Esta
semana acompanhei minha mãe para realizar um exame de cateterismo e fui
surpreendido com a orientação da enfermeira Emília. Calmamente, ela foi
explicando os cuidados que deveriam ser tomados após a realização do exame.Durante
as orientações, olhou para minha mãe e com firmeza e voz mansa disse: “D. Cida,
até agora a senhora serviu! Agora a senhora vai ter que apreender a ser
servida. Aprenda a receber. Temos que deixar alguns caprichos de lado que
adquirimos durante a vida e nos colocarmos à disposição de quem está disposto a
cuidar da gente”. Achei isso de uma delicadeza e sensibilidade muito grande.Saí
do hospital flutuando nas nuvens. Ainda existe gente boa neste mundo de meu
Deus.
Lúcia,
a outra enfermeira,tinha todo cuidado com minha mãe ao subir e descer da cama e
em todo momento era carinhosa. É gente que sabe da importância da sua profissão
e dedica-se de corpo e alma. A cada palavra elas iam deixando claro o quando é
importante se cuidar e ser cuidada. Tudo dito no sentido de valorizar a vida. Saí
do Hospital do Servidor Público pensando como impedimos, até inconscientemente,
que cuidam da gente quando estamos fragilizados com algum tipo de doença. Emília
e Lúcia cuidaram da alma do paciente. Tocaram na alma do paciente. Mostraram-se
profissionais preparadas para exercer seu trabalho com dignidade.
Muitas
vezes estamos à disposição de amigos e dos filhos e fechamos as portas quando
precisamos de um cuidado, um afago. Por quê? Orgulho? Medo de que entrem no
mundo de defesa que criamos? Que descubram o quando somos frágeis? Caprichos! Invocamos
com a luz acesa. Invocamos com o barulho das crianças. Invocamos com o pingar
da água que cai da torneira semiaberta. Invocamos com quase tudo. Descobrimos
que não podemos caminhar com desenvoltura como antes. Descobrimos que as mãos
não alcançam o copo para beber água como antes. Descobrimos que não somos os mesmos
de antes. Talvez aí a reclusão. O ficar sozinho. Ora, não devemos ficar com
vergonha das nossas limitações, mas criar outras opções para essa nova vida. Como
uma mão amiga ajuda!
Sabe
de outra coisa: não precisamos ser cristãos para nos apresentarmos como bonzinhos
(é uma grande moda atualmente.). Podemos ser humanos em nossas atitudes diante
daqueles fragilizados. Se quisermos aprimorar coisas boas não é difícil. Expelir
coisa ruim é muito difícil. Possível! Essas profissionais souberam separar suas
dores pessoais para se colocarem à disposição para cuidar da dor dos outros.
São profissionais que ganham mal e muitas vezes trabalham em situações
insólitas, mas estão ali, de pé e com orgulho do que fazem.
Fique
à disposição para receber o bem.
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