Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O QUE MOVEM AS PESSOAS


APRESENTAÇÃO


Quando pensamos no projeto para a Secretaria, o que nos movia era uma vontade imensurável de fazer mudanças profundas na educação de Cotia. A primeira iniciativa foi democratizar a participação dos envolvidos na elaboração do projeto, que culminou com a eleição do secretário. Uma vontade do grupo era a defesa de ações coletivas, evitando personalismos e o risco de cair em atitudes antidemocráticas.

Assim fomos atendendo às reivindicações, colocando os planos em ação, e os resultados foram aparecendo. Talvez toda esta vontade de fazer a diferença fez da Equipe Pedagógica uma peça importante neste mecanismo que era movido por sonhos e esperanças, e que o Professor José Roberto descreve com lirismo e conhecimento teórico do que a educação em Cotia precisava, evitando voluntarismo e ações paliativas ou de faz de conta.   

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez



      O QUE MOVEM AS PESSOAS



     Como formadores de pessoas num mundo pós-moderno, complexo e repleto de antagonismos e paradoxos, nossa tarefa foi e continua sendo motivar, mobilizar e efetivamente fazer prevalecer o talento de cada um dos componentes da sociedade da qual fazemos parte. Fomos convocados a seguir, acreditando na Educação e no seu poder de fato de modificar o ambiente cultural em que se está inserido.
     Como as mudanças não param de acontecer, as crenças e os valores seguidamente entram em contradição. O ser humano da pós-modernidade é um ser mutante, cambiante, inseguro, que seguidamente se descobre em contradição com relação a seus princípios e valores básicos, assim como em relação aos métodos técnicos de produção, devido às mudanças concomitantes que ocorrem em seu entorno econômico e sócio-cultural.
     A pós-modernidade rejeita a visão idealizada e estática da verdade, herdada dos antigos, sustentando ao invés uma noção de verdade dinâmica, mutante, e condicionada por tempo, espaço e perspectiva, celebrando com isso a efemeridade, a diversidade e a relatividade do conhecimento, de crenças e de valores humanos. Nossa premissa pois, ao dar início à formação do grupo de educadores que posteriormente se transformaria no Departamento Pedagógico da Secretaria da Educação em 2001, era resgatar o humano no Humano.
     Desde outubro de 2000 um grupo de educadores se reunia semanalmente para discutir os “caminhos e os descaminhos” da Educação em Cotia. Foram horas de debates acalorados, de depoimentos de situações vividas no passado recente, de leituras e discussões das leis educacionais (dos objetivos, prioridades e aplicações de verbas). Idéias de como efetuar verdadeiramente a prática pedagógica atentando para o novo olhar do aluno-professor, idéias para que os professores trabalhassem mais preparados e satisfeitos, idéias para que os gestores resolvessem mais facilmente os problemas que fossem surgindo, idéias para que todos os funcionários se sentissem mais valorizados e que os alunos fossem considerados o foco de todos os evolvidos. Buscava-se sanar injustiças e corrigir o trato com as verbas destinadas à Educação.
     Em cada um de nossos gestos, olhares, existiam as possibilidades para acolher o “outro” e percebê-lo como legítimo “outro”. Para tanto, era preciso perseguir a motivação permanente, num processo interno que, em muitos momentos, víamo-nos impossibilitados de prosseguir, mediante cotidianos  que nos deixavam cair nas rotinas e nos afastavam do viver a beleza da Vida, partilhando e compartilhando a magia que reside na aprendizagem humana. 
     Hoje, somos inundados por um mundo de informações, temos algum conhecimento e falta-nos um pouco mais de sabedoria. Com isso fica claro o necessário resgate de valores humanos imprescindíveis à vida e em cada sala de aula, em cada escola, seja ela do nível que for, cabe-nos a tarefa de rever percursos, fomentar autorias, exercitar a paciência e a tolerância, aceitar as diferenças e as diversidades.
     Mais do que nunca, necessitávamos ser a própria mudança,  pois tudo muda o tempo todo no mundo. O resgate dos valores humanos na Educação era emergente com as intensas e sucessivas buscas, pois o que  podíamos de melhor fazer, além de ensinar os conteúdos de cada uma de nossas disciplinas, era interdisciplinar informações, promovendo o desenvolvimento humano e concebendo novas maneiras de formar pessoas para uma era que se mostrava cada vez mais repleta de incertezas, de lacunas, de dilemas, que a todos afetavam.
     Antes de qualquer coisa eram necessários o querer, o desejar, o compromisso efetivo e a vontade política de mudar. Enfrentar esta tarefa era estar diante de duas posturas que procuramos a todo instante avaliar: o voluntarismo e o determinismo. Evitava-se pensar ou agir como se tudo fosse uma questão de boa vontade, que “cada um deve fazer a sua parte”, da mesma forma que “não dá para fazer nada, pois o problema é estrutural, é do sistema”. Apesar dos enfoques tão díspares, as duas posturas acabam levando ao imobilismo ou a acomodação.
     Nossa opção foi um enfoque dialético: há a necessidade de análise para se perceber quais reais possibilidades de mudança, tendo em conta, tanto as determinações da realidade, quanto a força da ação consciente e voluntária da coletividade organizada. Nosso trabalho se colocou numa dupla perspectiva: inicialmente tentar despertar o querer mudar em todos, através de uma crítica aos problemas reais encontrados, para possibilitar o desequilíbrio, o acordar, o aprofundamento da compreensão, a tomada de consciência da contradição; em seguida, a partir de um redirecionamento de perspectiva, oferecer alguns subsídios para orientar concretamente os que querem realmente mudar (os que estão abertos, os que estão dispostos realmente a abrir mão do uso autoritário nas ações).               
     Entendíamos que a mudança não se dá de uma vez; víamos a necessidade de passos pequenos, assumidos coletivamente, mas concretos e na direção certa, desencadeando um processo de mudança com abrangência crescente, da sala de aula até o sistema político. Tratava-se de uma ousada luta da Educação, porém articulada a outras frentes e setores da sociedade: desde novas práticas na escola, passando por mudanças de legislação, até a construção de uma nova sociedade.
     Se desejássemos de fato colaborar com o processo de transformação da realidade, precisaríamos buscar um procedimento metodológico que também alavancasse essa transição. A construção de um método de trabalho possibilitaria evitar tanto o personalismo autoritário, quanto a dependência, em direção à autonomia.
     Partir da prática, refleti-la e transformá-la, estes devem ser os elementos da perspectiva dialética-libertadora que ainda nos move e nos conduziu na Secretaria da Educação até 2008.
 

                                                 Professor José Roberto dos Santos Pereira 

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