Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

quinta-feira, 3 de março de 2011

NO LIMITE


A pesquisa sobre a ocupação territorial de Cotia, escrita e publicada em livro pelo arquiteto e historiador Mário Savioli, merece ser lida e apreciada por quem pretende conhecer melhor a cidade. O autor elege a Rodovia Raposo Tavares como tema central do seu estudo, e a partir dele mostra o surgimento dos bairros periféricos e a expansão e ocupação territorial da cidade, feita de forma intensiva e desordenada nas últimas décadas. Uma pesquisa muito singular sobre Cotia. Um outro aspecto interessante do trabalho do historiador Mário Savioli é a contextualização histórica da sua tese. Imagine Cotia sem a Rodovia Raposo Tavares. Ela sempre foi a espinha dorsal da cidade. Vamos lá! Como eram as vias de comunicação antes da Raposo Tavares? As trilhas indígenas, os rios e córregos eram uma forma de adentrar em nossas terras e também de ir além delas, rompendo fronteiras. Pensando assim, quero convidá-lo a conhecer Cotia com um olhar diferente do que estamos acostumados. Venha comigo! Começaremos a partir dos rios que ficam nos limites do município, depois iremos às nascentes, e por último aos rios degradados.   
Como sugestão, este tema é instigante para realizar uma pesquisa e envolver os alunos. Vamos ao Jardim Japão!  O jardim Japão faz divisa com a cidade de Ibiúna,  e o rio que faz esta divisão é o Sorocamirim, que tem uma importância significativa  na vida dos moradores deste lugar. O Jardim Japão surgiu na década de 80, com terrenos de 5m por 25m, e o crescimento foi rápido, mas muito mais do que rápido. Não tinha água potável e nem saneamento básico. Os moradores começaram a furar poços e a construir fossas, e não demorou  muito tempo para contaminar o lençol  freático. O olhar dos lideres comunitários do bairro voltou-se para o rio Sorocamirim como  solução para a falta de água. Foram anos de luta para que os problemas fossem resolvidos. Hoje o bairro recebe água tratada da Sabesp e do rio que divide Cotia de Ibiúna. A Sabesp instalou ali um posto de tratamento de água separado da estrutura que abastece Cotia. Não é interessante? Não só interessante, como merece um estudo aprofundado. E por outro lado, é uma experiência que pode ser implantada em outros lugares.
                                                        

Estação de tratamento de água da Sabesp do Jardim Japão, no Rio Sorocamirim.  
                        

Rio Sorocamirim, que divide Cotia de Ibiúna.
 
O Ribeirão da Ressaca divide o município de Cotia com a cidade do Embu e com Itapecerica da Serra. Existe uma certa confusão em relação a esta divisão do município. Conversei com um morador antigo do bairro da Ressaca sobre a existência daquele ribeirão, e  ele não sabe quase nada e tem poucas lembranças, mesmo morando ali há quarenta anos. O que percebi dos moradores é que a ambiguidade cerca aquele lugar, pois as pessoas não sabem muito bem onde fica a divisa e a qual município pertencem. “Aqui neste fim de mundo, quem chegar primeiro e fizer alguma coisa pra gente, leva o voto”, disse um morador. O mais estranho de tudo é que o ribeirão não é nem percebido pelos moradores. Não tenho idéia se são todos, mas a indiferença é grande em relação ao ribeirão . Também merece um estudo. Fica muito claro que, se a comunidade não sente aquele ribeirão em suas vidas, é difícil preservar.
Outro ribeirão que divide Cotia de São Paulo e Osasco  é o Ribeirão Carapicuíba, ali no km 21. As moradias foram se formando com o tempo, na divisa, e os problemas também. O rio que antes servia de caminho e até abastecia a população, agora se tornou um problema. Diferente do Sorocamirim, que abastece o Jardim Japão. Durante anos os moradores  sofreram com as inundações, aparentemente resolvidas no ano passado com a construção de uma contenção lateral no barranco do rio. Outro rio que divide a cidade é o Córrego da Estiva. Este e o Ribeirão Carapicuíba parecem mais um esgoto a céu aberto. O Córrego da Estiva divide Cotia de Itapevi, ali no bairro do Rosemeire. Talvez, de todos os rios da cidade, este esteja em um estado mais deplorável do que os outros. Vale lembrar que na divisa fica a Roselândia, que deve ser resgatada e apresentada à cidade e ao mundo, pois ali existem experiências maravilhosas com rosas. Nesta pequena conversa dá para fazer uma viagem pela história de Cotia e do Brasil. A ocupação do território brasileiro a partir de Cotia e outros temas como a escravidão são fascinantes. É só querer.          

3 comentários:

  1. Muito legal, Marcão. Onde é que a gente consegue para ler o trabalho de Mário Savioli?

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  2. Dr. Ailton:
    Nosso dep.Quinzinho é muito querido no Jardim Japão,é considerado o padrinho do bairro.....e não é a toa pois tudo de bom que tem no bairro foi graças a ele.
    Um grande abraço professor.

    Dr. Ailton:
    No ano de 1996 em um evento no bairro, eu e o então vereador Quinzinho
    entregamos copias da desapropriação do terreno e o convenio com a sabesp ..........e mostramos a importancia daquele ato.
    No inicio do mantado seguinte o prefeito MARIO RIBEIRO inaugurou a ETA.


    Convoquei uma reunião na comunidade onde mostrei que os poços não tinham condições de uso, que era necessario o uso do "hipoclorito" 2 gts por litro de água.
    Professor essa reuniao aconteceu em 02 de fev. 92 e absurdamente no dia 04 de fev. 92 fui pego de surpresa no programa aqui agora onde um prefeito médico não dava a minima para um povo que estava bebendo esgoto. Mostravam o lado do exame que eu mesmo fiz........... coisas da politica.
    Mas no de 1993 instal. 22 postes de luz, inicia-
    mos as obras da escola João Weter (meu tio) e tambem as obras do salão comunitario e do posto de saúde. Todos concluidos no ano de 1995 por mim e tambem pelo meu lider na câmara municipal e vereador do bairro nosso querido Quinzinho.
    3.Quanto ao problema d'água os moradores e o presidente amigos de bairro pediam a construção de poços artesianos,inclusive havia 2 licitaçoes paradas na prefeitura da epoca do prefeito Mario Ribeiro (prefeito anterior).Nunca foi dito ou sugerido por ninguem a construção da ETA. No ano de 1995 pedi ajuda a um especialista da USP que rapidamente sugeriu o aproveitamento da água do rio Sorocamirim
    e que a construção da ETA era muito mais barato do que levar adutoras até o bairro (distante ).Foram feitas algumas reuniões com a presidencia da SABESP
    e com o apoio politico do dep. Luis Carlos Santos conseguimos assinar o convenio onde a prefeitura faria a desapropriação do terreno e a Sabesp construiria a estação de tratamento d'água.

    Tudo bem Professor?? espero que sim. Adorei a materia em seu blog sobre o bairro Jardim Japao.Gostaria de fazer algumas observações.
    1.Como um prefeito aprova um bairro tão distante de tudo e de todos com lotes 5 x 25m e que sabidamente a sabesp não teria condições de construir tubulações para atender o abastecimento de água........................vc que é muito inteligente sabe o porque.......
    2.Qdo assumi a prefeitura em 92 o bairro não tinha água e o abastecimento era feito com um caminhão pipa que só vivia quebrado.Algumas ruas do bairro não tinham postes de luz. Não havia escolas e nem postos de saude.No ano de 92 foram feitas coletas dos poços para exame da água.....resultado não poderia ser diferente: coliformes fecais.

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  3. Olá meu amigo, aqui é o professor jismario, como é bom ver alguém citar meu bairro, em um blog, acho que td que acompanharam o meu trajeto aqui como lider comunitário sabe a luta q. foi trazer alguma melhoria para o jd. japao, como citaram acima um bairro distante cheio de divisas e pouco valorizado. hoje tenho a alegria de morar em um bairro com quase todas a infraestrutura que um morador precise para conseguir morar dignamente, falta muito ainda para ser um lugar ideal mas estamos lutando para chegar lá. Não podemos jamais deixar de agradecer a todos os politicos que pouco ou muito fizeram pelo nosso jd. japao. E continuamos na luta para conseguir dia apos dia trazer mais melhorias para cá. Um bj em seu coração. Prof. Jismario

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