Dizem os moradores antigos de Cotia que
existia uma brincadeira que faziam com Nhô Nhô e que reforça sua imagem de
pessoa lendária. Qualquer objeto que quebrasse poderia ser levado na casa do
Nhô Nhô, que ele consertaria. Este fato tornou-se motivo de gozação: quando
alguém quebrava algum objeto, ou ficasse doente, sempre tinha alguém que dizia,
com o sorriso aberto, manda para o Nhô Nhô que ele dá um jeito. A ele
foram atribuídas várias habilidades: além de casamenteiro, Nhô Nhô também
consertava dentadura, lâmpada queimada e, de lambuja, aplicava injeção.
A Theodomiro também foram atribuídos poderes
sobrenaturais. Um certo dia, em frente à Igreja Matriz de Cotia, quebrou um
caminhão fordinho, que passou ali o dia todo. No final da tarde, Nhô Nhô
vinha subindo a rua Senador Feijó em passos lentos e passou pelo grupo de
pessoas que tentava consertar o caminhão, sem muito sucesso. Alguém que estava
ali labutando para fazer o fordinho funcionar, gritou para Nhô Nhô, que
já estava um pouco distante do caminhão: “Nhô Nhô, o que o senhor acha que tem
esse caminhão?”. Meio de lado e ainda caminhado ele respondeu: “Coloque água no
carburador”. Passivamente, o suposto mecânico seguiu o conselho: o caminhão
funcionou e pôde seguir viagem. Bravo!
Dona Maria recorda que, às vezes, acompanhava
seu pai até o auditório da Rádio Difusora para assistir ao programa “Hora da
Saudade”, comandado pelo famoso locutor da época Dr. Dárcio Ferreira. Nesse
programa, Nhô Nhô conheceu o músico Fego Camargo, pai da apresentadora de
televisão Hebe Camargo. Às vezes, Nhô Nhô recebia o amigo em casa para comporem
valsinhas e conversarem sobre música; muitas vezes, Fego ia visitá-los para
buscar uma bebida de gosto doce com o nome de pau-a-pique. Receita:
Pinga
Açúcar
Canela
Gengibre
Rodas de Limão
Pó de Cravo
Anilina (a cor que você desejar)
Aparecida do Rosário Magalhães encontrou
numa caixa de sapato, várias partituras de valsinhas e letras que confirmam a
musicalidade de seu pai. Nhô Nhô fez 52 valsinhas. Abaixo um pedaço da
partitura da valsa Uma Noite em Cotia. Além das partituras, encontramos
uma folha de papel com trechos de duas valsinhas. Nenhuma tem título, mas vale
a pena conhecê-las.
(valsinha 1)
Já fui alegre e contente
Hoje eu não sou ninguém
Já consolei muitos tristes
Hoje sou triste também
Que viver triste no mundo
Venha juntar-se comigo
Venha passar como eu passo
Venha viver como eu vivo
Dos meus olhos correm lágrimas
Os passarinhos reclamam
Por não poder se ajuntar
Dois corações que se amam
(valsinha 2)
Parece que é cedo e muito cedo
A minha, em breve findarei
Eu só peço que não vertas uma lágrima
Todo aquela que amizade eu dediquei
Nem tu mesmo oh mulher que eu prometi
De adorar-te como os anjos adoram a Deus
Mesmo assim deixo a todas um abraço
Toda aquela que amizade eu dediquei
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