Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

CAMPINHO DE FUTEBOL


De ponta a ponta do Brasil tinha um campinho de futebol. De lado a lado do País tinha um campinho de futebol!Com gente feliz e brincando. No centro do Brasil havia sempre um campinho de futebol! Tínhamos campinhos de futebol cheios de gente com criatividade e com uma vontade louca de vencer.

Onde havia um terreno baldio se montava um campinho de futebol. Juntava a molecada do bairro. Burburinho. Carpíamos o mato que atrapalhava o correr da bola. As traves eram de todos os tipos imagináveis. Com bambu. Com latinha. Com tênis. Com camiseta ou camisa. Já vi até trave de gente. De gente? Quando o moleca era muito ruim de bola arrumávamos uma função, colocando-o como trave (trave móvel- risos).

Conheci até trave criada pela imaginação. Determinávamos uma altura e largura e ali era o gol.

Na maioria das vezes,quando ocorria um gol, a ética e o bom senso eram usados pela molecada para sacramentar o golaço. Quando alguém queria puxara linha imaginária para seu lado,paralisava a jogada. Ocorria o debate e a discussão. Conflitos! Até chegar a um ponto de concordância. Senão se chegava a um veredicto,a pelada acabava ali mesmo.

Sacanagem não valia na pelada de campinho de futebol. O cara que usava desse jeitinho, para tirar vantagem da imaginação dos jogadores, era excluído do grupo. A palavra acertada pelo grupo era importante. Não podia ser quebrada por desvio de caráter de alguém.

Em Votuporanga e outras cidades do Brasil, penso que os campinhos não eram tão diferentes. Imagino que todos deviam ter suas regras.Também, tinham em comum que todos os campinhos eram em terrenos acidentados. Será?

Muitos campinhos desapareceram com o crescimento das cidades. Em Votuporanga, conforme a cidade ia crescendo,saíamos à procura de um terreno para ocuparmos. Muitas vezes sem permissão. Com o tempo, os espaços foram ficando distantes do nosso domínio territorial. Com o tempo, os espaços desapareceram e com eles muitos campinhos e craques.

Como sonhávamos com os grandes nomes do futebol! Até apelidávamos aqueles colegas que tinham um estilo de jogo semelhante aos craques da época. Olá, o Pelezinho. Olá, esse parece com o Jairzinho. Aquele com o Rivelino. Esse gol foi igual aquele do... Lindo! Discutíamos! Sonhávamos!

Pelada em campinho de futebol não tem juiz. Entre nós, não precisávamos. Combinávamos as regras antes do início da pelada. Briga, nem pensar. Sabíamos dos limites. No caso de avançá-las,perdíamos os amigos e os grupos de convivência. Ninguém queria ficar no isolamento das brincadeiras de rua.

Brincadeira de rua e campinho de futebol andavam juntos.

Em pelada de campinho não tinha impedimento. Um moleque, que não tinha habilidade com a bola,colocávamos na banheira. Alguém sempre gritava do outro lado do campo:sai da banheira, moleque! Caíamos na risada...
Organizávamos os campeonatos. O Bairro com café com a vila Marin. O Bairro da estação com o da vila América. E tudo funcionava harmonicamente. Nem sempre tínhamos bola. Bola emprestada era um problema à vista. Quando o dono da bola era chamado pela mãe ou pelo pai, a pelada acabava ali mesmo.

Duro mesmo quando o dono da bola não aceitava ser contrariado. Colocava a bola debaixo do braço e saía em retirada. Ficávamos putos da vida. Alguém sempre perdia as estribeiras: filho de mamãe. Boizinho. E palavrões que não podem ser descritos aqui.

Quando aparecia uma bola de capotão, adorávamos.

Hoje tem muita escolinha de futebol. Nada contra. Outra cultura. Outro tempo. Outros valores.
Mas ainda existe campinho de futebol de pelada? Um amigo do Norte e outro do Nordeste disseram que, pelas cidades do interior, se pratica jogo de bola de campinho. Nas grandes cidades eles quase foram extintos. Era um espaço de convivência de aprendizado.

Finalizando.


Um acontecimento que nos deixava desesperados era quando a bola caía na casa daquele vizinho próximo do campo que não devolvia a pelota (o chato). A tristeza tomava conta... Ficávamos p da vida!

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