Pai,
estou namorando! Mãe, estou namorando!Ah! Como reagimos? Atônitos!A voz
embarga? Sentimento de traição? Os pais, quase sempre desavisados, sentem que o
chão saiu debaixo dos pés. Diante da notícia, percebem que os filhos ou as
filhas cresceram e eles não perceberam. Continuar crescendo é difícil para
todas as idades.
Assunto
tabu quando tocamos nesse tema, é veladamente. Psiu! Fala baixinho pode ter
alguém ouvindo.
Uma
reação inusitada: uma amiga quebrou tudo o que encontrou pela frente quando foi
avisada por uma amiga que a filha estava namorando, nem o telefone escapou da
sua ira. Aos gritos e descontroladamente,ela queria saber se a filha continuava
ainda virgem. Lamentou: não era isso que deseja pra ela (a filha).Sua... Não
era o que eu esperava de você. Sua... O que eu vou dizer para seu pai? Todos os
moradores do prédio ouviram a conversa. As mães se sentem traídas nesses casos.
Muitos
fofoqueiros adoraram ouvir quase tudo- no dia seguinte tinham o que falar,
fuxicando. Outros se sensibilizaram. Os pais são os últimos a saber. Quase
sempre.
Dissimulação.
O
pai, normalmente, responsabiliza a mãe quando a filha começa a namorar. Quando a
filha inicia sua vida sexual, a mãe também é culpada. É cômodo demais. Deixei a
educação dela na sua não,cobram os pais. Se eu tivesse cuidado teria sido
diferente. Como diferente? Como alguns pais se comportam tão covardemente!Mas
quando o namoro é anunciado pelo filho homem, opai homem reage de forma
completamente diferente. Os pais dizem: “cuidem de suas cabras porque meu bode
está solto”.Puro machismo latino.
Os
filhos crescem e os pais não amadurecem.
Recebi
outro dia a visita de uma amiga desesperada e aos prantos. Queria desabafar e
falar sobre a filha. Tinha descoberto que a filha tinha arrumado uma namorada.
Como eu lido que essa situação? Choro! A cada indagação as lágrimas desciam
torrencialmente. Não posso aceitar essa situação. Fui educada em uma família
tradicional. O que os outros vão dizer? Se o pai dela ficar sabendo pode
acontecer uma tragédia. A cada frase a culpa a atormentava e dilacerava os seus
conceitos tradicionais sobre a sexualidade.
A
culpa é um martírio.
Não
é como antigamente que, quando de uma gravidez de mãe solteira, essa era
expulsa de casa. Excomungada!Jogada na rua. Ignorância! Segundo os antigos,
ninguém se casaria com uma mulher com filho(a) e ainda solteira. Estava condenada
e estigmatizada como mulher desonrada. Acho que isso não acontece nos dias de
hoje.
A
ignorância é aterradora.
Depois
de muita conversa, minha amiga foi se acalmando e começou a dizer o que lhe
incomodava tanto nessa relação. Discutimos que ela deveria estabelecer
critérios do que era aceitável e não aceitável nessa relação diante da família.
Envolveu os irmãos e as coisas foram se resolvendo. Ficou claro para todos que
aquela relação estava em um contexto e que o respeito em relação às diferenças
passava a ser importante.
O
homem.
O
pai tomou uma posição de indiferença como se essa situação não fosse com ele.
Nem todo pai é assim.
O
dialogo ainda é a melhor saída.
Um
pai entrou na coordenação da escola empurrando a porta e, agressivo, aos gritos,
dizia como que a escola não tinha avisado que seu filho era homossexual. Essa
não é a função da escola, disse a coordenadora com firmeza. O pai aos poucos
foi se acalmando. Nunca aceitou a opção do filho.O homem caiu num choro
sentido. Talvez a culpa e o preconceito sejam as piores coisas que existam nessa
situação. O final aqui não foi feliz até onde acompanhei.O filho saiu de casa e
foi construir sua vida distante da família.
Família
envergonhada aos olhos preconceituosos.
Outro
dia recebi um cartão de um país da Europa em que um homem (ex-aluno) assumiu a
sua homossexualidade. Tem uma boa profissão. Bem-sucedido. Se o diálogo e a
aceitação das diferenças fossem aceitos sem preceitos e preconceitos, esse tema
teria deixado de ser tabu há muito tempo.
Nem
todo final é feliz.
PS:
aqui são pedaços de histórias que muitos educadores lidam no seu cotidiano de
sala de aula (escola).
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