Ah! A praça da matriz da cidade de Cotia! Ela fez parte da vida de muita, muita
gente... Eram passeios, namoricos, esperanças... As moças subiam de braços
dados a rua Senador Feijó em direção à praça, onde os moços as esperavam para o
momento do flerte. “Foi assim que comecei a namorar o
Roque Savioli” - disse dona Nice.
Benedita Amélia Barreto Alvez, a dona Zizinha, cotiana nascida em 1916,
conta suas lembranças sobre a praça e nos fascina com a objetividade que dá às
suas palavras: “Naquele tempo íamos a reza depois dávamos algumas voltas pela
praça, mas tínhamos que voltar cedo para casa”. Trazendo mais recordações de
sua memória, dona Zizinha transforma suas frases em cenas vivas. Lembra-se do
cruzeiro na frente da igreja, que deu lugar tempos depois ao coreto, das
beatas, das festas, dos tropeiros que atravessavam a praça e seguiam na direção
ao sítio do Nhô Zaca, no Portão. Uma das imagens que marcou Zizinha foi quando
os revoltosos de Isidoro Dias Lopes, em contenda com Washington Luiz, chegaram
do Paraná, e um de seus homens entrou em plena Igreja Nossa Senhora do Monte
Serrat... montado em seu cavalo. Foi um tumulto geral.
Maria Conceição Alves de Oliveira, outra moradora da cidade, lembra-se
da inauguração do segundo coreto, em 1967. A festa contou com a presença da
caravana dos artistas do Programa do Rádio Patuá Reis e trouxe os cantores
Nelson Gonçalves e Paraguaçu Paulista. Era costumeira, no coreto, a
apresentação da Banda Municipal da cidade. Para lá iam os cidadãos, a fim de
escutarem marchas, valsas, modinhas... A praça era o centro cultural da época -
todas as atividades aconteciam no coreto. Era também o único lazer da cidade.
Conta o Sr. Leonel Ganem que a praça transformava-se, vez por outra, em campo
de futebol. Os times eram formados pelos moleques que moravam nas casas do lado
direito e do lado esquerdo da igreja.
Pedro Victor e Oscarlina Pedroso Victor, recordam as festas religiosas
que aconteciam no decorrer do ano, na praça da Matriz. As festas do Divino, de
São Benedito e da padroeira da cidade, eram comemoradas com muita devoção. A
Festa do Divino era realizada 40 dias depois do Sábado de Aleluia e as festas
da Padroeira e de São Benedito aconteciam juntas, no dia 8 de Setembro, para
evitar que houvesse dois feriados – é que São Benedito teria o seu “dia
cotiano”, não oficial, em 9 de setembro. Segundo dona Maria Conceição, na festa
do Divino os sitiantes e moradores da cidade levavam suas prendas para a casa
do festeiro do ano. Essa casa ficava conhecida como a Casa da Comida e os
alimentos eram distribuídos graciosamente para os devotos.
Passando a analisar as fotos, na primeira temos em destaque Benedito
Carlos dos Santos, que era conhecido pelo apelido de “Ditão” – habitante muito
popular da cidade; do lado esquerdo da praça está o coreto, o bar do seu
Vermelino, um sobrado onde se localizava a farmácia, e logo depois o Beco do
Savioli.
Na segunda foto, do lado direito da praça, destacam-se a Igreja da
Matriz e a rua Senador Feijó, ainda em terra batida, sem paralelepípedos.
Pesquisa realizada pelo padre Daniel informa que a igreja da praça foi
inaugurada em 1713. Pedro Victor destaca que essa foto foi tirada por ele de
cima do bagageiro de uma jardineira – o ônibus da época -, antes do seu casamento
com dona Oscarlina, em 1945.
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