Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

UM ATO POLÍTICO DE CORAGEM



“Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados.”
(Vinícius de Moraes)


É muito bom voltar ao passado e trazer lembranças positivas daquilo que fizemos durante a vida. Esse verso de Vinícius é o mote que nos remete a uma proposta de educação que se tornou, com o tempo, um paradigma para a cidade de Cotia.

Com a eleição de 2000, o prefeito eleito tomou uma atitude que poucos homens públicos teriam coragem de tomar: lançou uma eleição para o cargo de Secretário de Educação. Na época, lembro-me que três correntes de pensamento discutiam sobre essa eleição. O primeiro grupo, com certo ceticismo, acreditava que essa eleição não existiria, e que teria sido apenas uma jogada de marketing no período de campanha. Um outro grupo acreditava na eleição e não participou porque achava que seria um jogo de cartas marcadas. A terceira linha de pensamento acreditava nas eleições, que elas ocorreriam, e partiu para a organização de um projeto educacional para a cidade. É aqui que eu começo a contar um pouquinho da história deste grupo, que durante oito meses se reuniu na casa da Professora Satie, ou melhor, na cozinha da Satie, onde discutiu e montou um plano de atuação para estruturar o projeto.

Durante esse período, convidei alguns educadores das redes públicas estadual e municipal da cidade, com suas formações específicas, para viajar nesse sonho. A recepção de alguns desses educadores foi positiva e produtiva. Começamos a levantar dados sobre a rede municipal de ensino e a decidir as diretrizes que embasariam o nosso trabalho. E dividimos assim: princípios, política de atuação, supervisão pedagógica, projeto pedagógico, educação infantil, ensino fundamental, educação de jovens e adultos e educação especial.

O passo seguinte foi visitar as escolas e discutir o que pretendíamos, mas principalmente, ouvir o que os educadores tinham para dizer e como gostariam que a educação em Cotia se encaminhasse. Após tabular os resultados, observamos que a maior preocupação apontada referia-se à centralização que existia na Secretaria de Educação, que levava a ações políticas educacionais injustas e conflituosas. A partir disto, o que norteou as discussões foi a palavra “descentralização”.

O objetivo deste artigo é contar um pouco da história desse momento singular na educação de Cotia, e reproduzir o que elaboramos, começando com as considerações de como estava a rede municipal de ensino naquele momento.* É bom lembrar que os dados são oficiais.



CONSIDERAÇÕES SOBRE A REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE COTIA


Nestes últimos quatro anos (1997-2000), presenciamos em Cotia a rápida e forte expansão do Ensino Fundamental na Rede Municipal, fato este consequente do Programa de Municipalização do Ensino. Na verdade, este processo atendeu às tendências apontadas pela L.D.B. Esperava-se que simultaneamente ao crescimento numérico, medidas básicas fossem implementadas para garantir o sucesso do processo. No entanto, algumas situações não alteradas frente a esta nova realidade de agigantamento da rede, determinaram a estagnação do avanço qualitativo na Educação do Município. Com o passar do tempo vários mecanismos foram desvirtuados, ou simplesmente deixaram de existir, comprometendo:
  • definição da política educacional
  • definição de propostas pedagógicas
  • planejamento
  • definição de metas
  • definição de prioridades
  • comunicação
  • acompanhamento das ações propostas
  • compra e distribuição de material em geral
  • compra e distribuição de merenda escolar
  • manutenção física dos prédios existentes
  • construção de novas escolas
  • ampliação de escolas
  • recrutamento e movimentação dos recursos humanos.

Sabemos que o desrespeito ao tempo necessário para a reflexão e assimilação de uma nova realidade potencializou o processo desagregador.

Ao analisarmos os quadros com números de alunos e classes em 30/09/2000 e 20/02/2001 (consolidados), notamos que houve expansão de 8,4% da Educação Infantil, 30,7% do Ciclo I do Ensino Fundamental, 22,4% do Ciclo II do Ensino Fundamental e diminuição de 22,8% do Ensino Supletivo. Constatamos que a expansão do Ensino Fundamental, em detrimento da Educação Infantil resultou em extinção de classes deste setor, acarretando em prejuízo no atendimento às crianças de 0 a 6 anos. Será necessária a realização de estudos que projetem utilização racional dos recursos humanos e físicos existentes para que estas dificuldades sejam superadas.




A REALIDADE DA EDUCAÇÃO EM COTIA ATRAVÉS DE DADOS ESTATÍSTICOS


Educação Infantil


NÍVEIS
BERÇÁRIO
MATERNAL I
MATERNAL II
JARDIM I
JARDIM II
PRÉ
TOTAL
CLASSES/ALUNOS
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL















CONSOLIDADO
30/09/2000
114
3.162
110
3.085
224
6.247
CONSOLIDADO
20/02/2001
10
143
226
28
322
637
94
1.846
111
3.166
243
6.340













+ 8,4%
TOTAL DE CLASSES (EXCETO PRÉ)
132

TOTAL DE ALUNOS (EXCETO PRÉ)
3.174









Ensino Fundamental Ciclo I



NÍVEL
ENSINO FUNDAMENTAL CICLO I
TOTAL
SÉRIES

CLASSES/ALUNOS
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CONSOLIDADO
30/09/2000
99
3.204
94
2.954
82
2.718
57
1.789
332
10.665
CONSOLIDADO
20/02/2001
138
3.670
104
3.208
103
3.131
89
2.903
434
12.912









+ 30,7%






Ensino Fundamental Ciclo II



NÍVEL
ENSINO FUNDAMENTAL CICLO II
TOTAL
SÉRIES

CLASSES/ALUNOS
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CONSOLIDADO
30/09/2000
23
827
18
612
10
391
07
296
58
2.126
CONSOLIDADO
20/02/2001
22
742
22
778
18
601
09
287
71
2.408









+ 22,4%






Ensino Supletivo (Educação de Jovens e Adultos)



NÍVEIS
SUPLÊNCIA I
TELECURSO
TOTAL

TERMO I
TERMO II


CLASSES/ALUNOS
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CL
AL
CONSOLIDADO
30/09/2000
23
561
31
742
16
410
70
1.713
CONSOLIDADO
20/02/2001
22
560
23
719
09
385
54
1.664







− 22,8%

Os dados de aprovação, retenção e evasão vêm nos mostrar coerência com o princípio da promoção automática, confundida com a progressão continuada. Isto nos revela a necessidade de se realizar um diagnóstico que será parâmetro para as novas formas de avaliação do rendimento.






Ensino Fundamental


Taxa de aprovação
97,71%
Taxa de evasão
1,13%
Taxa de retenção
1,16%






Educação de Jovens e Adultos


Taxa de aprovação
59%
Taxa de evasão
26%
Taxa de retenção
15%



* Artigo constante de jornal publicado em 2001, contendo o Projeto Educacional para a Rede Municipal de Cotia. Administração do Prefeito Joaquim Horácio Pedroso Neto – 2001/2004 e 2005/2008.



Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

Nenhum comentário:

Postar um comentário