Lógico
que o slogande chamada da Rádio Eco
não era esse do título do texto. Abríamos o programa orgulhosamente dizendo com
voz firme e aveludada: Rádio Eco FM 91.7, a primeira Comunitária do Brasil (não
me lembro muito bem se era Cotia ou Brasil). Talvez a cena mais trágica e que, depois
do acontecido, se tornou engraçada foi quando a Polícia Federal fechou a
emissora. Mantínhamos uma vigilância diária para evitar que fôssemos pegos de
surpresa pela Polícia Federal. Infelizmente, fomos pegos de calças curtas.
No
dia do fechamento das atividades radiofônicas da Eco, o transmissor tinha
queimado. O irmão do Josué tinha ido buscar o transmissor para consertar no
esconderijo que ficava no próprio prédio e um segundo de bobeira relaxamos a
atenção com a segurança. Um piscar de olhos e a Federal nos pegou de calças
curtas com o Rabibi (irmão do Josué) com o transmissor nos braços que íamos
consertar. Lembro-me que o agente disse com um sorriso no rosto: - foi isso que
viemos buscar. Puta que pariu!
A
casa caiu.
Dias
depois, o sinal da Eco estava no ar de novo,clandestinamente. Bastava ter
vontade de fazer um programa e o espaço estava à disposição. Não precisava ter
boa dicção e nem beleza para ser locutor. Bastava ter uma ideia de programa e
colocar em prática. Até um gago chegou a fazer um programa. Gagueira essa nunca
percebida. Essa atitude de respeitar e não querer um padrão de voz e beleza fez
da Eco uma emissora popular no município e na região. A grade de programação
tinha programas para todos os gostos. Era muito bom!
Ali
na Eco aconteciam coisas inusitadas e malucas. Tínhamos uma ouvinte que, de
madrugada, não desligava o Rádio e a justificativa era de que a programação não
a deixava sozinha. Mesmo sem programação o chiado do rádio preenchia sua
solidão. No final do ano, a emissora fazia do Natal solidário um sucesso.
Campanhas educativas... Era uma porta aberta para a comunidade e seus anseios.
Fazíamos
debates e discussões sobre temas diversificados. Debates com candidatos a
prefeito e participação de ouvintes. Tocávamos de tudo, do brega ao rock. Tínhamos programa representando
quase todas as religiões. A grade de programação era rica e diversa. Hoje, fico
imaginando como aquilo funcionava tão bem. Era algo anárquico. O Cícero e o
Josué eram anárquicos também. Eles que trouxeram a rádio para cá.
A
cobertura das eleições de 1996 foi algo nunca visto na cidade. Até a grande
mídia ligava para a Eco para obter informações de como andava a eleição no
município. Quase todos os locutores foram para a rua acompanhar a eleição.
Tinha a turma que fazia humor aqueles que faziam entrevista na rua, ao vivo.
Debates no Estúdio sobre as necessidades da cidade e o que esperar dos
candidatos. Muito bom!
Fazíamos
política descaradamente para legalização das rádios comunitárias.
As grandes empresas de comunicação jogavam pesado contra as comunitárias,
criando notícias descabidas de que as piratas davam interferência em aviões,
afirmação nunca provada. E outras mentiras.
Uma
coisa bacana de tudo isso foi que a Eco deu voz para que gente simples pudesse falar
e colocar seus projetos em prática.
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