Venha compartilhar um pouco do trabalho que realizo como historiador e professor da cidade de Cotia. Mergulhe no passado das pessoas que construiram este lugar, recorde fatos marcantes que deram identidade cultural a esta cidade.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

PAULO BAFILE: ACOTY TOUR



Dia dois de abril Cotia faz aniversário, e saudosamente decidi revisitar    alguns textos que tratam deste tema. Ao manusear o acervo de que disponho, encontrei um trabalho de pesquisa sobre a cidade, escrito pelo médico Paulo Bafile. É um trabalho diferente e envolvente, que mistura a linguagem da poesia com informações sobre a história da cidade. Além  disto, o autor acrescentou uma pitada de humor, utilizando a imaginação e lendas populares do local. Fica a gostosa dúvida do que é real ou fantasia. Temos aí um vasto material para fazemos uma boa reflexão sobre a cidade.   

Terceira parada: o nome da cidade.

O CASO DA COTIA QUE COMEU A MESA

Minha mãe me contava um caso antigo, do tempo em que era menina, no Acre. Um dia trouxeram para casa um filhote de cotia, pego no mato. Minha avó pôs a cotia para criar, e ela deu de roer tudo. Uma vez roeu o pé da mesa onde se comia, e a mesa ficou pensa. Aí minha avó se encheu, matou a cotia e comeram a cotia no almoço, sobre a mesma mesa que ela roera.





Sexta parada: a ruína do mandu.

LADAINHA DOS FANTASMAS DO SÍTIO MANDU

Aqui temos:
Vasta casa, altíssimo pé direito,
Confortável salão, elegante telhado,
Espessíssimas  paredes, notável traçado,
Fartos mandiocais, incontáveis pés de milho,
Filhos aos montes, dilatada fé em Deus,
Sossegadíssima vida, sólida fortuna,
delicada capela, forte tradição,
luminosa colina, cantante  riacho,
alvíssima farinha, magérrimos cães,
refrescantes coitos, luxuriosa vegetação,
deliciosa aguardente, trançadíssimos balaios,
longas tropas de burros, tilintantes cincerros,
suaves  sinos à tarde, mocinhas analfabetas,
mocinhos que cospem longe, casamentos arranjados,
anjinhos de procissão, anjinhos em seu caixão,
parteiras experientes, dulcíssimos doces,
cavalos bem arreados, pasmaceira da fazenda,
ponteiros de violeiros, brancos, negros e mulatos,
notícias vagas da corte, estampidos de espingarda,
bicho caçado de noite, peixe pescado de hoje,
doenças só incuráveis, benzeções de maus-olhados,
recatadíssimas virgens, fechadíssimas famílias,
pé de rosa no jardim.

Aqui dizemos:
                                               Ó Senhor, vos digo que
                                               A casa já desfalece.
                                               Mas o que era de si,
                                               Em nós outros, permanece.


Sétima parada: os nomes das ruas.

Perto do centro estão os nomes dos defuntos ilustres
Da vila de Cotia.
Depois, onde outrora foram as fazendas, as minas
d’água, as plantações, ficam os novos loteamentos.
Foi tudo muito rápido. Não havia defuntos suficientes
Para nomear tantas novas ruas.
Aí valeu a imaginação.
Há uma poesia moderna e misteriosa,
Ainda por ser decifrada, nestes nomes.

AS RUAS  DA CIDADE NOVA SÃO....

cidades de Espanha,
cidades da Bahia,
autódromos da fórmula
cinemas da capital,
pedras preciosas,
atores de televisão
imperadores romanos
monumentos da antiguidade,
famílias árabes,
indústrias do município,
cantores da música popular,
formas poéticas,
times de futebol,
escolas de samba,
estados americanos,
signos do Zodíaco,
frutos do mar,
deuses gregos,
batalhas da guerra do Paraguai,
e
muitos índios,
muitas mulheres,
muitos santos,
muitas flores,
muitas árvores,
muitos bichos
Experimente perguntar por quê.......


Prof . Marcos Roberto Bueno Martinez



*“Roteiro Poético absolutamente Pessoal e sem Mapa para a Cidade de Cotia” Autor Paulo Bafile. Publicação 1995.


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