Na pesquisa realizada pelo padre Daniel Balzan sobre a Igreja Nossa
Senhora do Monte Serrat, verifica-se a força da religiosidade e da
influência das Irmandades na sociedade cotidiana do século XVIII. Registra o
padre Daniel: “Cada uma das Irmandades, a de Nossa Senhora dos Pretos, a de
Nossa Senhora da Conceição e a do Santíssimo Sacramento, tinham sepulturas
próprias. Os irmãos falecidos eram sepultados com o hábito da própria
irmandade, ou simplesmente enrolados em panos brancos e enterrados numas das
sepulturas, na presença dos demais irmãos”.
Quase dois séculos depois, ainda é forte essa
religiosidade em Cotia. A memória de moradores antigos e as fotografias revelam
a vida social da cidade intensamente ligada à religião. Nas décadas de 40, 50 e
60, as procissões ditavam o comportamento cultural dos moradores de
Cotia e região, logicamente, com características bem diferentes daquelas do
período colonial. Antonia Luisa Moraes Barreto, conhecida pelo apelido de dona
Juju, conta que seu pai, Antônio Benedito de Moraes, escrivão da paz, tabelião
e devoto de Santo Antônio, encomendou a um carpinteiro que fizesse uma charola
– o mesmo que andor – caprichada para demonstrar a sua devoção ao santo.
Dona Juju, com 81 anos durante a entrevista, lembra de uma crença que
era singular nas procissões em Cotia: a charola de São Benedito não
podia sair nem no meio nem no fim da procissão, tinha que ser o “abre alas”. Se
o santo não saísse na frente, com certeza choveria. Outro relato interessante
dela é sobre a ornamentação do andor. Ao prepará-lo, ela conta que gostava
muito de usar flores naturais e ressalta que as roupas de quem carregava o
andor tinham de ser da mesma cor dos arranjos das flores. “O Ditão, que era quem
organizava a procissão, era profundamente perfeccionista” – disse ela.
A procissão mobilizava muita gente. O percurso iniciava-se na rua
Senador Feijó, entrando na rua Joaquim Horácio Pedroso, passando pelas ruas
Lopes de Camargo e Dez de Janeiro, até à praça Padre Seixas; entrava novamente
na rua Senador Feijó e terminava na frente da igreja. Segundo Oscarlina Pedroso
Victor, cada irmandade representa um segmento da comunidade. A Irmandade
Cruzada Eucarística era representada por crianças que usavam uma fita
amarela, que identificava seu grau de religiosidade. A Pia União das Filhas
da Maria representava as moças, que ficavam nessa irmandade dos 15 anos até
o casamento. A fita usada era de cor verde. A Irmandade de São José era
composta por homens e mulheres. A de São Benedito e do Santíssimo
Sacramento eram compostas apenas por homens. Os irmãos de São Benedito
usavam uma indumentária branca com capa preta, chamada opa, e os irmãos do
Santíssimo usavam outra, vermelha. Na Irmandade Nossa Senhora das Dores
a fita era roxa. Na Coração de Jesus era vermelha e na Congregação
Mariana, era azul. Esta ultima era composta por moços e seus dirigentes
tinham estrelas de metal em suas fitas. Outro detalhe interessante: as roupas
dos carregadores de andor eram todas iguais e da mesma cor.
Seu trabalho é maravilhoso, e de muito valor.
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