta. Vestem uma
camisa de time e em nome dele escondem sua violência, preconceitos e um
desprezo pela vida.
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