Dia dois de abril Cotia faz aniversário, e saudosamente decidi
revisitar alguns textos que tratam deste tema. Ao
manusear o acervo de que disponho, encontrei um trabalho de pesquisa sobre a
cidade, escrito pelo médico Paulo Bafile. É um trabalho diferente e envolvente,
que mistura a linguagem da poesia com informações sobre a história da cidade.
Além disto, o autor acrescentou uma
pitada de humor, utilizando a imaginação e lendas populares do local. Fica a
gostosa dúvida do que é real ou fantasia. Temos aí um vasto material para
fazemos uma boa reflexão sobre a cidade.
Terceira parada: o nome da cidade.
O CASO DA COTIA QUE COMEU A MESA
Minha mãe me contava um caso antigo, do tempo em que era
menina, no Acre. Um dia trouxeram para casa um filhote de cotia, pego no mato.
Minha avó pôs a cotia para criar, e ela deu de roer tudo. Uma vez roeu o pé da
mesa onde se comia, e a mesa ficou pensa. Aí minha avó se encheu, matou a cotia
e comeram a cotia no almoço, sobre a mesma mesa que ela roera.
Sexta parada: a ruína do mandu.
LADAINHA DOS FANTASMAS DO SÍTIO MANDU
Aqui temos:
Vasta casa, altíssimo pé direito,
Confortável salão, elegante telhado,
Espessíssimas paredes, notável traçado,
Fartos mandiocais, incontáveis pés de
milho,
Filhos aos montes, dilatada fé em
Deus,
Sossegadíssima vida, sólida fortuna,
delicada capela, forte tradição,
luminosa colina, cantante riacho,
alvíssima farinha, magérrimos cães,
refrescantes coitos, luxuriosa
vegetação,
deliciosa aguardente, trançadíssimos
balaios,
longas tropas de burros, tilintantes
cincerros,
suaves sinos à tarde, mocinhas analfabetas,
mocinhos que cospem longe, casamentos
arranjados,
anjinhos de procissão, anjinhos em
seu caixão,
parteiras experientes, dulcíssimos
doces,
cavalos bem arreados, pasmaceira da
fazenda,
ponteiros de violeiros, brancos,
negros e mulatos,
notícias vagas da corte, estampidos
de espingarda,
bicho caçado de noite, peixe pescado
de hoje,
doenças só incuráveis, benzeções de maus-olhados,
recatadíssimas virgens, fechadíssimas
famílias,
pé de rosa no jardim.
Aqui dizemos:
Ó
Senhor, vos digo que
A casa já desfalece.
Mas o que era de si,
Em nós outros, permanece.
Sétima
parada: os nomes das ruas.
Perto do
centro estão os nomes dos defuntos ilustres
Da vila de
Cotia.
Depois, onde
outrora foram as fazendas, as minas
d’água, as plantações,
ficam os novos loteamentos.
Foi tudo
muito rápido. Não havia defuntos suficientes
Para nomear
tantas novas ruas.
Aí valeu a
imaginação.
Há uma
poesia moderna e misteriosa,
Ainda por
ser decifrada, nestes nomes.
AS RUAS DA CIDADE NOVA SÃO....
cidades de Espanha,
cidades da Bahia,
autódromos da fórmula
cinemas da capital,
pedras preciosas,
atores de televisão
imperadores romanos
monumentos da antiguidade,
famílias árabes,
indústrias do município,
cantores da música popular,
formas poéticas,
times de futebol,
escolas de samba,
estados americanos,
signos do Zodíaco,
frutos do mar,
deuses gregos,
batalhas da guerra do Paraguai,
e
muitos índios,
muitas mulheres,
muitos santos,
muitas flores,
muitas árvores,
muitos bichos
Experimente perguntar por quê.......
Prof . Marcos Roberto Bueno Martinez
*“Roteiro
Poético absolutamente Pessoal e sem Mapa para a Cidade de Cotia” Autor Paulo
Bafile. Publicação 1995.
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