Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Final de ano...




Todo final de ano deveria ser entediante, mas não é. Cada ano é diferente, porque não somos estáticos e sim dialéticos na relação que estabelecemos com a vida. As datas festivas do Natal e do Ano Novo se tornaram momentos de consumo frenético, em que cada um quer agradar com um presentinho simples ou não. Lembrar simbolicamente que ama, que quer bem o outro, pode ser os filhos, netos, sobrinhos ou amigos, mas o importante é lembrar com algo que marque materialmente este ato de amor.


Tenho amigos que se pudessem desapareceriam do planeta para não participar destas festividades... eles acham que final de ano não passa de uma data para reforçar os caixas dos capitalistas. Discordo. Outros amigos, não tão sectários, buscam refúgios espirituais para fugir do agito, pois pensam eles que estes dias deveriam servir de reflexão para uma vida melhor no planeta. Um terceiro grupo de amigos pensam que estas festas são invenção para iludir o povo, tipo um ópio, enquanto o povo é dominado pelas elites. Discordo. 


Sem caretice e desculpas, curta estas festas do jeito que achar melhor.


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

terça-feira, 23 de outubro de 2012

HOUVE FRAUDE ELEITORAL PARA VEREADOR EM COTIA?



Um tema delicado, que envolve a credibilidade do sistema de urnas eletrônicas, e que deve ser abordado com muito cuidado e critérios éticos. Estão em jogo mais de cem anos de república, com momentos históricos de sistemas de governo autoritários e democráticos. Este último ciclo da nossa vida política foi conquistado com a luta de vários segmentos da sociedade. A cada eleição, a cada voto, reforçamos as instituições democráticas. Portanto, usar de leviandade ou de fatos inverídicos põe em risco a continuidade da construção dessa sociedade que tanto sonhamos.

Antes quero colocar este objeto de estudo como algo do qual me distanciei, para poder julgar ou opinar, pois fui candidato a vereador e não pretendo de forma alguma me colocar como derrotado, mas refletir sobre o sistema de votos através das urnas eletrônicas. Após as eleições, já convencido de que não tinha ganhado o pleito, retomei a vida. Porém, nos primeiros dias comecei a receber visitas de amigos que tinham sido candidatos e também de eleitores, relatando alguns acontecimentos que não são comuns ao processo de uma eleição, como por exemplo:


- a  foto do(s) candidato(s) em que votaram não apareceu na urna;

- eleitores de extrema credibilidade, que votaram no seu candidato, verificaram que os votos não foram computados; (Onde estão? Para onde foram esses votos?)

- em alguns casos, eleitores foram recepcionados na porta da seção com o comprovante de votação, já pronto.


Se estes fatos tivessem sido relatados somente por uma ou duas pessoas, não deveríamos talvez dar tanta importância mas, como aos poucos aumentou o número de candidatos e de eleitores que relatavam situações semelhantes, e frente ao número de seções existentes no município, creio que merecem uma maior atenção.

Isto não aconteceu somente em Cotia, mas também em outros municípios, em especial em Curitiba, onde houve a prisão de um cidadão que queria vender um sistema para desvio de votos para uma coligação da cidade. Fora isto, na Internet são vários os vídeos que vêm mostrando a vulnerabilidade do sistema de urnas eletrônicas no Brasil. Veja por exemplo estes: 




Frente aos relatos é bom salientar que estes não são documentos, mas nos servem de norte para questionar onde está a falha no sistema eleitoral. Na fiscalização ou...? 


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

UM CASO DE AMOR




Pode até ser redundante, exagerado: amo meu filho! Este ano ele completa 27 anos, durante os quais vivemos muitas histórias juntos, que nos tornaram grandes. Já entramos em conflito e também já construímos momentos decisivos em nossas vidas. Um filho e um companheiro. Redundantemente: amo meu filho! Parabéns!


Marcos Roberto Bueno Martinez

domingo, 30 de setembro de 2012

SOLANGE BRACHINI


Minha querida prima...

Estamos acostumados, ou nos acostumamos, com diversas situações que vida nos coloca. A única delas em que isso não acontece é a morte. Como é difícil!

Solange, dê um abraço apertado na vovó da bala, no vovô Amadeu,  no meu pai. Mas o encontro mais  esperado é com o seu pai... coloque a conversa em dia.  

Um abraço fraternal


Solange Brachini, para quem não a conheceu, foi daquelas pessoas que sempre estão dispostas a estender a mão para uma ajuda. Muitas vezes tirava de si própria para socorrer o outro.  Minha prima fez da sua vida neste mundão de meu Deus um significado que a coloca num patamar de gente que passou por aqui e fez a diferença. Perdeu o pai muito cedo e saiu para trabalhar muito nova ainda, mas nunca perdeu o elo com a família. Sempre preocupada com o cuidado  das irmãs e da mãe, foi construindo para si uma história de boas ações. É desta Solange que sempre vou lembrar. Da Solange que sempre tinha nos lábios uma palavra amiga e de otimismo.



Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

UMA INFORMAÇÃO RAPIDINHA


UMA INFORMAÇÃO RAPIDINHA 

Cheiro de tinta, de papel e muita informação. Assim nasce ViVa Cotia, um jornal eletrônico que virou também impresso, e que pode ser apreciado pelos moradores de Cotia e região.

Fau, mais um sonho realizado! Após as eleições quero um pedacinho nesse informativo. (Sou pidonho...)

Parabéns! 

quarta-feira, 18 de julho de 2012

PLANEJANDO...

(Colocando em prática o Plano Diretor do Município)

Começou mais um pleito eleitoral para prefeito e vereador. São milhares de projetos apresentados para resolver assuntos ligados a transporte, educação, segurança, saúde e meio ambiente, entre tantos outros que nos afligem. O que podemos sentir é que em muitas propostas faltam objetividade e coerência, e que tantas outras servem apenas para enfeitar páginas de material político, com certeza distantes dos problemas sociais que vivenciamos no dia-a-dia.

Para diminuirmos a corrupção e a ineficiência da aplicação do dinheiro público, não vale o candidato se autopromover dizendo que é honesto ou que será mais honesto que os outros, pois honestidade é um valor, não é um projeto, e ineficiência se elimina planejando. Nessa linha de pensamento, o Plano Diretor do Município é fundamental para que a cidade gaste o dinheiro público naquilo que precisa e com resultados positivos para a população.

Cotia precisa tirar o seu Plano Diretor da gaveta, se quiser de fato resolver os seus problemas de infraestrutura e estruturais, e de preferência que esse plano seja discutido com a sociedade organizada: ONG’s, associações, sindicatos, e cada secretaria do município. No final de quatro anos, com certeza a cidade se apresentará com outra cara.

A população sentirá os efeitos dessa conduta política ao requerer uma vaga em uma creche, por exemplo. Se planejarmos a construção de escolas para atender a demanda existente, com certeza veremos resultados significativos e vagas não irão faltar. Mas, se faltarem, dentro do planejado saberemos quando poderemos atender.

Hoje, em Cotia, um trabalhador gasta quase um terço do seu salário com transporte público. Novamente, um planejamento que defina as regras de concessão de funcionamento para as empresas e as rotas por onde devem circular os meios de transporte será o começo para baratear a passagem e atender a todas as regiões do município. A sugestão é a criação do bilhete único, tanto nas linhas municipais como intermunicipais. Outro meio de transporte que não deve ser esquecido é o alternativo, que deve fazer parte desses critérios de concessão, saindo da ilegalidade. Nesse processo a Câmara Municipal, como legisladora, tem um papel importante.

Houve um avanço na saúde do município e, se pautarmos a fragilidade dessa área, observaremos que temos hospitais públicos em Cotia e várias cidades circunvizinhas. Talvez precisemos melhorar consideravelmente o primeiro atendimento nos postos de saúde, aplicando conceitos de qualidade total. É bom lembrar que existem postos, mas que precisam de melhores condições de funcionamento. De novo entra em cena o Plano Diretor, que definirá a construção de novos postos, o pagamento de salários para médicos e funcionários, e o atendimento simples, porém humanizado, como a colocação de ambulâncias para os primeiros socorros, em regiões afastadas do centro da cidade.

São constantes, na mídia local, artigos e denúncias sobre o desmatamento em Cotia. Alguém acusa, o acusado se defende, sobra a culpa aos empreendimentos imobiliários e o desmatamento continua.  É preciso determinar dentro do Plano Diretor que cidade queremos, no âmbito de uma política da sustentabilidade, e aí cabe ao Poder Legislativo fiscalizar. Existem leis de proteção ao meio ambiente, tanto federais, quanto estaduais e municipais. Elas devem ser cumpridas. Crescer organizadamente significa termos uma cidade agradável, prática e humana, com o poder público funcionando eficientemente naquilo que é de sua responsabilidade e planejando suas ações, de olho nos objetivos, nas metas e nos resultados.

Dessa forma convém funcionarem harmoniosamente os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, juntamente à sociedade organizada. Talvez assim evitemos o empurra-empurra.



Professor Marcos Roberto Bueno Martinez
Julho de 2012

terça-feira, 26 de junho de 2012


UM POUCO DA  MINHA HISTÓRIA

Ao escrever sobre a nossa história, podemos correr o risco de criar uma imagem que não representa o que realmente somos. Nessa linha de pensamento podemos cometer um outro erro, que é transformar a imagem daquilo que somos, em algo que gostaríamos de ser. Para não cometer nenhum desses dois erros, vou contar um pedaço da minha história no ambiente underground e na política.

Comecei no início da década de 80 como líder estudantil e peguei gosto pela coisa. Mais tarde me engajei na luta sindical, em defesa de uma educação de qualidade, além de me iniciar na política partidária, acreditando que assim poderia transformar o mundo. Depois de alguns anos assumi a Secretaria de Educação de Cotia, e durante dois mandatos realizei boa parte dos sonhos que foram possíveis de serem realizados. Quebrando o gelo, como já dizia Jorge Mautner na mesma década, a luta de classes desapareceu e os movimentos sociais passaram a ser pautados por questões ambientais e de gênero. Assim sendo, estou engajado no Partido Verde.

Nesse tempo de amadurecimento estudei muito, li livros, escrevi livros, fui a shows e a teatros, participei de eventos culturais, lutei pelo fim da ditadura militar e pelo reestabelecimento da democracia, participei do movimento das “Diretas Já”, depois do impeachment do Collor, e até conheci Brasília, que achei monótona demais. Outro dia encontrei uma amiga que se lembrou de uma época inesquecível na minha vida: a dos espetáculos da Lira Paulistana, da Feira da Vila Madalena, da Fábrica do Som e de inúmeros outros eventos, que foram marcando não só a minha vida, como a minha alma. Como um bom vinho, acho que estou preparado para enfrentar essa nova fase.

Quero me despedir das colunas do Portal Viva e do Portal Viva Granja, para os quais escrevi 58 artigos sobre assuntos diversos, agradecer à Fau Barbosa e ao Marcio a oportunidade que me deram, e que espero ter de volta assim que o período de campanha eleitoral terminar.  

Bem, de verdade mesmo só contei o que podia.

Prof. Marcos Roberto Bueno Martinez

CONSTRUINDO UM PROJETO DE EDUCAÇÃO




Ao assumir a Prefeitura de Cotia, em 2000, a nova gestão[1] iniciou de fato a implantação do projeto de governo na área da educação, proposto durante a campanha eleitoral. A primeira ação foi desencadear um processo eleitoral para escolha do secretário da educação. Assim, Cotia foi o único município do Brasil a realizar esta eleição, algo nada comum, pois os cargos de secretário são de confiança do prefeito. Este ato de coragem começou a fazer a diferença na educação do município. Com o passar do tempo, o resultado, segundo o Índice Paulista de Responsabilidade Social[2]: no ano de 2000, Cotia aparecia na 454ª colocação (péssimo), e em 2006, na última avaliação realizada pelo instituto, Cotia avançou para a 48ª colocação na região metropolitana da Grande São Paulo.

PÉ NA ESTRADA



Depois de lançada a proposta de eleição para secretário da educação, partimos cheios da esperança de que poderíamos elaborar um projeto que mudasse a “cara” da educação na cidade. O primeiro passo foi organizar uma equipe de profissionais altamente estimulados, focados na realização de um projeto inovador. Convidamos educadores de várias faixas etárias, com experiências diferentes em educação, e na casa da professora Sati nos reunimos durante meses para discutirmos sobre temas diversos, a fim de que o projeto pudesse causar um grande impacto na rede municipal de ensino. Naquele momento os professores viam a nova administração com desconfiança e muitos estavam céticos e cansados de promessas. E tinham razão de se sentirem assim, devido ao tratamento que receberam durante anos. Não foi fácil esta possibilidade de esperança! A primeira ação do grupo foi ouvir os professores da rede e pesquisar dados com que pudéssemos vislumbrar soluções concretas aos problemas apresentados. Passo a passo fomos conquistando muitos educadores. Depois do primeiro esboço pronto fomos visitar as escolas –  quase 60 escolas foram visitadas –  para conhecer suas realidades e conversar com mais professores, abrindo um canal para a discussão do projeto e para que eles apresentassem novas sugestões. O projeto foi criando vida e forma. Foi uma experiência  extraordinária.



[1] Administração do Prefeito Joaquim Horácio Pedroso Neto.  Primeira gestão: 2000 a 2003. Segunda gestão: 2004 a 2007.
[2] Índice Paulista de Responsabilidade Social – indicador de escolaridade e seus componentes. Fundação                        SEADE – www.seade.gov.br 

quinta-feira, 7 de junho de 2012

ENTREVISTA



Nesta sexta feira, 8 de junho, participarei do Programa Hora Marcada, com Roberto Ferrari, conversando sobre educação, saúde e outros assuntos. Não perca! Fique ligado no endereço www.tnibrasil.com.br  -  às 20h15min.

Clique e participe do bate papo.  

terça-feira, 22 de maio de 2012

INDICAÇÃO DE LEITURA



Pulmão de aço – uma vida no maior hospital do Brasil é um livro emocionante e contundente, que conta a história de Eliana Zaqui, moradora permanente do Hospital das Clínicas há quase 40 anos. Não o considero um livro de autoajuda, pois vai além disto: é a história de vida de Eliana e de seus companheiros de UTI e quarto no hospital. Há tempos que eu não lia um livro desses, que dá vontade de ler de cabo a rabo, a cada palavra a experiência de vida de quem deu entrada no hospital ainda bebê, com poliomielite, e que ficou imobilizada do pescoço para baixo e com deficiência respiratória.

Não pense que o livro de Eliana é para chamar sua atenção para que você possa ser melhor e levá-lo às lagrimas. Pelo contrário. A cada capítulo uma superação é narrada, mas sem a onda de vitimização que normalmente tem este tipo de literatura. O livro é pura vida e luta de quem quer continuar vivo.

Para finalizar, a leitura é tão boa, que parece quando a gente começa a comer salgadinho e não consegue parar. Ótima!

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

Pulmão de aço – uma vida no maior hospital do Brasil
Eliana Zaqui
Editora Belaletra.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

UMA DICA DE LEITURA




HOMENS INVISÍVEIS: RELATOS DE UMA HUMILHAÇÃO SOCIAL.

Uma leitura esclarecedora sobre aqueles (as) que estão todos os dias, no nosso cotidiano, e não enxergamos. Talvez o único nome que reconhecemos e damos eles seja o de “Tio” ou “Tia”. Eles são invisíveis mas presentes, limpando o banheiro e catando o lixo que jogamos muitas vezes no chão. Depois de ler o livro do psicólogo Fernando Braga da Costa, é visível o quanto são ignorados. Andam de cabeça baixa, olhando para o chão, com uma postura de subserviência e sem nome. A tese de doutorado do Dr. Fernando deve ser lida e analisada para entendermos melhor as pessoas que nos cercam e sua condição social. Qual é mesmo o nome daquele que limpa o chão do shopping ou qualquer outro espaço?

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

Livro:
Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social
Autor: Fernando Braga da Costa
Editora Globo

quarta-feira, 9 de maio de 2012

UMA INFORMAÇÃO RAPIDINHA:



O PALHAÇO QUE NÃO É TÃO PALHAÇO...

Li a entrevista do Deputado Everaldo Oliveira Silva (Tiririca) na revista Piauí, sobre sua história de vida e sua atuação no Congresso Nacional. Ele deu um “cala boca” em muita gente. Tiririca é um deputado que tem frequência de 100% nas sessões da Câmara e faz parte da Comissão de Educação e Cultura, na qual apresentou um projeto para gente de circo como ele. Nesse projeto, ele pede para que as crianças e jovens desse segmento da sociedade tenham direito garantido nas escolas das cidades por onde passam. O “Abestado”, como se intitula às vezes, venceu mais um preconceito: o da intolerância.

Revista Piauí de maio –  número 68.

Prof, Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 7 de maio de 2012


UMA NOTA DE CARINHO E RESPEITO



A MORTE É UM GRANDE DESPERTAR

 (NELSON RODRIGUES)



Na década de 80 a Escola Estadual Vinícius de Moraes, localizada em Cotia, destacou-se pela luta contra o fim do Regime Militar. Desejávamos que o país devolvesse os direitos constitucionais usurpados aos seus cidadãos, fato que foi conquistado depois de um tempo, com muita organização e luta.

A Escola Vinícius de Moraes era uma faculdade para a vida, na medida em que incentivava discussões pertinentes àquele momento. A professora e vice-diretora Zilá fez parte deste processo de construção de gente que pensa, que participa e decide.

Carinho e respeito não se compram, se conquistam, e a senhora está marcada na história de vida de cada um de nós.

SAUDADES!

Alunos da “faculdade” Vinícius de Moraes.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

FESTA DO PEÃO DE BOIADEIRO: DÉMODÉ




Quem gosta de Festa de Rodeio? Segura peão! Muita gente vai responder que adora e outros vão dizer que não gostam de jeito nenhum. Outros tantos vão dizer que só curtem os shows. Agora, tem muita gente que diz que só vai por causa da montaria. Portanto, tratar este assunto do ponto de vista do gosto pessoal é complicado demais. A discussão pode terminar com aquela antiga máxima de origem desconhecida, “gosto não se discute”! Além disto, pode gerar preconceito contra a cultura, o estilo de vida de cada um. Para evitar que a conversa termine desta forma é melhor contextualizá-la. As festas de rodeio ou de peão estão fora de moda, apesar de ser um evento antigo e de origem rural. Hoje as entidades de proteção aos animais lutam para o fim deste espetáculo. 

Uma argumentação usada pelas entidades de proteção aos animais é imbatível: maus tratos. Na festa do peão de Cotia, os militantes deixaram sua marca nos tapumes em torno do evento: “Amarre seus testículos e sinta a emoção do rodeio.” Tragicômico. Mas muito mais trágico. Estas festas são, na sua maioria, descontextualizadas, e são realizadas no “mundo urbano, fantasiado de caipira”, ou melhor, de cowboi. A festa, que tomou dimensões internacionais, enfrenta oposição no mundo todo. É um evento sem dúvida violento, visto que a cada ano aumenta o registro de acidentes com montadores e de acidentes fatais. Qual a ligação cultural desta festa com as cidades onde elas ocorrem? Existe ou seria somente financeira? 

Não é porque sejam tradições culturais que esta e outras festas devem ser mantidas. Na verdade, a festa do peão nem mesmo é nossa tradição. A farra do boi em Santa Catarina tornou-se uma atividade criminosa e as touradas na Espanha estão com os dias contados. 

Perguntas: As festas do peão geram receita para as cidades onde são realizadas? Se geram, elas estão ligadas com investimentos na área da saúde, educação, segurança e infra-estrutura? Não tenho nada contra o entretenimento, mas é preciso urgentemente avaliar se festas deste tipo são positivas para a cidade. A única coisa que tenho contra é em relação aos maus tratos aos animais. Precisamos aprender a respeitá-los e decidir se queremos que a nossa cidade seja conhecida por sediar rodeios cruéis ou por realizar festas diferenciadas, com um divertimento mais humanizado.


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez


segunda-feira, 9 de abril de 2012

UM NORUEGUÊS DE COTIA*



“São inesquecíveis os momentos quando o Senhor Tore Munck vinha 
nos visitar na Avenida São Camilo. 
Eu ficava muito admirada pela paixão que ele tinha por crianças.” (Isabel Jesenicnik)


Para escrever sobre a passagem do norueguês Tore Albert Munck pela cidade de Cotia, pretendo objetivamente não transformá-lo em um mito, apesar de que muitos funcionários que conviveram com ele durante anos tenham essa visão do empresário criativo e empreendedor. O que pretendo é apresentá-lo como um homem passível de acertos e erros como qualquer outra pessoa. A sua história com a cidade, no final da década de 50, e com a cultura brasileira, irá marcá-lo profundamente. O senhor Albert Munck, em seu tempo de passagem aqui, se tornou um autêntico brasileiro de espírito.




Nessa década, Cotia é uma cidade em que predomina a economia rural, sob a influência da imigração japonesa. Além da agricultura, a economia extrativista de carvoaria também fazia parte deste período. Porém, desde o início do século XX o lugar vem passando por mudanças rumo ao processo de industrialização, começando com o setor de metalurgia. A indústria metalúrgica vai alterar este cenário a partir do final de 50 e o Senhor Albert Munck vai ter um papel importante com a inauguração da sua primeira fábrica, em 1957, em Cotia.

Não podemos esquecer que o chefe do governo brasileiro deste período é o Presidente Juscelino Kubitschek, que coloca em prática a política desenvolvimentista dos “50 anos em 5 anos”, ou seja, o Brasil deveria crescer em cinco anos o equivalente a cinquenta anos com seu plano de governo. O pai do jovem Albert, o senhor Sverre Munck, de olho no mercado mundial, enviou o filho ao Brasil, e a empresa que nascera em 1924 na Noruega, com 1500 dólares, durante duas décadas prosperará e abrirá três empresas com tecnologia de ponta, em Cotia. Os fatores que vão contribuir para este investimento no Brasil e não em outros países da América Latina, são a instabilidade política destes países e a mão de obra brasileira em conta, em relação a outros países do mundo.




O Senhor Albert Munck tinha uma visão incomum em relação a outros empresários. Um problema que ele iria enfrentar era a falta de mão de obra qualificada e, por isso, a Munck abriu em Cotia uma escola profissionalizante que deveria servir a empresa e atender a demanda de outras empresas do setor que vão se implantar na região. Sem dúvida alguma o senhor Tore Albert Munck contribuiu para o desenvolvimento industrial da cidade e da educação. Na escola o Senhor Munck também instalou uma excelente biblioteca. 

In memoriam:
Fica aqui registrada uma singela homenagem ao professor Mário Jordão Kuester, que pertenceu ao quadro de funcionários da Munck, e que gostaria de ver esta história contada.


- Arquivo pessoal do Senhor Fábio Kuester
- Revista Banas nº 121, 13 de dezembro de 1971 
  * O título desse artigo foi retirado de um outro, publicado nessa edição da Revista.
 - Revista Banas 12 de maio de 1975


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 26 de março de 2012

CRONIQUINHAS COTIANAS



O CASAMENTO

COISAS DE ALEX GAILEY & ADRIANE ZANDER GAILEY...

Outro dia fui convidado para ser padrinho de casamento e aceitei de pronto, pois o casal em questão já tinha quase uma vida juntos e três filhos maravilhosos, além de serem meus amigos, claro. A convivência deles me deixou tranquilo, pois já tinha sido padrinho de outros casamentos, que com o tempo terminaram, deixando tristeza em todos. Mas esta renovação de votos com certeza vai durar muito ainda, muito mais do que as quase duas décadas em que Alex e Adriane já teceram suas histórias. Isso transparece no semblante do casal, em cada olhar, em cada toque. Os olhos dos filhos brilhavam a cada etapa do simbolismo da cerimônia. Mas tinha alguma coisa diferente ali...


  Foto: Luciana Klein

Sim! Havia aquelas coisas normais de casamento como atrasos, todos ansiosos com a chegada dos noivos, o pessimista de sempre no meio de toda a agitação, que sussurra: “Será que o noivo vai aparecer?” Ou: “Será que a noiva vem mesmo?” A música anuncia a chegada triunfal da noiva e estranhamente ouve-se lá fora um barulho ensurdecedor, como se fosse de uma motosserra (barulho comum ultimamente aqui na cidade), e na confusão que se seguiu entra o noivo de moto, rompendo o espaço pelo templo até o altar. Com muita emoção os convidados o seguem com os olhos e ele desce da moto como um guerreiro celta, de kilt branco, homenageando a sua origem familiar. Foi o melhor casamento do qual participei! QUE SEJAM FELIZES PARA SEMPRE!

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 12 de março de 2012

AMPLIAÇÃO DA RAPOSO TAVARES: UMA SOLUÇÃO PALIATIVA



O espaço não pode ser estudado como se os objetos materiais que formam a paisagem trouxessem neles mesmos sua própria explicação. Isto seria adotar uma metodologia puramente formal, espacista, ignorando que ocasionaram as formas. Como analisar esta relação entre a estrutura e a forma, a sociedade e a paisagem? (Santos, Milton. Pensando o espaço do homem. Ed EDUSP, 2004, p. 58)

Não é de hoje que a ampliação da Raposo Tavares faz parte do imaginário dos antigos moradores, sempre associada à ideia de desenvolvimento e progresso. Com um processo ainda tímido de urbanização na década de cinquenta, que se acentua no final de 60, as conversas e brincadeiras sobre a rodovia eram de que muitos moradores partiriam para o outro lado da vida e a tal ampliação não aconteceria. Ela chegou no início de dois mil e a metonímia “a Raposo está parada” é quase todos os dias entoada por moradores antigos e novos da cidade, que vivem o stress do congestionamento quase diário da antiga rodovia São Paulo-Paraná. 

Se a ampliação da rodovia não for pensada e planejada considerando a complexidade que a envolve, de nada adiantará qualquer tipo de intervenção neste trecho da estrada que corta Cotia. Tempos depois, iremos novamente ouvir os lamentos de que “a Raposo” está parada. O poeta e arquiteto Mário Luiz Savioli, em seu livro[1] aborda a rodovia Raposo Tavares como a espinha dorsal que permeou e permeia o desenvolvimento da cidade. O livro é uma referência de informação e dados estatísticos e históricos que balizam uma discussão sóbria sobre uma possível ampliação da rodovia, considerando que ela está encravada na região metropolitana de São Paulo. A ampliação deve levar em conta a Raposo e Cotia, a metrópole e as cidades circunvizinhas. Sem isso é chover no molhado.

Ora, precisamos antes olhar para o próprio umbigo. É primordial colocar o Plano Diretor[2] da cidade em ação, inclusive para que possamos cobrar qualquer intervenção efetiva do estado ou da federação na ampliação da estrada. É preciso fazer a lição de casa também. E ai a participação da sociedade civil organizada é importante e o envolvimento da Câmara Municipal e do poder executivo é fundamental. A cidade de São Paulo já vem desde o final da década de oitenta colocando em prática restrições à circulação de caminhões no centro, que foi se expandindo com o tempo, com o rodízio de carros e outras ações. Mas os congestionamentos aumentam a cada dia e o caos está instalado. Não há dúvida de que o investimento em transporte público é uma das melhores saídas. 

Há um tempo atrás, dizer em tom de brincadeira que um dia o Metro chegaria a Cotia era motivo de muita chacota, hoje é visto como coisa séria e possível. Se não for o Metro será algo como um transporte de superfície. E a melhoria do transporte público interno é urgente, aproveitando melhor o transporte alternativo. A cidade não vive mais sem ele, mas precisa ser melhor regulamentado e fiscalizado, como se deve também fiscalizar acentuadamente a empresa oficial de transporte da cidade, que deixa seus serviços a desejar. Assim, com o pé no chão e cheios de esperança, podemos dar os primeiros passos para um trânsito melhor na Raposo Tavares. Quem sabe um dia possamos deixar o carro em casa e usar este transporte público com decência. Enquanto isso, só nos resta reclamar!


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez



[1] SAVIOLI, Mário Luiz. A cidade e a estrada – As transformações urbanas do Município de Cotia ao longo da Raposo Tavares. Ed. Edicon.

[2] Observação: plano que prevê o desenvolvimento global da cidade.

quinta-feira, 8 de março de 2012

CRONIQUINHAS COTIANAS



A VIDA COMO ELA É...

Outro dia levei uma visita para conhecer a Igreja Matriz de Cotia, dedicada a Nossa Senhora do Mont Serrat. Enquanto palestrava sobre a importância desse patrimônio histórico da cidade, fundada em 1713 nas terras do senhor Estevam Lopes de Camargo, uma senhora me espiava para cada canto da nave que eu ia. Naquele momento várias pessoas rezavam com fervor, cada uma com seu pedido. A senhora finalmente me abordou. Tinha os olhos verdes, tristes, e o rosto marcado pelo tempo. Pensei: “- Será que vai me pedir algo que não posso oferecer?”. Antes mesmo que terminasse o pensamento o pedido de socorro saiu dos lábios já cansados de contar o mesmo drama: “Tenho um filho de dez anos, usuário... chegamos da Bahia há um ano... ele sai no início da noite e só volta de madrugada. O senhor pode me ajudar?”... A vida...


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

domingo, 4 de março de 2012

PINHEIRINHO AINDA EXISTE!



Logo que houve a desocupação dos moradores do Pinheirinho em São José dos Campos, escrevi uma pequena nota de indignação com a forma tão agressiva que se deu o fato. Resolvi guardar o que escrevi, pois os números das informações no calor do momento poderiam estar mostrando algo que não fosse verdadeiro. Passado pouco tempo do ocorrido as manchetes da mídia desapareceram e deram lugar a outras notícias, afinal o índice do ibope fala mais alto que a vida.  A imprensa, no geral, tratou o assunto com superficialidade, deixando a ideia que ali estavam sendo desalojados um bando de desocupados e marginais. Mas a história não é bem assim.

Quando alguém resolveu perguntar de quem era a responsabilidade da ação desumana praticada ali, imediatamente houve a partidarização. O governo federal culpou o estadual e o estadual culpou o federal, de olho nas eleições municipais. Enquanto isso, famílias inteiras ficaram perambulando com suas crianças, como zumbis, pela cidade. Outra pergunta foi feita em meio à pancadaria instaurada: “- Há quando tempo existe o Pinheirinho?” Deu nó na garganta de muita gente, mas a resposta apareceu. Uma década! Com certeza algum candidato a um cargo no poder legislativo ou executivo vendeu o sonho da casa própria para essa gente. Será? Isto também já ocorreu em Cotia. Desatando o nó, uma única pergunta: em 10 anos de Pinheirinho nada foi feito, nenhuma obra pública? Nenhuma. Com a iminência da desocupação durante esses anos todos, nenhuma ação prática dos órgãos públicos foi realizada. Alguém tem que segurar essa batata quente e pode ser o povo, que mais uma vez foi excluído.

A cobertura da imprensa foi lamentável. Valorizando só o espetáculo, ora mostrava o lugar como só de marginais, ora de drogaditos associados ao tráfico e ora de desocupados e de partidários radicais prontos para enfrentar a polícia. Imaginem quem está em casa diante da televisão vendo e ouvindo estas imagens e falas? Alguns artigos absurdos “informaram” que a desocupação fez aumentar o número de roubos e furtos na cidade, sem nenhum dado de comparação, sem nenhuma investigação. Para quem observava de fora, parecia que São José tinha se tornado uma babilônia. Apesar do Pinheirinho ter saído do noticiário ele existe e está recheado de gente que tem história de vida e que está precisando da sua solidariedade.

No Facebook conheci a Carmen Sampaio, que vem realizando um trabalho com muitas outras pessoas no sentido de construir o que foi desconstruido. Cada um de nós pode ajudar com móveis e carinho, por exemplo. No “Face” tem a página “Pinheirinho Existe” e também há o blog “Somos Todos do Amor”, onde está uma lista das necessidades mais urgentes das pessoas.

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

sábado, 3 de março de 2012

CRONIQUINHAS COTIANAS


 
Terça-feira de manhã é dia de feira livre no Bairro do Portão

A feira do Portão há alguns anos atrás era comprida de perder de vista e agora cabe na palma da mão... mas continua com aquele ar saudoso de feira de interior. Todo mundo se conhece:

— Oi, D. Maria!

— Como está a Zezinha do Diogo?... Olha ela...

Aí a conversa emenda com a outra e se perde no tempo. Nessa bucólica feira das terças, a única garantia que a gente tem é que o peixe é o melhor da cidade e o atendimento é ainda melhor. O anúncio de que a feira está montada e funcionando é quando o cheiro do pastel do japonês bate aqui na janela de casa.

— Vamos? Sacolas recicladas na mão e já pra feira do Portão!

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez
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terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

CRONIQUINHAS COTIANAS



CUIDADO COM AS SAIDINHAS!


SAIDINHA DE BANCO

Cotia, 27/02/2012.

Um carro branco parado em frente à porta do Banco Itaú, com dois indivíduos à espreita, à espera de uma vítima sair. Não demora e a porta giratória coloca pra fora do banco uma senhora pequena, com um pacote na mão, supostamente dinheiro, desprotegida. A porta do carro abre bruscamente e um dos indivíduos dá o bote. A senhora leva um chaqualhão e uns tabefes e vai ao chão. O agressor, em posse do envelope, começa a correr e se depara com um policial. Um tiro. A bala passa entre os transeuntes e ninguém sabe aonde foi parar. O homem se joga no chão e é algemado pelos policiais. O outro indivíduo foge com o carro. Alguém grita “A casa caiu!”

 A rotina dos transeuntes entra novamente na normalidade.



SAIDINHA DO SUPERMERCADO

Cotia, 28/02/2012.

Foi diferente nessa data. À porta do Atacadão Munhoz vê-se um corpo estendido no chão e uma mãe atônita com um bebê no colo.

A rotina do dia-a-dia continua...

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

UM PASSEIO PELA HISTÓRIA DO SEU LUGAR



Durante o tempo que lecionei, tinha dificuldade de vincular um tema abrangente e que era exigido no currículo do ensino de História, com o cotidiano do aluno. O motivo desta dificuldade muitas vezes se dava por eu próprio não ter vínculo com o lugar onde lecionava, ou por falta de material de pesquisa, e também pela obrigatoriedade de seguir o famigerado conteúdo escolar. Na medida em que vamos amadurecendo profissionalmente, percebemos que podemos arriscar outras formas de ensinar que não sejam tão convencionais, sem deixar de ensinar para os alunos o conteúdo exigido.

Vou usar como referencial neste artigo a cidade de Cotia, onde desenvolvi um trabalho em sala de aula para cativar e trazer o aluno para o ensino de História, partindo do seu lugar para chegar aos temas gerais da História. Esta experiência pode ser também a da sua cidade, de qualquer lugar do mundo. Vamos lá!

Antes de iniciarmos a conversa quero convidá-los a conhecer o blog e os sites a seguir:




O blog tem como objetivo resgatar a memória e a história da cidade de Cotia. Lá encontram-se textos que apresentam momentos diferentes da História do Brasil e que estão intrinsecamente ligados à cidade. O primeiro texto que vamos esmiuçar e discutir tem a Rodovia Raposo Tavares como eixo central, de onde fiz um passeio por três momentos diferentes da História. A primeira parada foi no século XVIII, com a formação do segundo núcleo de moradores da cidade. Depois no século XIX, com o surgimento da ferrovia que quase fez Cotia desaparecer do mapa, e o crescimento atual, no final do século XX e começo do século XXI.

Escolhi começar este projeto de trabalho com a economia cafeeira e a construção da ferrovia para escoar o café produzido em São Paulo. Mas o que estimulava muito este trabalho era a visita e o passeio a Paranapiacaba e a ferrovia em Campinas, que todos podem visitar ainda hoje. A pergunta provocadora era: “– Por que Cotia quase desapareceu com o surgimento da ferrovia?” Dessa forma continuei ensinando o conteúdo mais abrangente, interagindo com o cotidiano do aluno. Com a origem da cidade no século XVIII, em pleno período colonial, escolhi o tema escravidão e o discutimos em várias sociedades, até no Egito Antigo, e as várias formas de escravidão nos dias de hoje.

O aniversário da emancipação política de Cotia é no dia dois de abril e é ainda possível fazer este trabalho com outros textos de períodos diferentes da cidade, interagindo com outros da História do país e do mundo.

Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SEM CONTEÚDO


Toda semana escrevo um texto sobre assuntos da minha experiência profissional, às vezes atendo às sugestões de amigos, ou ainda me inspiro em temas que surgem em alguma conversa. Nesta semana resolvi escrever sobre coisa alguma: nada de política, cultura, economia e, principalmente, sobre educação e memória. Esta atitude não é de revolta e nem de inquietação. Simplesmente não quero escrever nada, a não ser o que estou escrevendo agora, neste momento. Por quê tenho que escrever sobre algum assunto? Muitas vezes fico com insônia, pensando sobre o tema que vou desenvolver, como irei atingir o leitor. Penso comigo: “– Será que vou agradar ou desagradar? Será que vou informar ou vou apenas escrever algo do censo comum?”

Imagine um dia em que a gente acorda e não lembra nada do passado e não consegue pensar no que poderia ser o depois. Como se estivesse preso em um compartimento de onde só conseguisse ver o agora. Imaginou? Sem assunto, sem história para contar, sem sonhar ou projetar o futuro. Como uma folha em branco para ser escrita ou reescrita...

Nesta semana não quero escrever nem sobre o carnaval. A sensação é como se estivesse dentro de uma caverna, como aquela do mito de Platão, com a diferença de que lá o homem estava livre para se movimentar.

Como é desagradável ter que escrever quando não se está com vontade de escrever! Ou de ter que fazer qualquer outra coisa sem vontade, sem inspiração. É como se tornar prisioneiro em si próprio, vivendo o conflito entre o dever e o não poder. Tive um conhecido que ficou preso por quase uma década. Ele me dizia que, quando saia da cadeia para ir até o fórum da cidade, ele sentia através das pernas dos transeuntes a sensação de liberdade – ele conseguia ver as pernas das pessoas e ouvir o burburinho através da fresta do chiqueirinho do camburão. Deve ter sido uma loucura e uma experiência única. Nesta semana, então, sem tema, sem assunto e sem conversa. Só o carnaval. Escrever alguma coisa, só na semana depois da folia.

Bem... pensando melhor, não é que saiu alguma coisa interessante?


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

EDUCAÇÃO É COISA SÉRIA



UMA SENHORA BRASILEIRA EM SEU LAR

“O sistema dos governadores europeus, que tendia constantemente a manter, nas colônias portuguesas, a população brasileira privada de conhecimentos e isolada na escravidão dos hábitos rotineiros, limitara a educação das mulheres aos simples cuidados do lar; assim, por ocasião de nossa chegada ao Rio de Janeiro, a timidez, resultante da falta de educação, fazia as mulheres temerem as reuniões um pouco numerosas, e mais ainda qualquer espécie de comunicação com estrangeiros.”(*)

Podemos começar esse artigo com uma pergunta: por que os resultados práticos  da educação no Brasil são tão lentos? Como isso acontece, se a educação tem verba garantida pela Constituição e recebe 25% do orçamento do município e 15% do FUNDEB? E mais: do total deste dinheiro 60% são destinados ao pagamento do salário dos professores. Onde está o problema? A ideia de que não existe investimento em educação não é totalmente verdadeira e reafirmo que, o que falta, são projetos com começo, meio e fim, acompanhados de uma boa dose de vontade política.

Para entender como funciona a educação é preciso conhecer como funciona a organização administrativa de uma Secretaria de Educação. A Secretaria, que detém uma parte significativa do orçamento, não administra o dinheiro e, sendo assim, como é possível elaborar um projeto de educação sem controle e visão de quanto pode ser investido nos projetos? Esta fala, de uma secretária de educação da Bahia, resume a dificuldade de colocar em prática qualquer tipo de projeto. Diz ela: “quando eu peço para alguém comprar  uma caixa de lápis e ela não é comprada, o comprador não sabe que um lápis pode segurar uma lousa, ele também não sabe o que é educação." É urgente que o dinheiro da educação seja administrado pelas secretarias de educação.

Esta fragmentação das secretarias abre brecha para o fisiologismo político e tudo funciona no mundo do faz de conta, do trivial. Outro absurdo é a construção de escolas fora do âmbito da secretaria, sem que seja discutido com o grupo pedagógico e com os educadores como deve ser erguido um prédio, que tem de atender aos anseios do projeto pedagógico da secretaria, da unidade escolar. O investimento não chega na carteira do aluno. Esta estrutura induz a que os conselhos de controle do dinheiro da educação façam de conta que fiscalizam e, em muitos casos, virem trampolim político ou cabide de emprego. É preciso mudar esta situação.

Nem tudo está perdido, há exceções. O Plano Nacional de Educação já discute e propõe que o dinheiro da educação seja  ministrado pelas secretarias de educação. Temos escolas no país que estão muito além dos índices de metas estabelecidos pelo governo, por fazerem a tarefa de casa. A maneira antiga de organizar uma secretaria abre a possibilidade de atitudes despóticas, e a resposta para tal comportamento é a autonomia, que tem de ser levada às últimas consequências.  A escola tem que ser dona do processo de construção do seu projeto pedagógico. Quantos projetos para área da educação assistimos a ser implantados, jogados pela goela abaixo dos profissionais e que sabemos que são fadados ao fracasso? Mas ainda há luz no fim do túnel.

(*) Jean Baptiste Debret - Rio de Janeiro, cidade mestiça, nascimento da imagem de uma nação

Ed. Companhias das Letras


Professor Marcos Roberto Bueno Martinez