“Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados.”
(Vinícius de Moraes)
É muito bom voltar ao passado e trazer lembranças positivas daquilo que fizemos durante a vida. Esse verso de Vinícius é o mote que nos remete a uma proposta de educação que se tornou, com o tempo, um paradigma para a cidade de Cotia.
Com a eleição de 2000, o prefeito eleito tomou uma atitude que poucos homens públicos teriam coragem de tomar: lançou uma eleição para o cargo de Secretário de Educação. Na época, lembro-me que três correntes de pensamento discutiam sobre essa eleição. O primeiro grupo, com certo ceticismo, acreditava que essa eleição não existiria, e que teria sido apenas uma jogada de marketing no período de campanha. Um outro grupo acreditava na eleição e não participou porque achava que seria um jogo de cartas marcadas. A terceira linha de pensamento acreditava nas eleições, que elas ocorreriam, e partiu para a organização de um projeto educacional para a cidade. É aqui que eu começo a contar um pouquinho da história deste grupo, que durante oito meses se reuniu na casa da Professora Satie, ou melhor, na cozinha da Satie, onde discutiu e montou um plano de atuação para estruturar o projeto.
Durante esse período, convidei alguns educadores das redes públicas estadual e municipal da cidade, com suas formações específicas, para viajar nesse sonho. A recepção de alguns desses educadores foi positiva e produtiva. Começamos a levantar dados sobre a rede municipal de ensino e a decidir as diretrizes que embasariam o nosso trabalho. E dividimos assim: princípios, política de atuação, supervisão pedagógica, projeto pedagógico, educação infantil, ensino fundamental, educação de jovens e adultos e educação especial.
O passo seguinte foi visitar as escolas e discutir o que pretendíamos, mas principalmente, ouvir o que os educadores tinham para dizer e como gostariam que a educação em Cotia se encaminhasse. Após tabular os resultados, observamos que a maior preocupação apontada referia-se à centralização que existia na Secretaria de Educação, que levava a ações políticas educacionais injustas e conflituosas. A partir disto, o que norteou as discussões foi a palavra “descentralização”.
O objetivo deste artigo é contar um pouco da história desse momento singular na educação de Cotia, e reproduzir o que elaboramos, começando com as considerações de como estava a rede municipal de ensino naquele momento.* É bom lembrar que os dados são oficiais.
CONSIDERAÇÕES SOBRE A REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE COTIA
Nestes últimos quatro anos (1997-2000), presenciamos em Cotia a rápida e forte expansão do Ensino Fundamental na Rede Municipal, fato este consequente do Programa de Municipalização do Ensino. Na verdade, este processo atendeu às tendências apontadas pela L.D.B. Esperava-se que simultaneamente ao crescimento numérico, medidas básicas fossem implementadas para garantir o sucesso do processo. No entanto, algumas situações não alteradas frente a esta nova realidade de agigantamento da rede, determinaram a estagnação do avanço qualitativo na Educação do Município. Com o passar do tempo vários mecanismos foram desvirtuados, ou simplesmente deixaram de existir, comprometendo:
- definição da política educacional
- definição de propostas pedagógicas
- planejamento
- definição de metas
- definição de prioridades
- comunicação
- acompanhamento das ações propostas
- compra e distribuição de material em geral
- compra e distribuição de merenda escolar
- manutenção física dos prédios existentes
- construção de novas escolas
- ampliação de escolas
- recrutamento e movimentação dos recursos humanos.
Sabemos que o desrespeito ao tempo necessário para a reflexão e assimilação de uma nova realidade potencializou o processo desagregador.
Ao analisarmos os quadros com números de alunos e classes em 30/09/2000 e 20/02/2001 (consolidados), notamos que houve expansão de 8,4% da Educação Infantil, 30,7% do Ciclo I do Ensino Fundamental, 22,4% do Ciclo II do Ensino Fundamental e diminuição de 22,8% do Ensino Supletivo. Constatamos que a expansão do Ensino Fundamental, em detrimento da Educação Infantil resultou em extinção de classes deste setor, acarretando em prejuízo no atendimento às crianças de 0 a 6 anos. Será necessária a realização de estudos que projetem utilização racional dos recursos humanos e físicos existentes para que estas dificuldades sejam superadas.
A REALIDADE DA EDUCAÇÃO EM COTIA ATRAVÉS DE DADOS ESTATÍSTICOS
Educação Infantil
NÍVEIS | BERÇÁRIO | MATERNAL I | MATERNAL II | JARDIM I | JARDIM II | PRÉ | TOTAL |
CLASSES/ALUNOS | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL |
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CONSOLIDADO 30/09/2000 | ─ | ─ | ─ | ─ | ─ | ─ | ─ | ─ | 114 | 3.162 | 110 | 3.085 | 224 | 6.247 |
CONSOLIDADO 20/02/2001 | 10 | 143 | ─ | 226 | 28 | 322 | ─ | 637 | 94 | 1.846 | 111 | 3.166 | 243 | 6.340 |
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| + 8,4% |
TOTAL DE CLASSES (EXCETO PRÉ) | 132 |
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TOTAL DE ALUNOS (EXCETO PRÉ) | 3.174 |
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Ensino Fundamental Ciclo I
NÍVEL | ENSINO FUNDAMENTAL CICLO I | TOTAL |
SÉRIES | 1ª | 2ª | 3ª | 4ª |
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CLASSES/ALUNOS | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL |
CONSOLIDADO 30/09/2000 | 99 | 3.204 | 94 | 2.954 | 82 | 2.718 | 57 | 1.789 | 332 | 10.665 |
CONSOLIDADO 20/02/2001 | 138 | 3.670 | 104 | 3.208 | 103 | 3.131 | 89 | 2.903 | 434 | 12.912 |
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| + 30,7% |
Ensino Fundamental Ciclo II
NÍVEL | ENSINO FUNDAMENTAL CICLO II | TOTAL |
SÉRIES | 5ª | 6ª | 7ª | 8ª |
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CLASSES/ALUNOS | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL |
CONSOLIDADO 30/09/2000 | 23 | 827 | 18 | 612 | 10 | 391 | 07 | 296 | 58 | 2.126 |
CONSOLIDADO 20/02/2001 | 22 | 742 | 22 | 778 | 18 | 601 | 09 | 287 | 71 | 2.408 |
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| + 22,4% |
Ensino Supletivo (Educação de Jovens e Adultos)
NÍVEIS | SUPLÊNCIA I | TELECURSO | TOTAL |
| TERMO I | TERMO II | ─ |
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CLASSES/ALUNOS | CL | AL | CL | AL | CL | AL | CL | AL |
CONSOLIDADO 30/09/2000 | 23 | 561 | 31 | 742 | 16 | 410 | 70 | 1.713 |
CONSOLIDADO 20/02/2001 | 22 | 560 | 23 | 719 | 09 | 385 | 54 | 1.664 |
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| − 22,8% |
Os dados de aprovação, retenção e evasão vêm nos mostrar coerência com o princípio da promoção automática, confundida com a progressão continuada. Isto nos revela a necessidade de se realizar um diagnóstico que será parâmetro para as novas formas de avaliação do rendimento.
Ensino Fundamental
Taxa de aprovação | 97,71% |
Taxa de evasão | 1,13% |
Taxa de retenção | 1,16% |
Educação de Jovens e Adultos
Taxa de aprovação | 59% |
Taxa de evasão | 26% |
Taxa de retenção | 15% |
* Artigo constante de jornal publicado em 2001, contendo o Projeto Educacional para a Rede Municipal de Cotia. Administração do Prefeito Joaquim Horácio Pedroso Neto – 2001/2004 e 2005/2008.
Professor Marcos Roberto Bueno Martinez